"Pastor das trevas” e direitos humanos
Do Blog do Miro
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Milhares de pessoas participaram
ontem (9) de uma passeata em São Paulo – da Avenida Paulista até a Praça
Roosevelt – em protesto contra a indicação de Marco Feliciano (PSC-SP)
para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da
Câmara Federal. A rejeição ao deputado – que já foi batizado nas redes
sociais de “pastor das trevas” – saiu da internet para ganhar as ruas.
De acordo com a Polícia Militar, o ato reuniu “entre 800 e 1.200
pessoas”. Já para os organizadores, ele contou com milhares de
ativistas.
“Fatos novos” podem reverter a eleição
Também ocorreram protestos no Rio
de Janeiro e Brasília. Pelas redes sociais, que coletaram 70 mil
assinaturas numa petição contra a eleição do deputado/pastor em apenas
um dia, novos atos estão sendo agendados para os próximos dias. Diante
da forte resistência, até o presidente da Câmara Federal, deputado
Henrique Eduardo Alves, já admitiu a hipótese de reverter a decisão,
caso surjam “fatos novos... A Câmara poderá avaliar a situação da
comissão, mas respeitando o direito de cada parlamentar e de cada
partido”, afirmou.
O próprio Marco Feliciano já
sentiu o baque da rejeição. Em entrevista hoje à Folha, ele tentou posar
de vítima e anunciou que pedirá proteção policial. “A situação está
tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo
perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”,
choramingou. Mesmo assim, ele garantiu que não renunciará ao cargo. “Não
estou preocupado” com os protestos. Maroto, ele ainda jogou a culpa por
sua eleição no PT, que abriu mão da presidência do CDHM.
Eleição tumultuada e STF
Marco Feliciano foi eleito
presidente da CDHM na quinta-feira (7). Ele teve 11 votos dos 18
possíveis – um deputado votou em branco e outros seis abandonaram a
sessão. A votação foi feita às portas fechadas, mas houve protestos de
um grupo de ativistas a sua escolha. Quem saiu em sua defesa foi o
deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que na semana anterior ciceroneou a
dissidente cubana Yoani Sánchez. Aos berros, ele extravasou seus
instintos fascistas, chamando os manifestantes de “baderneiros” e
gritando “vão para o zoológico”.
O pastor só chegou ao cargo
devido ao rodízio entre os partidos nas várias comissões existentes na
Câmara. O Partido Social Cristão bancou a provocação ao indicá-lo e
agora é alvo de uma enxurrada de críticas. Diante da manobra do PSC e de
uma parte da bancada evangélica, o deputado Domingos Dutra (PT-MA), que
presidia a comissão, abandonou a reunião, juntamente com as
parlamentares do PT, PSOL e PSB. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) já
anunciou que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a
eleição.
Racista, homofóbico e direitista
A eleição de Marco Feliciano para
presidir a CDHM é uma verdadeira aberração. O deputado é conhecido por
suas posições racistas e homofóbicas. Pela sua conta na twitter, ele já
escreveu que “os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por
Noé” e que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao
crime, à rejeição”. Ele chegou a afirmar que a ex-senadora Marta
Suplicy e a deputada Érica Kokay, defensoras do projeto de lei que
criminaliza a homofobia, “são mulheres com sexualidade distorcida".
O pastor também é alvo de um
processo por estelionato. Num culto gravado em vídeo, ele reclamou de um
fiel que entregou o cartão do banco, mas não revelou a senha. Sua visão
preconceituosa explica o apoio dado a José Serra nas eleições do ano
passado. “Serra merece mais que respeito, merece admiração. É um
guerreiro”, escreveu no twitter. Para ele, o tucano seria o único capaz
de derrotar “a militância dos gays, a militância do povo que luta pelo
aborto, a militância dos que querem descriminalizar as drogas”.
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