A VELHA RÚSSIA E O NOVO CZAR
Ex-chefe do KGB, Vladimir Putin é um czar moderno. Antes dele, o bebum Boris Yeltsin, que dirigiu a Rússia depois do colapso do comunismo, escancarou o país ao ocidente, trazendo anos de decadência, estagnação, criminalidade, desemprego e pobreza crescentes. Putin restaurou parte do tecido social destruído, além de ter restabelecido o orgulho nacional ao reafirmar os interesses geopolíticos de Moscou frente ao Ocidente. Mas, do ponto de vista interno, ele é a reencarnação da autocracia russa. Os russos nunca viveram uma democracia; logo, eles estão tendo a árdua tarefa de construí-la. E essa tarefa envolve inclusive a luta pela liberdade de expressão de grupos de música, como as meninas das Pussy Riots, que podem ser presas por protestarem contra Putin, mas também contra os valores tradicionais. “Feminismo é um pecado mortal", diz acusação no caso das Pussy Riots
Julgamento da banda punk expôs sistema jurídico
imparcial e grupos da sociedade conservadores e religiosos
Do Operamundi
Com frases como “o feminismo é um pecado mortal”, o
julgamento da banda punk feminina Pussy Riots completou seu sexto dia e reabriu
questionamentos sobre a imparcialidade da justiça, bem como do lado religioso e
conservador da sociedade russa.
Integrantes das Pussy Riots no tribunal em Moscou |
A
Promotoria russa exigiu nesta terça-feira (7/8) uma pena de três anos de prisão
para as integrantes da banda, sustentando que representam uma ameaça para a
sociedade pela possibilidade de realizarem outros protestos no país. No último
dia para as falas da acusação, as artistas foram denunciadas pelo crime de
desrespeito à religião.
Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa, em fevereiro desse ano, não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.
Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa, em fevereiro desse ano, não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.
Perguntas como “O que a religião ortodoxa significa
para você?”, “As roupas delas eram apertadas?” e “O que te ofendeu com as
máscaras que usavam?” foram feitas para as testemunhas da acusação, que estavam
na Igreja no momento da intervenção artística. Uma delas se contradisse ao
afirmar que escutou uma música na catedral, sendo que a banda acrescentou
depois os instrumentos no vídeo divulgado no YouTube.
Baseando-se
nas impressões de fiéis ofendidos com a performance das Pussy Riots, uma das
advogadas da acusação chegou a afirmar que o feminismo é um crime. “Todas as
rés declararam ser feministas e disseram que isso é permitido na Igreja
Cristã-Ortodoxa”, disse Yelena Pavlova. “Isso não corresponde com a realidade.
O feminismo é um pecado mortal”, completou.
“Elas tem de ser isoladas da
sociedade”, afirmou Alexei Nikiforov, que pediu três anos de prisão para todas
as integrantes da banda pela apresentação. O promotor poderia ter exigido a
condenação máxima de sete anos, mas parece ter seguido os conselhos do presidente
russo. Vladimir Putin na semana passada disse que as mulheres não “fizeram nada
de bom”, mas não devem ser julgadas tão duramente.
Resistência
O presidente russo parece ter seguido o conselho do advogado de defesa, Mark Feigin, das Pussy Riots, que alertou que uma condenação “romperia definitivamente as relações entre a sociedade e o governo russo”. O julgamento, assim como a marcha contra as eleições que reelegeram Putin, uniram grupos de oposição que sustentam que o governo russo persegue seus críticos.
Resistência
O presidente russo parece ter seguido o conselho do advogado de defesa, Mark Feigin, das Pussy Riots, que alertou que uma condenação “romperia definitivamente as relações entre a sociedade e o governo russo”. O julgamento, assim como a marcha contra as eleições que reelegeram Putin, uniram grupos de oposição que sustentam que o governo russo persegue seus críticos.
Segundo eles, as denúncias
contra a banda punk fazem parte de um esforço de Putin para intimidar a
sociedade e russa. “Eles declaram guerra contra nós!”, alertou o líder
esquerdista Sergei Udalstov em protesto no final de julho pela libertação das
músicas que reuniu milhares de pessoas. “Para a sua rejeição da lei, existe uma
resposta da rua”, disse Feigin.
Na sexta-feira (3/8), três homens escalaram as paredes do tribunal, utilizando gorros em suas caras como o das mulheres, e gritaram “Liberdade às Pussy Riot!” das janelas, informou o jornal britânicoThe Guardian. Segundo a correspondente do jornal em Moscou, outros atos semelhantes aconteceram em outras cidades do país.
Na sexta-feira (3/8), três homens escalaram as paredes do tribunal, utilizando gorros em suas caras como o das mulheres, e gritaram “Liberdade às Pussy Riot!” das janelas, informou o jornal britânicoThe Guardian. Segundo a correspondente do jornal em Moscou, outros atos semelhantes aconteceram em outras cidades do país.
Figuras importantes da arte na Rússia protestaram a
favor das acusadas, como Petr Pavlesnky que costurou sua boca em
solidariedade à banda punk. A luta das artistas atravessou os oceanos e
mobilizou diversos famosos, como Sting e Red Hot Chili Peppers e até Madonna
que realiza shows no país nesta semana.
“Em
um primeiro momento, depois dos protestos contra Putin em dezembro, as
autoridades se assustaram”, explicou o advogado de defesa Nikolai Polozov.
“Agora, eles se recuperaram e começaram a reagir – o julgamento da ‘Pussy
Riots’ é claramente o primeiro passo”, acrescentou de acordo com o Guardian.
Imparcialidade da justiça
Grupos
russos e internacionais que apoiam a luta das artistas estão cada vez mais
indignados com as atitudes da justiça na condução do processo. Enquanto todas
as testemunhas de acusação foram autorizadas pela juíza Marina Syrova, apenas 3
das 13 testemunhas nomeadas pela defesa puderam ser interrogadas no julgamento.
Syrova também foi responsável por permitir uma série de perguntas da acusação
às testemunhas, mas vetou que a defesa realizasse as mesmas questões.
A
justiça russa já recusou diversos pedidos judiciais da defesa, incluindo uma
apelação para enviar o processo de volta à Promotoria, já que não existem
provas suficientes. Os advogados de defesa da “Pussy Riots” impetraram pedido
no tribunal para chamar o representante da instituição religiosa a testemunhar
no processo que foi negado, informou a rede Interfax.
“Mesmo
nos tempos soviéticos, nos tempo de Stalin, os julgamentos eram mais honestos
do que esse”, afirmou Polozov durante o tribunal.
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