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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 21, 2013

Na Austrália, Partido do Sexo prega mais liberdade sexual e menos religião



Em entrevista ao Terra, Fiona Patten, presidente da sigla, manda recado ao Brasil: "Nós encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo"

  • Direto de Sydney

As eleições na Austrália terminaram com a vitória do conservador Partido Liberal sobre o Partido Trabalhista, que encerra seis anos de uma administração tumultuada em função das divisões internas, das trocas de primeiro-ministro e das acusações de não-cumprimento das promessas de campanha. Com o resultado, o ex-líder da oposição Tony Abbot assume o poder, para decepção do Partido do Sexo, um nanico que se destacou na campanha eleitoral por defender a liberdade sexual, o casamento gay, a legalização da maconha, o aborto e a eutanásia, entre outras medidas. "Abbott é um católico tradicional que vai adotar uma abordagem muito mais conservadora em relação às questões morais", lamenta a presidente do partido, Fiona Patten.
Fiona Patten é a presidente do Partido do Sexo, na Austrália Foto: Divulgação
Fiona Patten é a presidente do Partido do Sexo, na Austrália
Foto: Divulgação
Criado em 2009, o Partido do Sexo foi fundado com o objetivo de defender os direitos individuais. "Nós somos um partido civil libertário e nossas políticas vão muito além do sexo", explica a presidente da sigla. Fiona admite, no entanto, que a denominação da legenda é usada como uma forma de se destacar no cenário político australiano. “É certamente uma maneira de chamar a atenção e não tenho vergonha disso. Queremos acabar com o tabu em torno do sexo, para que as pessoas possam entender essa palavra com mais bom senso e sem medo”, declara. 
A decisão pelo nome da legenda se baseou em dois fatores principais: o apoio da indústria do sexo e o tratamento das questões de sexualidade na Austrália. “Quando começamos, havia muitos problemas relacionados ao sexo e à sexualidade, como casamento gay, educação sexual, censura de produtos/serviços para adultos, discriminação sexual e abuso sexual na igreja. Os outros partidos não pareciam preocupados com isso; então, fez sentido para nós escolhermos essa denominação”, esclarece a presidente.
Fiona concorda que a indústria do sexo embasou a criação da legenda, mas ressalta: “nascemos de uma associação de pequenas empresas, não de uma organização ativista, mas não estamos aqui para proteger os interesses de um grupo. Muitos dos nossos apoiadores vêm da indústria de adultos, mas não vejo diferença entre defendermos os interesses deles ou dos salões de beleza ou pet shops”, enfatiza.
Camisinha como metáfora de campanhaAssim como o nome do partido, a campanha eleitoral também chamou a atenção. Para arrecadar dinheiro, o Partido do Sexo usou três tipos de camisinhas: “autossatisfação” para o Partido Verde, oferecendo proteção extra para políticas sem penetração; “extremamente grossa e sem sensibilidade” para o Partido Liberal; e a versão “pode não cumprir as promessas de ereção” para o Partido Trabalhista. A propaganda eleitoral do Partido do Sexo também foi destaque na televisão.
No anúncio, a presidente da legenda destacou que “tem muita coisa fodid@ acontecendo na Austrália”. A mensagem de um minuto também apresentava um casal gay, com uma criança no colo, dizendo: “nós estamos fodid@s porque ainda não podemos casar”; um homem reclamando: “estou fodid@ porque fui preso com isso (maconha); uma senhora defendendo a eutanásia: “estou fodid@ porque não posso morrer com dignidade”; e uma garota grávida concluindo: “estou fodid@ porque minha escola não me ensinou como fod@r”. 
Fiona Patten  justificou: “contamos com o voto de protesto dos eleitores. São pessoas que estão revoltadas com os governos lhes dizendo o que fazer. Eles não se sentem conectados com os grandes partidos”. Para ela, a legalização da maconha é um dos exemplos. “Essa guerra às drogas é um grande fracasso. Proibir e aumentar as punições não vai impedir as pessoas de usarem, só vai levar mais gente para a cadeia. Devemos tratar o assunto como saúde pública”, diz.
Maconha liberada, menos religião é mais sexoA presidente do partido também quer legalizar plantações de maconha no Estado da Tasmânia. “O clima da Tasmânia é perfeito para o crescimento da planta, que serviria para usos médico e recreativo”, afirma. Segundo ela, o investimento injetaria AU$ 100 milhões (mais de R$ 200 milhões) por ano na economia do Estado. “Quando as leis da Austrália mudarem, a Tasmânia precisa estar na vanguarda; senão, vai perder uma grande oportunidade”, conclui.
O Partido do Sexo também deseja acabar com o ensino religioso nas escolas, visando implementar a educação sexual. “Os governos teê medo de abordar esse tema, mas ensinar sexo aos adolescentes reduziria gravidez, homofobia e até violência doméstica”, avalia. O partido também luta pelo estabelecimento de uma legislação nacional de aborto, similar às leis do divórcio. “Isso vai permitir que a gravidez seja terminada legalmente, sem culpas para a mulher”, destaca. 
Em relação ao sexo, Fiona é enfática: “Sexo pode ser extremamente divertido e não há dúvidas sobre isso. É uma parte básica da natureza humana e parte da evolução, porque não estaríamos aqui sem sexo. É fazer algo que deixa você feliz, com a possibilidade de explorar seu corpo e testar seus limites. Sexo seguro não é somente camisinha, mas se sentir confortável para dizer sim ou mesmo dizer não”, analisa.
Recado para o BrasilPara os brasileiros, a presidente do Partido do Sexo dá um recado: “Nós encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo, para lutar por seus direitos civis. Nossa mensagem é universal, porque os assuntos que abordamos aqui também são relevantes no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. É difícil lutar contra políticos tradicionais, mas é muito importante defender as liberdades individuais”. 

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