Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Bolsa Família na Índia


A Índia lançou neste domingo (1) o piloto de um programa social — inspirado no Bolsa Família do governo brasileiro — que pretende distribuir bilhões de dólares diretamente aos pobres, deixando de lado os intermediários usados em iniciativas anteriores que acabavam desviando o dinheiro. 

Inicialmente, o programa atenderá 200 mil pessoas em 20 dos 640 distritos do país onde há cerca de 440 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. 

O dinheiro será depositado diretamente na conta dos beneficiários, que terão que provar sua identidade por checagem biométrica de retinas e impressões digitais. 

O ministro das Finanças, P. Chidanbaram, descreveu o programa como “nada menos do que mágico”, mas críticos acusaram o governo de dar um passo maior do que as pernas num país onde grande parte da população não está inserida no sistema bancário. 

Além disso, o partido de oposição Bharatiya Janata acusou o Partido do Congresso de estar lançando o programa com fins eleitoreiros rumo à escolha de novos governantes em 2014. 

Num novo experimento gigantesco como este, nós podemos esperar alguns escorregões. Pode haver algum problema aqui ou ali, mas eles serão superados pelo nosso povo. É preciso ter paciência, porque essa é uma medida revolucionária para a governança da Índia — afirmou Chindambaram, no lançamento da iniciativa. 

Projeto de identificação 

O governo indiano disse que inicialmente a verba do programa virá de dinheiro que seria gasto em outros programas sociais, como a concessão de bolsas de estudo. 


A longo prazo, a exemplo do Bolsa Família, a ideia é unificar todos os programas sociais. Para eliminar os intermediários — funcionários de governos regionais que são acusados de desviar recursos dos programas sociais para o próprio bolso por meio de fraudes de cadastro —, o governo está usando dados do projeto Aadhar, que tem o objetivo de dar à população do país um número de identificação ligado a impressões digitais e de retina. 

Centenas de milhões de indianos hoje não possuem nenhum tipo de documento. 

Crítica de intelectuais 

No domingo (30), 208 ativistas e intelectuais publicaram uma carta aberta acusando o governo de forçar os pobres a se inscreverem no Aadhar sem ter um esquema de segurança adequado para proteger a privacidade deles. 

Eles também expressaram o temor de que o governo esteja dando os primeiros passos para abandonar o sistema de distribuição de comida aos pobres, o maior programa do tipo no mundo. 

“Serviços essenciais não são o campo adequado para a experimentação de uma tecnologia incerta e altamente centralizada”, escreveram os manifestantes na carta aberta. Mihir Shah, integrante da Comissão de Planejamento da Índia, admite que há muito trabalho a ser feito antes que o programa piloto possa se transformar numa realidade para todo o país. 

O esforço de identificação tem de atingir a maioria dos pobres da Índia, e as vilas do interior precisam ser equipadas com infraestrutura bancária e acesso à internet, hoje uma raridade. 

Vai levar tempo, e só vai acontecer quando for possível. Mas se há um horizonte que nos obriga a consertar as lacunas que atualmente impedem a transferência direta de dinheiro para os pobres, então estamos caminhando na direção certa — disse Shah. 

http://oglobo.globo.com/mundo/india-lanca-versao-local-do-bolsa-familia-7175821#ixzz2GoeHcfzF

do Blog do Briguilino

Nenhum comentário:

Postar um comentário