“É
o que acontece no Brasil, Venezuela, Argentina… Por enquanto (eu disse,
por enquanto), os EUA evitam por aqui a tática das “intervenções
humanitárias” utilizadas no Oriente Médio. Mas podemos aguardar: nossa
vez chegará. Quanto mais frágil o Império se torna no campo das idéias
(depois de Guantanamo e das intervenções contra Iraque e Líbia, EUA
perderam a capacidade de falar em nome da “liberdade”), mais brutal
torna-se o poder de fato que ele precisa exercer. Quem não pode impor
hegemonia pelas idéias tem que recorrer à desestabilização e à guerra.
Cada vez mais.”
A Questão Nacional está de volta
Rodrigo Vianna
A
década do neoliberalismo deixou várias seqüelas pelo Mundo. A mais
grave foi na Economia: a desregulamentação absurda dos mercados gerou a
crise em que o Mundo ainda chafurda. Mas também houve seqüelas no campo
dos “valores”: a cultura do individualismo é a mais visível, o que
talvez explique o aumento exponencial de depressões e crises
existenciais, num mundo em que apenas o “sucesso individual” parece
importar. Mas calma. Não achem que vou fazer aqui pregação no religiosa
ou de auto-ajuda. Gostaria de falar de outra ideia que ganhou força nos
anos 90: a de que “acabaram-se as fronteiras” e de que “os Estados
nacionais viraram uma velharia, peça de museu.”
Lá
por 1998, uma namorada achou engraçado quando eu disse a ela que era
“nacionalista”, e que por isso não concordava com o programa dos tucanos
para o Brasil. Ela respondeu: “nossa, parece meu pai falando”. De forma
nada sutil, quis dizer que eu pensava feito um velho. “Moderno” era
quem se rendia aos “novos tempos” da (argh) “globalização”. O pai dela,
que tinha sido getulista e trabalhista (e seguia a sê-lo), tinha razão!
Os
Estados Unidos e a Inglaterra saíram por aí a dizer, nos anos 80 e 90,
que o Estado nacional não tinha mais razão de ser. Claro, os “nossos”
Estados deviam sucumbir. Porque o Estado “deles” ficaria ainda mais
forte. A idéia era passar o rodo na América Latina, aprovando a ALCA.
Quase embarcamos nessa. Quase.
Chineses e
indianos jamais acreditaram nessa bobagem. Felizmente, parte da elite
brasileira fingiu que acreditava, mas manteve margem de manobra,
preservando parte do patrimônio nacional. Os tucanos queriam acabar com
BNDES, Petrobras, Banco do Brasil. Uma revista brasileira (sic) editada
às margens fétidas da marginal chegou a baixar norma: Estado deveria
grafar-se com letras minúsculas. Mais didático, impossível.
A
espionagem de Obama repõe agora a Questão Nacional no centro do debate.
Fui nacionalista nos anos 90. E sigo a sê-lo. Precisamos retomar
seriamente o debate sobre a Soberania Nacional. Sim, essa expressão que
nos anos 90 era tida como um palavrão, uma velharia, precisa ser
retomada.
Precisamos de um sistema próprio de
comunicações, satélites próprios, linhas próprias de telefonia e
internet. E lamento dizer: precisamos equipar nossas Forças Armadas, e
precisamos até retomar nosso programa nuclear. Sem fazer barulho, sem
verborragia. Precisamos porque é um imperativo do Mundo em que vivemos.
Na
última década, retomamos a capacidade de sonhar com um país melhor;
tiramos milhões de pessoas da miséria, e a duras penas tentamos
reequipar nosso Estado. Os Estados Unidos, no entanto, nos olham como
colônias. E contam – aqui no Brasil – com facções que travam o debate
sob a ótica do império, tentando fazer crer que Nacionalismo é algo a
ser “superado”. Vejo isso de perto na Universidade: na USP, por exemplo,
há um claro preconceito contra ideias e bandeiras nacionalistas. Vigora
certo liberalismo de punhos de renda.
Para
termos o direito de não sermos vistos como colônia, precisamos agir como
país independente. E para agir assim precisamos antes ganhar o debate
interno. Dilma já começa a trazer a Questão Nacional para o centro do
debate. Mas a Universidade, intelectuais (sic), blogueiros e jornalistas
(não falo da turma que sonha em virar vizinho de Barbosa em Miami) têm a
obrigação de retomar esse debate: A Questão Nacional está de volta! De
forma definitiva.
Vargas caiu porque enfrentou
os gringos em 54. Eles derrubaram também governos nacionalistas na
Guatemala, no Irã, tentaram barrar o avanço do Vietnã e da China. Isso
lá nos anos 50 e 60.
Na América Latina, de armas
na mão, fizeram a festa nos anos 60 e 70. E tentam agora enfraquecer
governos progressistas surgidos no iníci do século XXI, estimulando
oposição interna e usando seus parceiros eventuais na velha mídia (é só
procurar no Wikileaks quem são os interlocutores dos EUA: mervais e
outros que tais).
É o que acontece no Brasil,
Venezuela, Argentina… Por enquanto (eu disse, por enquanto), os EUA
evitam por aqui a tática das “intervenções humanitárias” utilizadas no
Oriente Médio. Mas podemos aguardar: nossa vez chegará. Quanto mais
frágil o Império se torna no campo das idéias (depois de Guantanamo e
das intervenções contra Iraque e Líbia, EUA perderam a capacidade de
falar em nome da “liberdade”), mais brutal torna-se o poder de fato que
ele precisa exercer. Quem não pode impor hegemonia pelas idéias tem que
recorrer à desestabilização e à guerra. Cada vez mais.
A
espionagem sem limites contra o Brasil é um sinal de que já estamos
chegando a esse ponto. E a conjuntura parece favorável para retomar esse
debate. A Globo mesmo, acossada pelo avanço de corporações
multinacionais como o Google, pode tornar-se parceira no combate à
ingerência patrocinada por Obama.
Ou vocês acham
que essas reportagens no “Fantástico”sairiam com tal destaque se o
contexto fosse diferente? (atenção, com isso não tiro o mérito dos
jornalistas da Globo que fazem um ótimo trabalho, e prestam um serviço
ao Brasil expondo a arapongagem dos EUA)
Obama
foi didático. Devemos agradecer a ele. E agora façamos o debate.
Nacionalismo, Soberania, Defesa do Interesse Nacional. Tudo isso –
insisto – volta à pauta. E com letra maiúscula.
*GilsonSampaio
Nenhum comentário:
Postar um comentário