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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, setembro 03, 2013

“Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.”


“Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.”
- Fernando Pessoa

Nós não aguentamos mais os outros ou não aguentamos mais os “comigos” dentro de cada um de nós?

Nós seres humanos, estamos “programados” a apontar os erros alheios, na tentativa de infligir sofrimentos, criticar de maneira destrutiva e não produtiva.
Porque?
Quando julgamos alguém estamos revelando um pouco de nós, alguma falta que se encontra em nós. Algo que não gostamos ou não aceitamos, mas está lá, então tentamos destrui-la de maneira externa.

"O homem é dono do que cala e escravo do que fala."
"Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo"
- Sigmund Freud

Quando infligimos sofrimento, estamos na verdade sofrendo, por mais que a gente negue e diga que não, nós estamos. Mas não percebemos isso, pois estamos “dormindo” e não sabemos que em um processo inconsciente. O sofrimento se alimenta de sofrimento e ele não suporta a alegria, sempre procura ostentar e buscar mais sofrimento, quando não percebemos esse processo, ele se torna inconsciente, automático, é preciso quebrar o ciclo através da aceitação da própria "sombra".

“Quando uma pessoa faz você sofrer, é porque ela sofre profundamente dentro dela, e o sofrimento dela está vazando e se espalhando.
Essa pessoa não precisa de uma punição, ela precisa de ajuda.”
- Thich Nhat Hanh

Você já deve ter observado vozes dentro de sua cabeça julgando, criticando e reclamando o todo tempo de algo ou de alguém. Essas vozes sempre lhe dizem o que você tem que fazer, agem como se fossem seus melhores amigos, ou piores inimigos, esses são os “comigos” dentro de você. Há como transformar esses “comigos” em um só? Acredito que não. Mas é possível sermos um com todos os vários, mas para isso, é preciso aceitar um paradoxo que só pode ser compreendido quando estamos em nosso CENTRO. Somente através da observação de nós mesmos que retornamos ao centro, e não seguindo nossas vozes mentais no impulso.

"Conhecer a sua própria escuridão é a melhor maneira de lidar com a escuridão dos outros."

"O melhor trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é parar de projetar nossas sombras nos outros."

"Não existe como criar consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, não importa o quão absurdo seja, para evitar encarar a própria alma. Não nos tornamos iluminados apenas imaginando figuras de luz, mas criando consciência da escuridão. Porém, esse procedimento é desagradável, portanto, não popular."
- Carl Gustav Jung

Recomendo o livro e documentário:
"O Efeito Sombra"
http://libertesedosistema.blogspot.com.br/2013/07/o-efeito-sombra_12.html

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