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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 20, 2013

10 anos A História não os absolverá.

 

 do Olhar o Mundo
Luiz Eça
Um péssimo negócio é aquele em que todos perdem.
É muito raro de acontecer, mas o governo Bush conseguiu.
Alguém poderia argumentar que pelo menos Israel saiu ganhando porque livrou-se de um rival potencialmente perigoso.
De fato, o Iraque estava em fase de crescimento, investindo pesado em armamentos.
Mas um governo corrupto, onde parentes e puxa-sacos detinham os principais postos e o ditador carecia de carisma que empolgasse o povo, não tinha grandes chances de formar um exército eficiente.
A prova foi sua derrota iminente na guerra contra um Irã, que ainda estava desorganizado militarmente após a revolução islâmica.
Saddam Houssein era inimigo de Israel, mas dificilmente deixaria os estrategistas de Telaviv sem sono.
O aparente vencedor da guerra do Iraque, os EUA, foi talvez quem mais perdeu.
Estima-se que as despesas militares custaram ao povo americano 1,7 trilhão de dólares, mais 490 bilhões em benefícios aos veteranos (assistência médica, principalmente).
No entanto, esse valor pode subir para mais de 6 trilhões nas quatro próximas décadas, quando se computar os juros dos pagamentos, de acordo com estudo publicado na semana passada, do Watson Institute for International Studies da Brown University.
Com todo esse dinheiro, Obama estaria agora tirando de letra os problemas financeiros da crise, que ameaçam sufocar os EUA.
Há mais custos, porém, a serem levados em conta.
Morreram 4.500 soldados americanos, além de 1.500 seguranças.
32.000 militares voltaram feridos para casa, muitos deles incapacitados mental ou fisicamente.
Claro, nesse quesito o povo iraquiano, inocente das maquinações de Bush, perdeu muito mais.
São controversos os números dos seus mortos.
O Iraq Body Count fala em 122 mil, podendo ser acrescido de mais 12 mil conforme dados do Wikki Leaks.
A tradicional revista inglesa, Lancet, em 2006, assegurava que as baixas iraquianas chegavam a 650 mil.
Já o Ministério de Direitos Humanos do Iraque garante que o número certo é 1 milhão de iraquianos mortos, deixando cerca de 5 milhões de órfãos. Sem falar em 4,5 milhões de refugiados.
Foi mal, admite Obama, em discurso recente, mas não podemos negar que a situação do Iraque agora é bem melhor.
Será?
A guerra sectária, que não existia no Iraque antes da invasão, corre solta, com atentados diários matando inclusive civis.
A Al Qaeda iraquiana, que Saddam Hussein reprimia, está mais poderosa do que nunca, fortalecida por centenas de jovens que a procuraram, indignados com a ocupação americana do seu país.
O governo atual, de origem xiita, persegue os sunitas, que estão à beira da insurgência. Sua polícia secreta, rotineiramente, pratica violências, toleradas por uma justiça conivente.
O paradeiro de 16 mil oposicionistas, presos pela polícia ou por milícias ligadas ao governo durante a ocupação, é desconhecido.
Suas esposas temem que tenham sido mortos ou estejam presos em casas secretas, sujeitos a permanecerem ocultos indefinidamente.
“A infraestrutura de saúde do Iraque e o sistema de educação, devastados pela guerra (leia-se “pelos bombardeios americanos”) continuam do mesmo jeito,” diz reportagem da Reuters. “Enquanto isso, os investimentos de 212 bilhões na reconstrução fracassaram, com a maior parte do dinheiro gasta em segurança ou desperdiçada e mesmo perdida, em fraudes.”
Os principais responsáveis por esse desastre verdadeiramente criminoso, Bush, seu vice Cheney e Tony Blair, continuam livres.
O Tribunal Criminal Internacional tem agido prontamente para julgar e condenar ditadores africanos e racistas servo-croatas.
É fácil.
Esse pessoal não conta nem com poderosas forças políticas, nem com o apoio da mídia internacional.
Bush, Blair e Cheney estariam bem cobertos por toda essa gente, em caso de perigo.
Acredito que eles, os principais culpados por tantas vidas perdidas, tantos trilhões desperdiçados, tão gigantescos dados causados ao Iraque, jamais serão levados às barras do tribunal de Haia.
Só a História terá poder para julgá-los.
Eles sabem disso.
Provavelmente estão pouco se lixando.
*GilsonSampaio

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