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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 14, 2013

“G” DE GLOBO, “G” DE GOLPE !


O que está em jogo é a soberania popular. Na mídia e no Direito !

O Centro Acadêmico XI da Escola de Direito do Largo São Francisco promoveu nesta segunda-feira (11) um debate sobre a “Regulamentação da Mídia”.

Participaram o professor de Direito da PUC-SP e colunista da Carta Capital, Pedro Serrano; o professor titular da ECA, José Coelho Sobrinho; a diretora-executiva do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mieli e o jornalista Paulo Henrique Amorim. 

O primeiro a falar à plateia de estudantes e professores foi  Serrano, que fez uma  ampla análise das diferenças entre Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa. 

Segundo ele, a Liberdade de Expressão é um princípio, que se limita no confronto natural com outros princípios. Ele dá como exemplo a Lei do Fumo, onde o princípio da liberdade se confronta com o princípio da saúde pública, e, nesse embate, se encontra um equilíbrio. 

Já a Liberdade de Imprensa é uma garantia constitucional, “é a garantia de informar e sobretudo a garantia de a sociedade de ser informada”: “essa, sim, tem de ser regulada”, diz ele.

E informar, disse ele, é informar de forma verdadeira.

Para o professor Serrano, a regulação deve se dar na indústria da comunicação e, não, no conteúdo propriamente dito. Nessa matéria, ele qualifica a Constituição de 1988 com “um terror”. 

De acordo com Serrano, os contratos de rádio-difusão deveriam ser licitados. “Por que a família Marinho e não outra família?”

Deveria haver uma licitação, com isonomia, como em qualquer concorrência publica.

A radio-difusão no Brasil é estatal – o Estado é o dono do espaço limitado de radio-frequência. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a radio-frequência opera no sistema de “utility”: de propriedade privada, com observância do Estado.

A Constituição brasileira prevê que esses contratos sejam renovados “automaticamente”, sendo cassados, apenas, com 2/3 dos votos do Parlamento: “isso não é um contrato é uma capitania hereditária”, completa. “É medieval”, ele disse.

Sobre os veículos impressos que, segundo ele, estão na esfera do privado – não dependem de concessão pública – também demonstram graves distorções de mercado. Para Serrano, o governo não pode obrigar ou controlar a atividade da imprensa escrita, mas pode incentivar novos empreendimentos que favoreçam a pluralidade no mercado editorial, e sobretudo, pode e deve combater o monopólio: “a revista Carta Capital, por exemplo, é distribuída por uma empresa da Editora Abril, que controla a distribuição de revistas. Não é à toa que uma edição da Carta que tratava do Carlinhos Cachoeira não chegou a Goias”.

“Penso que o CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica - órgão responsável por garantir a concorrência nos mercados] poderia facilmente tratar disso se quisesse.”

Serrano revelou que ajudou Sergio Motta, ministro de Fernando Henrique Cardoso, a redigir um projeto de Comunicação de Massa que tinha as seguintes características – clique aqui para ler “Ley de Medios ? Por que não a do FHC ?”:

– proibia o monopólio; quem tem tevê não pode ter jornal; limitação do direito de a rede central determinar a programação regional; e estimulava a atividade privada.

O Estado não pode intervir na imprensa escrita, mas pode criar mecanismos para fomentar novas industrias – como faz em todos os outros setores da Economia, lembrou Serrano.

A regulação da mídia não tem nada a ver com censura. Regular a mídia é uma “questão banal”, ele enfatizou. Todo mundo regula.


Renata Mielli, do Barão de Itararé, concorda em que a “concentração do mercado” é danosa e deve ser combatida, mas vai além. Para ela, a regulamentação deve, sim, tratar de conteúdo, a posteriori, e chamar as empresas à responsabilidade; sobretudo no que diz respeito à classificação indicativa de programação – dispositivo que discrimina a faixa etária adequada.

Ela relembrou o caso de um estupro, ao vivo, no Big Brother, conforme denuncia inicial da vitima. 

Renata denunciou a “judicialização” da questão. Por conta da omissão do Congresso em regulamentar os dispositivos constitucionais – que vem desde 1988:  “a bola esta cada vez mais com o Judiciário, em especial com o STF”. 

Clique aqui para ler sobre as ADINs do professor Comparato, que entrou no Supremo para punir o Congresso por omissão diante dos capítulos da Constituição que tratam da Comunicação.

Renata Mielli ainda enumera pontos importantes que esperam por decisão do Supremo – entre eles, a própria classificação indicativa por idade.

Quatro juízes já votaram contra a classificação – inclusive o ex-presidente Ayres Britto -  , porque  consideram ingerência estatal na programação das empresas e na decisão das famílias. 

O que, segundo ela, cria “um conflito absurdo entre o direito da criança e o direito de expressão.” 

Paulo Henrique Amorim vê o debate sobre a mídia no centro do debate político: “Não estamos discutindo a imprensa. Isso, como diz o professor Roberto Schwarz, é uma ideia fora do lugar. Estamos discutindo a Política.” Política que cada vez mais se desdobra no plenário do Supremo Tribunal Federal. 

Já que falava para estudantes de Direito, que vão trabalhar no exercício da Lei e da Justiça, o ansioso blogueiro abriu a apresentação lembrando da iniciativa de um Juiz de São Paulo de permitir a transmissão ao vivo do julgamento do acusado de assassinar Mércia Nakashima:

“A culpa é da TV Justiça, que institucionalizou a invasão da TV no processo judicial. O IBOPE participa  da administração da Lei. O espectador é como aquela massa enfurecida, que, nos filmes de faroeste,  tira o suspeito da cela e o enforca em praça publica.”

Não deixe de votar na enquete do Conversa Afiada, “o que mais a TV Justiça deve mostrar ao vivo ?”

Assim como o Supremo na Ação Penal 470, esse Juiz vai levar a TV e seus interesses empresariais e comerciais para o território em que se celebra a Lei.

Paulo Henrique lembrou aos estudantes de Direito as palavras do ministro Lewandowski, professor titular daquela casa: “como disse o ministro Levandowski, o problema será quando o domínio do fato chegar a todos os juízes do país. O problema será quando todos os julgamentos forem televisionados”. 

Paulo Henrique lança ainda um olhar ao ponto mais nevrálgico do monopólio: 

“A Globo tem 40% da audiência e 80% da verba destinada à TV aberta, que, por sua vez é 50% de toda a receita publicitária do país. Se você somar à Rede Globo a Globosat, a radio Globo e a CBN, o jornal Globo,  o Valor etc etc, a Globo terá, sozinha, uma empresa de capital fechado, sozinha ela terá MAIS DO QUE 60% DE TODA A PUBLICIDADE DO PAIS.

“Em nenhuma democracia jovem do mundo, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Chile, Venezuela, Argentina, Portugal, Espanha… em nenhuma há uma concentração como no Brasil”.

Paulo Henrique disse aos estudantes o que os leitores do Conversa Afiada já sabem há muito tempo: a imprensa é o verdadeiro partido de oposição no Brasil. 

“O PiG (*) tem o poder! O PiG tem o poder de matar Vargas, o PiG tem o poder de derrubar João Goulart, o PiG tem o poder de impedir Brizola de ser Presidente, de tentar derrubar o Lula, de tentar derrubar a Dilma [...] De julgar o mensalão. Dizer quem vota e a que horas vota. Mas o PiG não tem o poder de ganhar eleição. O poder do PiG é o poder de gerar crises, desestabilizar instituições: tirar o povo da jogada !”.

É o Partido da Imprensa Golpista, o PiG, expressão cunhada pelo Deputado Fernando Ferro, ao se referir a um artigo de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo.   

Para o Professor Coelho, o quadro se mostra desolador. A influência dos meios de comunicação se reflete diretamente na omissão crônica do Congresso: “o que esperar de um Congresso onde muitos dos seus representantes são donos de emissoras de rádio e TV, que fazem uso político das outorgas que recebem.” Segundo ele, “a regulamentação no Brasil é uma ficção”. 

O professor Serrano, nos debates, insistiu em que quando se trata de regulamentação da mídia, na verdade, se trata de discutir a soberania popular: até que ponto a República respeitará a soberania popular ?

O Direito não é uma abstração, lembrou Serrano. Não está fora do espaço vivido pelos cidadãos. E os agentes do Direito usam o Direito com intenção – com intenção política.

E não se pode esquecer, disse Serrano, que a Constituição americana foi feita para conter os avanços democráticos dos estados da jovem republica americana.

Que a primeira Constituição francesa previa o voto censitário, era uma Constituição burguesa.

E o que está em jogo, disse ele, é determinar até que ponto a soberania popular será respeitada. 

Para Renata Mielli, a regulamentação  é um desafio que só pode ser superado pela mobilização social: “a sociedade precisa se apropriar desse debate”, diz ela. 

Renata conclui dando o tom do movimento pela regulamentação: “Paulo Bernardo [ministro das Comunicações] passou três anos enrolando a sociedade para admitir que o debate está fora da pauta do governo. Agora vamos sem o Governo, sem os empresários. Vamos mobilizar um milhão e meio de assinaturas, e vamos apresentar um projeto de iniciativa popular. Vamos levantar esse debate na sociedade. Vamos à luta!”.

Paulo Henrique Amorim concorda com Renata.

É muito difícil a Presidenta Dilma e o Congresso tomarem a iniciativa de enfrentar o PiG .

Ele lembrou que a discussão sobre a regulamentação na mídia não é uma questão de Direito, uma questão de administração técnica de meios eletrônicos ou impressos de comunicação.

No Brasil, a questão do PiG é A questão Politica.

O PiG é mais do que Imprensa.

O PiG é Poder.

E, hoje, no Brasil, como no Paraguai, quem dará o golpe final no Golpe contra a Dilma será o Supremo. 

“O PiG não ganha eleição, o PiG dá golpe. O ‘G’ de Globo é o ‘G’ de Golpe”, disse o ansioso blogueiro.

Murilo Silva, editor do Conversa Afiada

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