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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 03, 2013

JANGO - O GOLPE COMEÇOU NA ITÁLIA


JANGO - O GOLPE COMEÇOU NA ITÁLIA







JANGO – O GOLPE COMEÇOU NA ITÁLIA


Laerte Braga


João Belchior Marques Goulart nasceu no dia 1º. de março. O registro é importante. Deixou lições de grandeza, humildade, coragem e determinação. E acima de tudo de integridade, talvez a soma de todas essas virtudes, num conceito mais amplo.

O golpe militar de 1964 começou nos campos de batalha da 2ª. Grande Guerra. As forças brasileiras faziam parte do contingente norte-americano e Vernon Walthers, mais tarde general e diretor da CIA (Agência Central de Inteligência) era o oficial de ligação. O brasileiro era Castello Branco, primeiro presidente do golpe. À época, 1964, Walthers era Adido Militar da embaixada dos EUA no Brasil. Foi o comandante operacional dos golpes.

Foram dois. O que abortou a saída de Mourão Filho de Juiz de Fora, MG em parceria com o governador de Minas Magalhães Pinto e o que levou Castello à presidência.

A queda de Getúlio Vargas foi decidida na Itália. Os militares brasileiros que voltaram da campanha da FEB (FORÇAS EXPEDICIONÁRIAS BRASILEIRAS) vieram imbuídos do propósito de construir uma “democracia”. O regime de Vargas não era, estava esgotado naquele momento, mas a “democracia” dos militares não tinha compromisso algum com o Brasil e os brasileiros.

Desde a queda de Vargas em 1945 tentaram chegar ao poder. Perderam com Eduardo Gomes duas vezes e com Juarez Távora uma vez.

A volta de Getúlio em 1950 abriu espaços para uma tentativa mais direta com o Manifesto dos Coronéis, entre eles Golbery do Couto e Silva e Bizarria Mamede, protagonistas diretos de 64. A renúncia de Jânio, um bêbado tresloucado que se esqueceu de combinar com as forças armadas o golpe na farsa das “forças ocultas”, foi a segundo oportunidade direta.

Fracassou na reação popular e na coragem de Leonel Brizola que se levantou contra a quartelada de Dennys, Grum Moss e Sílvio Heck.

Em 1964 não deram chance de reação aos militares legalistas e nem de protestos populares. Tudo foi tramado na embaixada dos EUA com Lincoln Gordon e o comando entregue a Vernon Walthers para evitar trapalhadas. E por pouco Mourão Filho, que era juscelinista, não põe tudo a perder (Mourão nasceu em Diamantina e foi feito general por JK, traz consigo também o Plano Cohen, a farsa montado para o Estado Novo em 1937).

A traição descarada de Amauri Kruel e de Justino Alves Bastos (IV Exército então) eliminou qualquer chance de reação com êxito em curto prazo e poderia mergulhar o Brasil numa guerra civil que acabaria fracionando o País, bem ao sabor dos interesses norte-americanos. A IV Frota norte-americana já estava em águas brasileiras para garantir os comandados de Vernon Walthers.

No pote de ambições que o golpe destampou, Lacerda e Magalhães foram logo engolidos, Ademar de Barros era mero sobrevivente e morreu afogado na enchente da corrupção. Linha dura e linha moderada se viram frente a frente e a imposição de Costa e Silva a Castello (Costa e Silva era bisonho em todos os sentidos) acabou resultando num acordo entre os dois grupos.

O acordo não afastou a barbárie. As torturas, os assassinatos, as covardias dentro dos quartéis eram rotina entre os golpistas. O comando político, militar e econômico só sofreu alguns arranhões no governo Geisel, mas logo curados com mercúrio cromo no governo Figueiredo e na ação das elites econômicas seja via Delfim Neto, ou Mário Henrique Simonsen.

Um golpe dentro do golpe tentado por um gorila (que me perdoem os gorilas) por Sílvio Frota acabou abortado e a democracia consentida se instalou. O que seria Tancredo acabou sendo Sarney, pústula golpista, hoje aliado de Dilma Roussef, como foi de Lula.

A consumação de 1964 na entrega despudorada do Brasil se deu nos oito anos de FHC, velho udenista no espírito. Eleito para um mandato de quatro anos comprou o segundo num golpe de mão, ao implantar a peso de ouro o instituto da reeleição.

A despeito dos dois mandatos de Lula e do atual de Dilma, a essência política e econômica da ditadura e de FHC se mantém. O Brasil continua um País manco, submerso no poder da “globalitarização” (a globalização pela força das armas, termo de Mílton Santos) e dependente de tecnologias básicas passiveis de serem desenvolvidas aqui. A antiga, não tanto, crítica de Ari Toledo ainda é válida – “o Brasil ind-é-pendente”.

No governo Dilma essa característica se acentua de forma assustadora.

João Goulart dera início ao processo de reforma agrária ao decretar a desapropriação de terras num limite de oito quilômetros às margens de rodovias, ferrovias, lagos, rios e açudes. Ao nacionalizar o petróleo de ponta a ponta, inclusive a distribuição. Ao permitir que trabalhadores se organizassem num central, o COMANDO GERAL DO SO TRABALHADORES – CGT -, sob batuta do deputado mineiro Clodesmith Riani, principal líder sindical do País. Hoje vive de modo simples e espartano em sua cidade, Juiz de Fora. A reforma urbana, que previa um percentual nos aluguéis de imóveis de proprietários de um número elevado deles, como pagamento de prestação para compra dentro de um determinado prazo.


Santos Vahlis, um especulador, tinha dois mil apartamentos no Rio, o projeto era do notável deputado Sérgio Magalhães.

Goulart passou a comprar o ácido acetilsalicílico – as aspirinas nossas de cada dia – dos chineses, a um custo mais baixo e isso irritou, além de outras coisas, a norte-americanos e alemães.

Moniz Bandeira registra o fato em seu livro O GOVERNO GOULART, publicado pela Civilização Brasileira.

Os generais norte-americanos que comandam as forças armadas brasileiras hoje agregaram outro “general”, a mídia de mercado, um poder quase absoluto a alienar e esconder a história real do Brasil, transformando brasileiros em objetos. O latifúndio hoje é o mesmo de ontem. As elites paulistas que comandam o Brasil são controladas pela OPUS DEI, fração de extrema-direita da igreja católica (a que está procurando um “papa limpo” segundo o jornal O GLOBO).

O governo é a soma de interesses espúrios e alianças inacreditáveis, acredita que os avanços superficiais, na verdade populista, transformam o Brasil em País independente.

Goulart é muito maior que Lula e Dilma. Não há comparação possível. Tinha um projeto Brasil para os trabalhadores brasileiros. Ultrapassava as dimensões eleitorais do partido de Lula e Dilma.

1964 começou na Itália e se consumou na traição de militares brasileiros ao seu próprio País numa longa noite de sombras e sangue da barbárie e da crueldade dos ditadores e seus sequazes.

João Belchior Marques Goulart, um homem de classe média alta, teve a percepção de ao lado de Leonel Brizola, Celso Furtado, Hermes Lima, Evandro Lins e Silva, Raul Riff, Santiago Dantas e outros, pensar e caminhar para um Brasil diverso do de hoje.

Falo por exemplo do aumento da população de rua do Rio em 31%, a despeito de todo o populismo existente.

Os trabalhadores continuam os grandes explorados, a luta continua sendo de classes e sem organização popular, dentro do modelo consentido, não se vai a lugar nenhum, que não virar posto de troca de cavalos das diligências da Wells Fargo.

Goulart foi o último grande presidente do Brasil, por isso foi deposto. Presidente do Brasil e não das elites políticas e econômicas, do latifúndio, de bancadas evangélicas que controlam o que hoje são “negócios”.

O projeto Brasil, boutade de Lula em sua campanha de 2002 continua sendo o período de Jango, como Goulart era chamado.
*Brasilmobilizado

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