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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 03, 2013

A austeridade fracassou

Com a palavra um Nobel em Economia

Por Paul Krugman
 

Há dois meses, quando Mario Monti deixou o cargo de premiê da Itália, a revista britânica The Economist afirmou: "As próximas eleições serão, acima de tudo, um teste de maturidade e realismo dos eleitores italianos". Uma atitude amadurecida e realista seria, ao que se supõe, recolocar Monti em seu cargo. A situação, porém, não é boa.

O partido de Monti deve ser o quarto mais votado - atrás de Silvio Berlusconi e do comediante Beppe Grillo. Na realidade, Monti foi o procônsul instalado pela Alemanha para implementar a austeridade fiscal numa economia já fragilizada. Nos círculos políticos europeus, a disposição para persistir numa austeridade sem limite é o que define a respeitabilidade. Isto seria correto se a austeridade funcionasse, mas não funciona.

Longe de parecerem maduros ou realistas, os defensores dela se mostram cada vez mais petulantes e equivocados. Quando a Europa começou sua obsessão pela austeridade, as principais autoridades minimizaram os temores de que o corte violento dos gastos e a elevação dos impostos em economias deprimidas pudessem aprofundar a depressão. E insistiram que, na realidade, essas medidas impulsionariam a atividade econômica inspirando a confiança do público.
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*observadoressociais

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