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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 16, 2013

Manifestantes protestam contra deputado Feliciano na presidência da CDHM

Jornal do BrasilCaio Lima*
Cerca de 200 pessoas se manifestaram contra a permanência do deputado federal pastor Marco Feliciano (PSC-SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria (CDHM) da Câmara, neste sábado (16), na altura do posto 5 na praia de Copacabana. O mesmo protesto, sem a presença de partidos e com participação de religiosos de diferentes correntes ideológicas, foi realizado em outras 26 cidades, incluindo Buenos Aires, Paris e São Francisco.
>> Baianos realizam novo protesto contra Feliciano
Feliciano tem sido duramente criticado por sua postura, considerada racista e homofóbica por vários segmentos sociais, diante das questões sensíveis da CDHM. Um vídeo que circula pela internet mostra o pastor pedindo a senha do cartão de um fiel. "Doou o cartão mas não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir um milagre para Deus e Deus não vai dar. E vai falar que Deus é ruim", disse Feliciano na ocasião. O parlamentar responde no Supremo Tribunal Federal (STF) a processo por homofobia e estelionato.
Antes de sua posse como presidente  da CDHM, na quinta-feira (7), a opinião pública já havia sinalizado resistência. No dia em que assumiu o cargo houve manifestações na Câmara. O imbróglio fez com que articuladores políticos e o próprio partido chegassem a se reunir para deliberar sobre a possibilidade de retirá-lo do cargo. No entanto, o PSC garantiu Feliciano à frente da Comissão. 











1 / 2Mobilização popular
Um dos manifestantes, o professor de alemão e inglês Angelo Pereira, gay assumido, afirmou que a participação no protesto é um dever, ao ressaltar que a própria família representa tudo que o deputado Feliciano critica:
“Sou gay, ateu e tenho um filho negro adotado. Minha família personifica tudo que o Feliciano ataca. Eu poderia ficar em casa parado? Não! Isso é um dever cívico que todos deveriam cumprir”, disse Pereira.
Organizador do protesto, Fabrício Silva ressaltou que a cada dia a política surpreende a sociedade com fatos inusitados, mas destacou a mobilização popular para demonstrar a insatisfação com os representantes eleitos. 
“Sempre vem um caso pior, como o do Feliciano, e parece que somos obrigados a aceitar, mas as pessoas estão acordando aos poucos e por isso estamos aqui. No entanto, não podemos apenas seguir uma manifestação na rua e depois ir cada para suas casas e ponto final. Precisamos nos comunicar sempre para ser um movimento crescente. Acredito que os protestos públicos estão parando de engatinhar e começando a dar os primeiros passos”, afirmou confiante Silva.
Segundo o produtor audiovisual Adriano Mattos, embora o número de pessoas no protesto não tenha sido tão expressivo como o esperado a partir das confirmações nas redes sociais - onde mais de 3,5 mil pessoas confirmaram presença - a representatividade compensa:
“É pouco numericamente, mas a representatividade é na qualidade. São pessoas de diversas áreas da sociedade como gays, cristãos, ateus e héteros, todos juntos. Ninguém tem o direito de tirar o orgulho que cada um tem por si próprio”, afirmou Mattos, lembrando que a manifestação é uma luta contra um Brasil teocrático, que para ele é o caminho que o país está seguindo.
Durante o protesto, o grito “Fora Feliciano, não me representa um deputado desumano” foi muito ouvido por quem passava pelo local. O grupo Tambores de Olokun foi o responsável pela parte musical do protesto. “Feliciano dá um tempo, deixa meu terreiro em paz. Preconceito e homofobia não vou permitir jamais” foi uma espécie de refrão criado pelo grupo especialmente para a manifestação.
Representantes do Grupo Fêmem e do Anonymous Brasil também estiveram presentes.
*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil

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