Em entrevista ao Terra, Fiona Patten, presidente da sigla, manda recado ao Brasil: "Nós encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo"
As eleições na Austrália terminaram com a vitória do conservador Partido
Liberal sobre o Partido Trabalhista, que encerra seis anos de uma
administração tumultuada em função das divisões internas, das trocas de
primeiro-ministro e das acusações de não-cumprimento das promessas de
campanha. Com o resultado, o ex-líder da oposição Tony Abbot assume o
poder, para decepção do Partido do Sexo, um nanico que se destacou na
campanha eleitoral por defender a liberdade sexual, o casamento gay, a
legalização da maconha, o aborto e a eutanásia, entre outras medidas.
"Abbott é um católico tradicional que vai adotar uma abordagem muito
mais conservadora em relação às questões morais", lamenta a presidente
do partido, Fiona Patten.
Criado em 2009, o Partido do Sexo foi fundado com o objetivo de defender
os direitos individuais. "Nós somos um partido civil libertário e
nossas políticas vão muito além do sexo", explica a presidente da sigla.
Fiona admite, no entanto, que a denominação da legenda é usada como uma
forma de se destacar no cenário político australiano. “É certamente uma
maneira de chamar a atenção e não tenho vergonha disso. Queremos acabar
com o tabu em torno do sexo, para que as pessoas possam entender essa
palavra com mais bom senso e sem medo”, declara.
A decisão pelo nome da legenda se baseou em dois fatores principais: o
apoio da indústria do sexo e o tratamento das questões de sexualidade na
Austrália. “Quando começamos, havia muitos problemas relacionados ao
sexo e à sexualidade, como casamento gay, educação sexual, censura de
produtos/serviços para adultos, discriminação sexual e abuso sexual na
igreja. Os outros partidos não pareciam preocupados com isso; então, fez
sentido para nós escolhermos essa denominação”, esclarece a presidente.
Fiona concorda que a indústria do sexo embasou a criação da legenda, mas
ressalta: “nascemos de uma associação de pequenas empresas, não de uma
organização ativista, mas não estamos aqui para proteger os interesses
de um grupo. Muitos dos nossos apoiadores vêm da indústria de adultos,
mas não vejo diferença entre defendermos os interesses deles ou dos
salões de beleza ou pet shops”, enfatiza.
Camisinha como metáfora de campanhaAssim
como o nome do partido, a campanha eleitoral também chamou a atenção.
Para arrecadar dinheiro, o Partido do Sexo usou três tipos de
camisinhas: “autossatisfação” para o Partido Verde, oferecendo proteção
extra para políticas sem penetração; “extremamente grossa e sem
sensibilidade” para o Partido Liberal; e a versão “pode não cumprir as
promessas de ereção” para o Partido Trabalhista. A propaganda eleitoral
do Partido do Sexo também foi destaque na televisão.
No anúncio, a presidente da legenda destacou que “tem muita coisa fodid@
acontecendo na Austrália”. A mensagem de um minuto também apresentava
um casal gay, com uma criança no colo, dizendo: “nós estamos fodid@s
porque ainda não podemos casar”; um homem reclamando: “estou fodid@
porque fui preso com isso (maconha); uma senhora defendendo a eutanásia:
“estou fodid@ porque não posso morrer com dignidade”; e uma garota
grávida concluindo: “estou fodid@ porque minha escola não me ensinou
como fod@r”.
Fiona Patten justificou: “contamos com o voto de protesto dos
eleitores. São pessoas que estão revoltadas com os governos lhes dizendo
o que fazer. Eles não se sentem conectados com os grandes partidos”.
Para ela, a legalização da maconha é um dos exemplos. “Essa guerra às
drogas é um grande fracasso. Proibir e aumentar as punições não vai
impedir as pessoas de usarem, só vai levar mais gente para a cadeia.
Devemos tratar o assunto como saúde pública”, diz.
Maconha liberada, menos religião é mais sexoA
presidente do partido também quer legalizar plantações de maconha no
Estado da Tasmânia. “O clima da Tasmânia é perfeito para o crescimento
da planta, que serviria para usos médico e recreativo”, afirma. Segundo
ela, o investimento injetaria AU$ 100 milhões (mais de R$ 200 milhões)
por ano na economia do Estado. “Quando as leis da Austrália mudarem, a
Tasmânia precisa estar na vanguarda; senão, vai perder uma grande
oportunidade”, conclui.
O Partido do Sexo também deseja acabar com o ensino religioso nas
escolas, visando implementar a educação sexual. “Os governos teê medo de
abordar esse tema, mas ensinar sexo aos adolescentes reduziria
gravidez, homofobia e até violência doméstica”, avalia. O partido também
luta pelo estabelecimento de uma legislação nacional de aborto, similar
às leis do divórcio. “Isso vai permitir que a gravidez seja terminada
legalmente, sem culpas para a mulher”, destaca.
Em relação ao sexo, Fiona é enfática: “Sexo pode ser extremamente
divertido e não há dúvidas sobre isso. É uma parte básica da natureza
humana e parte da evolução, porque não estaríamos aqui sem sexo. É fazer
algo que deixa você feliz, com a possibilidade de explorar seu corpo e
testar seus limites. Sexo seguro não é somente camisinha, mas se sentir
confortável para dizer sim ou mesmo dizer não”, analisa.
Recado para o BrasilPara
os brasileiros, a presidente do Partido do Sexo dá um recado: “Nós
encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo, para lutar por
seus direitos civis. Nossa mensagem é universal, porque os assuntos que
abordamos aqui também são relevantes no Brasil ou em qualquer outro
lugar do mundo. É difícil lutar contra políticos tradicionais, mas é
muito importante defender as liberdades individuais”.
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