A administração estado-unidense lançou o processo de obtenção da
aprovação do Congresso para um ataque contra a Síria. O comité de
negócios estrangeiros do Senado votou pela resolução de apoio à ação
planeada. O próximo passo é levar a moção ao plenário do Senado e a
seguir à Câmara dos Deputados para receber apoio bipartidário. Deste
modo Washington está a tentar fazer com que a decisão de atacar a Síria
pareça legítima, ainda que esteja a contornar o Conselho de Segurança
das Nações Unidas.
A previsão de que a guerra se espalhará para abarcar todo o Médio
Oriente caso os Estados Unidos ataquem a Síria está a tornar-se
verdadeira. Como era de supor, o primeiro ator externo a ser envolvido é
o Irã. O alistamento está em curso, jovens iranianos estão desejosos de
envergar o uniforme e defender a Síria. O número de voluntários é de
aproximadamente 100 mil. Eles enviaram uma carta ao presidente da Síria a
pedirem sua permissão para serem posicionados na área das Alturas do
Golan... Eles querem que o seu governo providencie uma ponte aérea para a
Síria através do espaço aéreo iraquiano. O Iraque é o país com maior
população xiita; é alta a probabilidade de que milhares de xiitas venham
a juntar-se aos voluntários iranianos. Se Obama queria que as brigas
inter-religiosas no Oriente Médio se transformassem numa carnificina de
âmbito universal, agora ele pode conseguir isso, ou, para ser mais
exato, ele pode provocar o seu arranque na Síria com o lançamento dos
mísseis Tomahawk contra este país.
É a Síria que está à vista, mas o alvo principal é a República Islâmica
do Irã. A política do recém-eleito presidente Rouhani está voltada para a
normalização das relações com o Ocidente e a travar o isolamento
internacional. Isto provoca preocupação entre os círculos dirigentes dos
Estados Unidos e Israel. Desde há muito os americanos têm estado a
culpar o Irã por todas as perturbações no Médio Oriente, mesmo quando
era claro que o Irã nada tinha a ver com o que aconteceu. Pode soar como
um paradoxo, mas a disponibilidade de Teerã para começar as
conversações sobre o programa nuclear foi percebida pela administração
Obama como uma ameaça aos seus interesses. De acordo com a lógica da
Casa Branca, os EUA podem perder o seu principal argumento na
confrontação com Teerã. Portanto as sanções dos EUA não instilarão mais
medo. A Europa já está a enviar sinais não ambíguos a demonstrar que
espera um progresso real a ser alcançado nas conversações. Os EUA não
têm laços comerciais e veem as sanções como uma alavanca eficaz no
impasse ao passo que os europeus enfrentam perdas de muitos milhares de
milhões.
O argumento da "ameaça nuclear iraniana" tornou-se uma obsessão para
Washington após a saída de Ahmadinejad. Ele cumpre plenamente a intenção
de encontrar um pretexto para a guerra. A fase síria da operação
militar está para arrancar em breve.
O Irã não precisa de guerra. Os iranianos, ao invés, querem que Obama
pondere seriamente as consequências de tal ação deixando-o saber que não
há nenhuma maneira para que possa ocultar-se por trás do Congresso. O
ministro iraniano dos Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif said, disse: "O
sr. Obama não pode interpretar e mudar o direito internacional com base
na sua própria vontade". E acrescentou que "Só o Conselho de Segurança
da ONU, sob circunstâncias especiais, pode autorizar uma ação coletiva, e
isso será sob o Capítulo 7 da Carta da ONU, e esta questão precisa da
aprovação do Conselho de Segurança". De um modo geral isso coincide com a
posição da Rússia.
Teerã não vê intriga no fato de que o Congresso acabará finalmente por
sancionar a guerra contra a Síria, apenas está curiosa por ver como os
legisladores dos EUA farão isso sob o pretexto de "punir" a Síria por
utilizar armas químicas enquanto contornam a questão iraniana. Os
membros do Congresso inevitavelmente considerarão o "fator iraniano". Ao
apelar pela guerra contra a Síria, o secretário de Estado John Kerry
tenta convencer os legisladores de que, se nenhuma ação for tomada
contra a Síria, é mais provável que o Irã avance no seu programa
nuclear. Kerry não discute sobre a disponibilidade de ligação direta
entre os eventos na Síria e o programa nuclear iraniano, ele
simplesmente declara a posição da Casa Branca. O secretário da Defesa
Chuck Hagel diz que não efetuar ação contra a Síria minará a capacidade
de Washington para conter os esforços nucleares iranianos. O Congresso
dos EUA está sob forte influência do lobby judeu e os argumentos
funcionam porque, sendo hostil à Síria, Israel sempre teve o Irã em
mente. Onde exatamente é desenhada a "linha vermelha" representa uma
questão de importância menor para os políticos israelenses. Alguns
republicanos no Congresso não só apoiam a ação contra a Síria como
clamam por uma intervenção de maior escala dizendo que um ataque
limitado não será suficiente para assustar seriamente o Irã. Um ataque
contra a Síria é provável que faça Teerã incremente a sua segurança,
incluindo a aquisição de armas nucleares como um dissuasor universal...
Isto é uma advertência razoável à qual não se presta atenção. Tendo o
Irã em vista, uma provocação militar contra a Síria destina-se também a
aumentar o desacordo nas fileiras da liderança iraniana. Washington
espera que políticos voltados para a guerra venham a prevalecer e o
governo iraniano terá de ceder e abandonar abordagens equilibradas à
questão. Na verdade, apenas há poucos meses tais ameaças abertas de
Washington teriam alimentado uma tempestade de respostas, o antigo
presidente Ahmadinejad costumava dar o tom. Agora o Irã parece estar
extremamente contido. Falando a Obama na sua ausência, o ministro da
Defesa do Irã, Brig. Gen. Hossein Dehghan, utiliza linguagem diplomática
adequada e insiste em que todos os problemas deveriam ser resolvidos
por meios políticos.
Contudo, a contenção pública do novo governo iraniano não deveria dar
ilusões aos americanos. Não é com burocratas do governo que eles terão
de tratar casos comecem ações de combate, mas sim com as forças armadas
da República Iraniana - o garante da retaliação no caso de o país ser
atacado.
O chefe dos assessores do Irã, Hassan Firouzabadi, foi citado a declarar
que se os EUA atacarem a Síria, Israel será atacado. Não é casual que
voluntários iranianos que estão a ir defender a Síria, não tenham
interesse em serem posicionados nas áreas adjacentes às fronteiras com a
Turquia ou Jordânia. Não, eles querem estar nas Alturas do Golan - a
linha da fronteira síria-israelense disputada desde há muito. Um ataque
potencial feito pelo Irã contra Israel em retaliação pelo ataque dos EUA
à Síria é o pior cenário de todos; este será o caso em que é impossível
evitar uma guerra em grande escala no Oriente Médio. Ao invés de tomar
uma decisão para recuar de uma ação militar contra a Síria, Obama está a
empurrar o Irão contra a parede ao encenar provocações incessantes.
Como esta, por exemplo: o recente teste de demonstração israelense como
preparação para o ataque retaliatório iraniano.
Nikolai Bobkin
No Irã News*comtextolivre
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