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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 18, 2013

Correa mostra 'mão suja' da Chevron, que continua negando crime no Equador

Correa mostra 'mão suja' da Chevron, que continua negando crime no Equador


Depois de anos afastado da questão, presidente volta a se engajar na luta das vítimas da Chevron e 'reforça' campanha contra empresa condenada pela justiça a pagar US$ 19 bilhões em indenizações por catástrofe ambiental na Amazônia.

São Paulo – O presidente do Equador, Rafael Correa, viajou ontem (17) à região amazônica do país para mostrar “mão suja” que a empresa petrolífera norte-americana Chevron deixou sobre uma parte da floresta. 
Autorizada pelo governo militar, a companhia operou na província de Sucumbíos, no nordeste equatoriano, entre 1964 e 1992. Deixou centenas de piscinas de petróleo, água de formação e outros elementos tóxicos. 
 
Os danos causados ao meio ambiente e às populações locais se transformaram num processo judicial que, em 2011, condenou definitivamente a Chevron a pagar uma indenização de US$ 19 bilhões apenas para remediar a contaminação. 
 
O caso começou nos Estados Unidos há quase 20 anos e foi transferido à cortes do Equador a pedido da empresa, que agora diz que o julgamento foi manipulado pelas autoridades do país.
 
Em sua mais recente viagem ao palco de uma das maiores catástrofes ambientais do século 20, Rafael Correa pegou com a mão resíduos de petróleo de uma das piscinas. 
 
Muitas delas foram soterradas pela companhia, sem qualquer tratamento, contaminando lençóis freáticos. 
 
Outras permanecem a céu aberto até hoje. Estão abandonadas pela Chevron há 26 anos. 
 
Como era esperado, a companhia qualificou a ação do presidente como “show midiático” e insistiu em que Correa deu mostras de uma nova interferência no processo ambiental que milhares de colonos e indígenas da Amazônia instauraram contra a Chevron – que na época em que operava na Amazônia equatoriana se chamava Texaco. 
Modesta Briones, que costumava tomar banho e lavar a roupa apenas a jusante de um poço de petróleo, teve sua perna amputada para remover um tumor canceroso. Cinco anos após a cirurgia, Briones morreu quando o câncer se espalhou por seu corpo.
O governante disse que lhe coube mostrar a “verdade” da contaminação para responder a uma campanha multimilionária da companhia petrolífera contra seu país. Em suas primeiras semanas de governo, em 2007, Correa já havia se dirigido à região afetada prestar apoio às vítimas.
Correa citou, entre outros temas, um processo que a Chevron prepara contra o governo equatoriano em um tribunal de Haia, pelo qual a companhia pretende exigir a devolução da indenização à qual foi condenada por uma corte de justiça no Equador – e que ainda não pagou. Como não possui mais ativos no país, a empresa alega que não possui recursos para cumprir a decisão judicial. 
 
Agora, os autores do processo tentam fazer com que a justiça de outros países, entre eles o Brasil, execute a sentença contra a Chevron para que seus bens possam ser confiscados para o pagamento da indenização. Em território brasileiro, A empresa opera, entre outros, o campo de Frade, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. E foi responsável por um vazamento de 3.700 barris em 2011.
 
“Este é um dos maiores desastres ambientais que o planeta já sofreu”, declarou Correa, reiterando que os danos provocados pela contaminação na Amazônia equatoriana supera os conhecidos casos da British Petroleum no Golfo do México, e da Exxon Valdez, no Alasca, ambos nos Estados Unidos. 
 
O desastre supera ainda a tragédia ambiental causada pelo petroleiro Prestige na costa galega da Espanha. 
O presidente pediu à comunidade internacional “reagir contra tanta impunidade” e disse que convocará em breve personalidades mundiais para que apoiem sua campanha para que a Chevron pague as indenizações. 
Correa pediu ainda que os norte-americanos deixem de consumir produtos da Chevron, companhia que investiu centenas de milhões de dólares em uma campanha para deixar de cumprir suas responsabilidades judiciais.
 
O presidente (foto acima) enfatizou que o julgamento ambiental empreendido por camponeses e indígenas amazônicos contra a Chevron é um processo movido por particulares e no qual o governo equatoriano não teve interferência, como declara a companhia petrolífera. 
O dinheiro que virá com a indenização tampouco irá para o Estado. Nem mesmo para as vítimas. A ideia é que todos os recursos sejam dirigidos para a descontaminação do meio ambiente. Segundo Correa, sua reação obedece à campanha iniciada pela companhia petrolífera americana contra sua administração, em sua intenção de não pagar a multimilionária indenização à qual foi condenada no Equador. 
 
Análise de Conjuntura/Free ilustration by: militanciaviva!

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