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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, agosto 07, 2013

Cartunista é alvo de mensagens ofensivas de admiradores da Rota e de policiais e reclama do “Estado policial”

Após “provocação”, Latuff é alvo de ameaça de morte: “Posso ser assassinado”
Cartunista é alvo de mensagens ofensivas de admiradores da Rota e de policiais e reclama do “Estado policial”
Por Igor Carvalho
Imagem divulgada pela página “Fardados e Armados” no Facebook
O cartunista Carlos Latuff está sendo alvo de provocações e ameaças de morte desde que publicou, em seu perfil no Facebook, uma declaração sobre a morte do casal de policiais militares, que podem ter sido assassinado pelo filho. “Garoto mata seu pai, que era policial da Rota…esse menino precisa de duas coisas: atendimento psicológico e uma medalha”, disse o cartunista na rede social.
Latuff, em entrevista à Fórum, afirma que a frase foi uma “provocação”. “Esse tema é tabu. Não podemos tratar da violência policial no Brasil. Vivemos em um Estado policial, e nesse Estado você não pode ser crítico, senão é ameaçado”, afirma o cartunista.
Uma mulher, identificada como Cardia Ma, que trabalharia na OAB de São Paulo e que, em seu perfil no Facebook diz ter trabalhado na Polícia Militar, mandou uma mensagem a Latuff: “Vc é um lixo humano…cai na minha frente que vou te mostrar como tratar uma pessoa como vc…vou meter a .40 [arma] na tua cara.”
O brigadista Giovani da Silva Pereira afirmou, no seu perfil do Facebook, que se encontrar Latuff, “baixa ele”. A página “Fardados e Armados”, também na rede social, alertou seus seguidores sobre o cartunista. “Guerreiros do Sul – RS, SC e PR se esbarrarem com esse sujeito já sabem de quem se trata. Declaradamente contra as forças policiais esse LIXO maconheiro está festejando a morte da família do Sargento Pesseghini da ROTA/SP.”
Brigadista ameaça “baixa” Latuff
Na página “Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar Rota” outro alerta aos seguidores, em tom ofensivo. “O vagabundo cheira pó pelo lado errado e depois reclama que toma prensa da Polícia, Carlos Latuff sempre sendo infeliz, calado é um poeta”. Na sequência, nos comentários da publicação, muitas ameaças e ironias ao cartunista. Em um dos comentários, um dos admiradores da página sobre a Rota, afirma: “Se vc apoia esse lixo é terrorista igual e se é terrorista, tem mais é que morrer, lixo.”
Latuff afirma que não se arrepende da declaração e nem voltará atrás no que disse. “Quem quer fazer não ameaça, vai e faz. Mas estamos falando de uma polícia que mata mesmo. Não foi a primeira vez que recebo ameaças, se tratando da polícia, tudo pode acontecer, mas saibam que posso ser assassinado.”
*Turquinho

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