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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 23, 2013

Petrobrás vai entrar pesado no leilão de Libra




Por: Miguel do Rosário
O impacto da desistência das petroleiras americanas e britânicas de participarem do leilão de Libra já foi absorvido pelo mercado, pela imprensa e pelo governo. Houve um receio de que a mídia brasileira, após a saída dos americanos, levasse adiante uma campanha para melar o leilão. Mas as empresas remanescentes tem boas assessorias e conquistaram a simpatia dos jornais.
 
A própria presidente Dilma, mediante um assessor, abriu o jogo para o Estadão: o governo federal vai sim jogar pesado para que a Petrobrás tenha a maior fatia possível do campo de Libra, além mesmo dos 30% que é a cota mínima. BNDES e Tesouro Nacional poderão emprestar recursos para a estatal entrar de sola no leilão.
O representante da Repsol, que deverá se associar à chinesa Sinopec e à própria Petrobrás para explorar Libra, até ligou para o Merval Pereira, para acalmá-lo. Ele (Merval) não precisa se preocupar tanto com essa história de “conteúdo nacional”, excesso de presença estatal; o executivo da multinacional espanhola, que demonstra menos medo das cláusulas nacionalistas do leilão do que Merval, esclarece que seria “burrice” não entrar agora.
A Folha amanheceu neste sábado com um caderno especial sobre petróleo, com direito a um belo infográfico sobre o campo:



A fuga das americanas pode ser explicada por vários motivos. Um deles deve ser a existência de um governo muito mais “amigo” no México, que prometeu dar condições vantajosas para as gigantes explorarem reservas por lá. Reportagem recente no Washington Post informa, porém, que há um profundo ceticismo, nas cidades mexicanas produtoras de petróleo, acerca dos ganhos sociais decorrentes do plano do presidente da república, Enrique Peña Nieto, de desregulamentar ainda mais o setor no país. Lá não foram aprovadas garantias de investimentos em educação e saúde, como aqui. Outra razão pode estar em estudo publicado há pouco pela Reuters, segundo o qual a importação de petróleo da China em 2020 atingirá US$ 550 bilhões, enquanto a dos EUA, cujo pico foi US$ 330 bilhões há pouco tempo, deverá cair para US$ 160 bilhões no mesmo ano, por causa principalmente da substituição do petróleo por xisto. A China tem necessidades maiores que os EUA e, por isso, está disposta a estabelecer um contrato mais estável com o Brasil. A previsão de que os EUA substituirão petróleo por xisto, além disso, reforça a necessidade do Brasil acelerar a extração e a venda do petróleo em águas profundas. Não se pode nunca descartar o risco do surgimento de fontes alternativas. Em entrevista ao caderno especial da Folha, Adriano Pires diz que a Libra vai render “bem menos do que se projeta hoje”. Em se tratando de uma commodity violentamente imprevisível, trata-se de um prognóstico que nem Mãe Dinah se atreveria a fazer. Um especialista, ao rebaixar o valor de Libra às vésperas do leilão, deixa bem claro que interesses representa. Mesmo Pires, contudo, não pôde se furtar a uma obviedade. Os chineses estão dispostos a pagar mais e melhor, por uma questão de segurança energética nacional (a sua própria).

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