O ódio insano a Lula, uma neurose a ser catalogada pela psicanálise
Em viagem de trabalho ao Rio na semana passada, peguei um taxista muito
simpático, que durante o trajeto expunha reclamações pertinentes sobre a
falta de educação no trânsito de alguns motoristas, como por exemplo
usar excessivamente a buzina. Também fazia comentários bacanas sobre a
futura Copa do Mundo na cidade, uma raridade diante do pessimismo geral.
“Será um sucesso, não tenho dúvida. Se houver algum problema os
turistas vão estar tão felizes de estarem aqui que nem vão dar
importância”, disse.
Enfim, era alguém que parecia de bem com a vida. Até que… O assunto
recaiu sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal qual dr.
Jekyll ao tomar a poção, o taxista se transformou de homem cordial em
uma pessoa absolutamente enfurecida, à beira de um ataque de nervos.
“Ele é o cara mais rico do Brasil hoje, é um milionário, um ladrão!”,
vociferava. “Eu leio a revista Veja, eu vejo a Globo! Eu sei das
coisas!” De nada adiantou nós lhe comunicarmos que integramos a imensa
parcela da população que gosta de Lula. O homem não se acalmava,
praticamente espumava pela boca.
No dia seguinte, já em Brasília, encontrei uma senhora muito fofa que
também mostrou sua face menos afável ao falar de Lula. “Sabe, eu sou
católica praticante. E quando vou me confessar, digo para o padre:
‘Padre, eu odeio o Lula! Eu odeio o Lula! Não posso nem vê-lo na
televisão que começo a passar mal, padre! O que eu devo fazer? Posso
comungar mesmo assim?’ E o padre sempre tenta me acalmar, responde que
isso não é bom, que não é cristão, e me passa não sei quantas ave-marias
e pais-nossos como penitência. Mas o que posso fazer? Eu odeio o
Lula!!!” Confesso que achei hilário, meio bizarro.
Nas redes sociais, então, perdi a conta de quantas vezes tive minha
página invadida por anti-lulistas fanáticos que não estão nem aí para as
regras de boas maneiras na internet ou de respeito ao pensamento
alheio. E não vou nem mencionar aqueles que desejaram a morte de Lula
quando seu câncer foi revelado ao país. Insanidade a toda prova.
Entendo que o ex-presidente Lula, homem carismático que é, desperte
amores e ódios. Entendo perfeitamente que muitas pessoas não gostem
dele. Mas esse sentimento que vejo em alguns anti-Lula não me parece
normal, mesmo porque a recíproca não é verdadeira. Nunca vi alguém ficar
tão alterado ao falar do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Bufando pelas ventas e gritando como se estivesse louco, perdendo
completamente a noção do que pode ser dito sobre uma figura pública,
cruzando todos os limites do desrespeito. Nunca vi, nunca. E olha que
conheço bem mais gente que não gosta de FHC do que quem gosta.
Fiquei pensando: será natural o ódio a Lula? Ou será que isto acontece
porque o ódio a Lula é estimulado pela mídia e o ódio a FHC, não? Pelo
contrário, a mídia tenta, com todo empenho e ao arrepio dos fatos e da
memória coletiva, convencer os brasileiros de que o governo Lula foi
péssimo, e o de FHC, ótimo. Obviamente não podemos esperar que as
pessoas bufem ao falar do tucano. Mas com Lula a neurose é alimentada,
até porque existem odiadores insanos do petista dentro das próprias
redações, sobretudo nas esferas mais altas. Um ódio patológico que,
diferentemente do que ocorre com outras enfermidades mentais, é
transmissível – via jornais e revistas e pela televisão. Curioso que
seja Lula quem é acusado de “disseminar o ódio”, embora nove entre dez
colunistas dediquem a vida a falar mal dele.
Às vezes me dá vontade de, como nos filmes, sacudir uma pessoa dessas e
falar para que se controle. É ofensivo com quem admira o presidente Lula
(e somos maioria) que exista gente disposta a agredi-lo desta maneira
ensandecida, típica de quem está com síndrome de abstinência de
medicamentos para controle do humor. O que há com Lula para causar tal
reação? Ou seria mais correto perguntar: o que há com estas pessoas para
reagir dessa forma a um político? Seria só oposição ao ex-presidente ou
é algo mais profundo, talvez inconfessável? Não sei dizer, esta neura
só um psicanalista ou psiquiatra é capaz de resolver.
Tenho certeza que algum dia um profissional da área irá catalogar, ao
lado do transtorno obsessivo compulsivo, do transtorno bipolar e demais
neuroses do mundo moderno, o “ódio insano a Lula”. Sinceramente, se eu
sentisse um só destes sintomas em relação ao ex-presidente – ou a
qualquer outro personagem da política –, procuraria ajuda médica
imediatamente. É doentio.
Cynara MenezesNo Socialista Morena
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