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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, dezembro 13, 2014

Jô fez muito mais que defender a “biografia impecável” de Zé Dirceu

Ele está certo ao recomendar cuidado com o que você lê na imprensa
Ele está certo ao recomendar cuidado com o que você lê na imprensa
Deu a louca no Jô?
Nos últimos programas, ele tem dito coisas que não estão no roteiro do pessoal da Globo.
A última delas foi uma defesa da “biografia impecável” de Dirceu perante um pelotão de velhas senhoras furiosas.
Não vejo Jô, e para ser sincero não me interessa a razão pela qual ele tem saído do trilho da Globo.
Mas vi um vídeo de pouco mais de um minuto em que ele falou de Dirceu.
O que mais me chamou a atenção ali foi uma frase de Jô simples, banal, ordinária – mas ignorada por supostos sábios do país.
Jô disse mais ou menos o seguinte: “O sujeito vê uma notícia num jornal e já sai fazendo julgamento.”
Como dizia Danusa, per-fei-to.
Lembro de um celebrado voto, no Mensação, em que o magnífico juiz começava assim: “Não se passa um dia sem que a gente abra os jornais e encontre um escândalo.”
O juiz mostrou ser um mentecapto. Porque, sabemos todos, jornais mentem, jornais inventam escândalos, jornais fazem o diabo para liquidar seus inimigos.
Claro: não apenas jornais. Mas também revistas, rádios, telejornais.
Ou você lê com cuidado e senso de crítica a mídia ou você vira um revoltado online, ou um Lobão, e vai para Brasília lutar por coisas das quais não faz a mais remota ideia, como a emenda fiscal.
Não é de hoje esse comportamento da imprensa. Mas ele se exacerbou desde que o PT subiu ao poder. Aconteceu antes com Getúlio, na década de 50, e com Jango, nos anos 60.
Todo dia, sob Getúlio e Jango, você abria os jornais e encontrava escândalos. Lacerda consagrou a expressão “mar de lama”, contra Getúlio.
O tempo mostraria que grande parte da lama era inventada para sabotar governos com foco nos mais pobres.
Como por milagre, quando está no poder um amigo dos donos da mídia, a lama desaparece. O país parece que recebeu um fabuloso banho de Omo.
Aquele juiz que usou os escândalos noticiados pelos jornais em seu voto no Mensalão ficaria satisfeito, em sua ingenuidade boçal, ao ver que somos mais limpos eticamente que a Escandinávia.
Enquanto isso, a rapinagem grassaria sob sua toga monumental sem que ele tivesse ciência.
Felizmente, para a sociedade, surgiu a internet para colocar fim, na prática, ao monopólio das grandes empresas jornalísticas.
Nem Getúlio e nem Jango contaram com um contraponto ao massacre da imprensa. Visionário, Getúlio criou a Última Hora, e a entregou ao grande Samuel Wainer, mas era um jornal numa multidão de outros dedicados a tirá-lo do poder.
Não sei, repito, o que está acontecendo com Jô. Cansaço de ficar ao lado de sabotadores como Jabor, Merval et caterva?
Insatisfação com a Globo, que decidiu tirar sua plateia e pode suprimir também o sexteto?
Só Jô pode dar a resposta correta.

A mim, pouco importa.
O que quero sublinhar é seu acerto ao dizer, a seu jeito: amigos, tomem cuidado com o que lêem na imprensa.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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