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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 27, 2013

Longo, tedioso e previsível


A ânsia de salvar a imagem do Campeonato Brasileiro de futebol chega a níveis divertidos. Já inventaram de tudo, até que sua fórmula de disputa foi engendrada para se adequar ao Estatuto do Torcedor. Logo surgirá alguém criticando o imponderável no esporte e defendendo os “valores morais do favoritismo”.

Nunca deixarei de repetir que a partilha desigual de verbas transforma o sistema de pontos corridos em teatro de manipulação para a TV Globo e seus patrocinadores. Não há a menor sombra de justiça ou de mérito no arranjo, e sequer a preocupação de forjá-los. Se, por um milagre qualquer, todos os clubes passassem a desfrutar da mesma dinheirama dos mais bem pagos, os pontos corridos seriam abandonados na primeira reunião da cartolagem. E por pressão da Globo.

Dizem que as torcidas apoiam o ardil, tanto que continuam a frequentar os estádios. Bobagem. O público médio é sofrível, especialmente se levarmos em conta as estatísticas sobre os apoiadores dos times mais populares. Ademais, a maioria dos espectadores é formada por associados de planos de fidelidade, ou seja, tende a acompanhar os jogos em qualquer circunstância, independente da fórmula da disputa.

A apologia desvairada do Brasileirinho quer esconder o fato de que não existe emoção possível num campeonato com esses moldes. Oito meses, somando trinta e oito rodadas, para que os mesmos times privilegiados ocupem as melhores posições finais? Alguns “clássicos” mornos e umas “surpresas” esparsas (quando a arbitragem permite) compensam quase um ano de lucubrações bocejantes sobre elencos meia-bocas e seus atletas obscuros?

Não, não compensam. O futebol brasileiro é chato, bobo, medíocre. E imoral.
*GuilhermeScalzilli

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