Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 21, 2013

Uma presidenta à altura do cargo

Uma presidenta à altura do cargo


http://latuffcartoons.wordpress.com/
Por Bepe Damasco, em seu blog:

A decisão da presidenta Dilma de cancelar a viagem aos EUA é o tipo de gesto que distingue o estadista do chefe de estado vassalo; o mandatário que não abre mão da soberania do seu país do que curva a espinha diante do primeiro rosnar dos poderosos.

Noves fora a importância política do cancelamento, se levarmos em conta apenas os procedimentos inerentes ao jogo diplomático, a decisão de Dilma é impecável. A regra não escrita da reciprocidade, que rege a relação entre as nações, não só respalda a decisão brasileira como alça o nosso país a um patamar ainda mais alto na cena internacional.

É assim que procede quem almeja de fato uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Essa é a postura de quem cansou de desempenhar um papel subalterno no mundo e vai se firmando como interlocutor de respeito e liderança inconteste entre os países em desenvolvimento.

Vale notar que a resposta dos EUA à cobrança dura feita pelo Itamaraty à chancelaria norte-americana e depois, olho no olho, por Dilma a Obama foi um amontoado de evasivas, com base nos imperativos de segurança e combate ao terrorismo, mantra predileto dos EUA.

Nenhum pedido de desculpas pela espionagem das mensagens entre a presidenta e seus auxiliares, nem pela bisbilhotagem nos sistemas da Petrobras e tampouco pelo monitoramento dos cidadãos e das empresas e embaixadas brasileiras.

Na certa, a arrogância americana concebeu como tática para superar o imbróglio diplomático a tergiversação e a enrolação. O negócio era empurrar o máximo com a barriga que o Brasil cederia. Afinal, sempre foi assim em mais de 500 anos. Ou não teve até ministro de FHC que tirou o sapato para pisar em solo americano ?

Mas a diplomacia de Obama errou feio ao menosprezar a política externa soberana e independente que o Brasil adotou desde o primeiro governo Lula. Apostou suas fichas no cinismo e perdeu feio. O chanceler dos EUA, em visita ao Brasil, chegou a dizer que a arapongagem visava proteger os próprios países bisbilhotados do terrorismo.

Por sua vez, Obama emitiu nítidos sinais de que para os EUA é impossível deixar de espionar pessoas, empresas e governos ao redor do planeta. Está no DNA imperialista deles. É política de Estado, não de governo. Por fim, chegou a culpar, mais uma vez, os que vazaram a informação, responsáveis, segundo o presidente norte-americano, por amplificar e distorcer os fatos.

Embora a direita midiática vá seguir sua sina colonizada e entreguista e criticar a presidenta Dilma por "colocar em risco as relações com os EUA" e "criar embaraços diplomáticos com o nosso principal parceiro comercial",o Brasil só tem a agradecer à presidenta por essa decisão corajosa em defesa da nossa soberania.

Nenhum comentário:

Postar um comentário