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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 29, 2013

Fascistas gregos na prisão


Na Grécia, a polícia prende o líder do Aurora Dourada, apelidado de “Fuehrer” pelos militantes, e 18 outros deputados e dirigentes, estando outros 11 em fuga. A reação do AD foi fraca, mobilizando apenas 300 pessoas. Opinião pública indignou-se com o assassinato do rapper Pavlos Fyssas, perpetrado por um militante do AD. Syriza diz que o governo finalmente fez o óbvio, pressionado pela opinião pública.
Nikos Michaloliakos é chamado de "Fuehrer" pelos militantes do Aurora Dourada. Foto retirada do Left.gr
O líder do partido fascista grego Aurora Dourada, Nikos Michaloliakos, o líder parlamentar Ilyas Kasidiaris e outros quatro deputados, bem como outros militantes, no total de 19, foram presos sábado, acusados de envolvimento do cantor de rap Pavlos Fyssas e noutros dez assassinatos ou tentativas de homicídio, bem como de criação de organização criminosa. A Procuradoria Geral emitiu 30 mandatos de detenção contra membros da organização, incluindo dois agentes da própria Polícia – um terceiro está em fuga.
O ex-militar Michaloliakos não ofereceu resistência. Na sua casa foram encontradas diversas armas, sem licença de porte, e 43 mil euros em dinheiro.
A reação do partido, que tem 18 deputados no parlamento grego, foi abaixo do esperado. Cerca de 300 militantes manifestaram-se diante da sede da polícia, para onde foram conduzidos os detidos, empunhando bandeiras gregas e não as flâmulas nazis do Aurora Dourada.
Organização criminosa
Um relatório de nove páginas compilado pelo vice-procurador do Supremo Tribunal descreve o Aurora Dourada como uma organização criminosa e Michaloliakos como o seu líder. Além das acusações de assassinatos, o relatório responsabiliza também o partido por ações de chantagem e de lavagem de dinheiro. A organização é descrita como totalmente hierarquizada, sob o comando do seu líder, apelidado de “Fuehrer”.
Ao mesmo tempo, prossegue a investigação interna da Polícia sobre os vínculos entre o Aurora Dourada e a corporação, iniciada depois do assassinato do rapper Pavlos Fyssas. Duas altas autoridades policiais já pediram demissão diante da onda de indignação provocada pela revelação dos vínculos entre os fascistas e as forças policiais. "Durante os últimos três anos, muitos dos nossos colegas foram tolerantes com a violência da Aurora Dourada", declarou Cristos Fotopulos, presidente da federação grega de polícias à radio Skai, citado pelo El País.
Deputados do Aurora Dourada estão a ameaçar demitir-se em massa, para provocar novas eleições. Mas caso renunciem e os suplentes não assumam, podem acontecer eleições apenas para preencher essas vagas e não eleições gerais.
Governo fez o óbvio”
Uma declaração oficial do Syriza, publicada no site Left.gr, afirma que “finalmente Samaras fez o óbvio. Ainda que com lentidão, mesmo depois de cinco assassinatos”. O partido de esquerda que lidera a oposição afirma que esteve e sempre estará na linha de frente contra o fascismo e pela defesa da democracia. “A luta é principalmente política e ideológica. Chamamos o povo grego a isolar politicamente, moralmente e ideologicamente o fascismo. Esta é a única garantia da democracia”. 

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