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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 15, 2013

José Dirceu no cinema: dois filmes narrarão as perseguições e as injustiças cometidas contra o homem que elegeu Lula presidente

José Dirceu no cinema: dois filmes narrarão as perseguições e as injustiças cometidas contra o homem que elegeu Lula presidente, que tirou milhões da miséria e da pobreza, e que está sendo moralmente linchado pela direita brasileira com a farsa covarde do "mensalão"


DIRCEU: BEM LONGE DE SER O "VILÃO DA REPÚBLICA"

do Brasil 247

Renato Dias, autor de livros sobre a esquerda brasileira e repórter especial de política do Diário da Manhã, produziu um alentado perfil sobre o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que terá seu destino decidido na próxima quarta-feira, pelo ministro Celso de Mello; Dias ouviu a cineasta Tatá Amaral, que produz o documentário "O vilão da República", sobre os últimos meses do réu mais notório do País, e o ator José de Abreu, que também fará um filme sobre o julgamento da Ação Penal 470; saiba mais sobre esse personagem que desperta admiração e ódio

15 DE SETEMBRO DE 2013 ÀS 12:55


por Renato Dias, da editoria de política do Diário da Manhã


(texto cedido para o 247)


Dois filmes, uma história. É a vida de José Dirceu de Oliveira e Silva, líder estudantil das revoltas de 1968 no Brasil, exilado em Cuba, dirigente do Molipo, arquiteto da chegada do PT ao palácio do Planalto e réu na Ação Penal 470.

Diretora do celebrado ‘Hoje’, longa que aborda os ‘fantasmas’ dos anos de chumbo da ditadura civil e militar no Brasil (1964-1985), a cineasta Tata Amaral, com a Tangerina Filmes, sua produtora, quer lançar no mercado “O Vilão da República”.

Por meio da Lei Rouanet, ela poderá captar, em renúncia fiscal, R$ 1,5 milhão para produzir o documentário. A realizadora já possui 20 horas de gravação. Não há data definida para ainda para a sua chegada aos cinemas do País.

Tata Amaral revela a O Estado de S. Paulo que o ponto de partida é a pergunta: “Como José Dirceu se transformou no vilão da República?”. A produção abordará a sua passagem pela Casa Civil, sob a gestão de Lula, até o julgamento final da ação.

O Vilão da República seria uma espécie de documentário do gênero “filme de observação”, diz. As câmeras irão monitorar o comportamento do personagem polêmico, que é amado e odiado, na mesma intensidade, em um momento importante de sua história.

Não se trata apenas de um filme de entrevistas, jornalístico, avisa ela. A cineasta Tata Amaral, que também fez o longa de ficção “Antônia”, viajará para os Estados Unidos, Cuba, Venezuela. O ex-presidente Lula poderá participar do filme

Nas telas

Já o filme “AP-470 – O golpe jurídico” terá a participação do ator de telenovelas José de Abreu. Ele, que compõe o elenco da nova novela da Globo Joia Rara, anunciou a celebração do contrato pelo Twitter. Registro: na última terça-feira. 

O seu personagem será um dos ministros do Supremo tribunal Federal. José de Abreu trabalhará ainda na produção. Amigo do ex-ministro-chefe da Casa Civil e ex-presidente nacional do PT José Dirceu, o ator começará a pesquisa já no ano de 2014.

“Não sei qual ministro vou fazer, não temos roteiro ainda. Eu só publiquei para ser a primeira notícia. Não registramos ainda na Ancine (Agência Nacional do Cinema) nem na Biblioteca Nacional. Não tem roteiro, argumento, nada”, disse ao Zero Hora.

“Sou muito amigo do Zé Dirceu, vou ter acesso a coisas importantes. Tem muita coisa pública. O Supremo Tribunal Federal (STF), quando publicar o acórdão, trará mais informações públicas. Os advogados do Dirceu também podem ajudar”, explica.

José de Abreu afirma que a ideia do filme é o julgamento. “É pegar o Palácio do Planalto, a Casa Civil, e depois pular já para o julgamento”, dispara. Para apimentar, ele promete histórias de bastidores. “Tem de ter bastidor”, fuzila. 

Não se trata de documentário, garante. É um filme de ficção, frisa. Os antecedentes históricos farão parte do roteiro. “A mudança do PT que perdia a eleição para o PT que ganha a eleição”, atira. Ele informa já ter feito pesquisas.

“Alguém falou que houve pagamento mensal? Nem o Joaquim Barbosa [presidente do Supremo Tribunal Federal] falou em pagamento mensal. São essas coisas que a gente têm de discutir, mas tudo isso dramaticamente. Tem de ser uma coisa ficcionada”. 

O ator não revela a angulação do filme. Ainda não acabou o julgamento, analisa. É cedo pra falar, completa. “Se você ler o Paulo Moreira Leite, o Jânio de Freitas, vai ver que existem vozes que levantaram-se contra esse julgamento”, destaca.

A ideia central é que a base do filme seja o julgamento, com flashbacks. Veja a questão do televisionamento ao vivo de um julgamento penal, diz.“Vamos tentar chegar o mais perto possível da verdade. A verdade para um não é a verdade para outro”. 

Ao jornal Zero Hora, José de Abreu afirma não temer ficar estigmatizado com um petista raivoso. “Se você entrar na página da novela Joia Rara, tem uma matéria sobre mim dizendo: ‘Esquerdista José de Abreu vai fazer papel que é o seu oposto’. Eles assumiram que eu sou de esquerda sem o menor problema”, diz. 

Saiba mais sobre o ex-ministro da Casa Civil

José Dirceu, um personagem controverso

Depois de orquestrar o aggiornamento do PT de 1995 a 2002, que moderou seu discurso, mudou a sua práxis e atraiu novos aliados para Luiz Inácio Lula da Silva e cia. Ltda chegarem ao poder, José Dirceu de Oliveira e Silva, “o capitão do time”, assume, em janeiro de 2003, o cargo de ministro da Casa Civil.

A sua passagem pelo coração do Palácio do Planalto durou exatos 30 meses. Ele deixou o cargo na crise política de 2005. Um apartamento de três quartos na Vila Madalena, em São Paulo, e uma casa em Vinhedo (SP). Esse era o seu patrimônio quando despediu-se da “camarada de armas” Dilma Vana Rousseff. 

Nada incompatível com os rendimentos de um advogado formado na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que havia exercido os mandatos de deputado estadual (1986), três vezes de deputado federal (1990, 1998 e 2002) e de presidente nacional do PT, de 1995 a 2002, uma função tradicionalmente remunerada no partido.

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato e formação de quadrilha, o seu patrimônio particular no ano em que foi cassado pela Câmara dos Deputados é uma demonstração de que ele não teria desviado recursos públicos para bolsos privados, muito menos se enriquecido de forma ilícita. 

História

Não custa lembrar: preso, em 1968, no Congresso da UNE de Ibiúna (SP), José Dirceu passou exatos 10 meses e 24 dias na cadeia. Acabou libertado após a captura, não sequestro como aponta Otávio Cabral [Mais uma disputa pela memória],  do embaixador dos EUA no Brasil, o liberal Charles Burke Elbrick. 

Com o ato complementar 64, foi banido do Brasil. Antes, exibiu as algemas após conclamação de Flávio Tavares em fotografia histórica. Ele foi o quinto a pisar em solo mexicano. Em 30 de setembro de 1969, com mais 12 comunistas de linhagens diversas, embarca para Cuba, onde foi recepcionado por Fidel.

Em Havana, adota o codinome Daniel. Ele funda o Molipo, uma dissidência da ALN. Com a Anistia, retorna ao Brasil. É um dos 111 signatários da ata de fundação do Partido dos Trabalhadores. Em 1990, muda-se para a Capital da República e constitui-se em um dos líderes do movimento de impeachment de Fernando Collor. 

PMDB

Ao assumir a Casa Civil, em 2003, defende acordo político com cargos para o PMDB. Lula veta. José Dirceu faz pacto com o “príncipe da privataria” Fernando Henrique Cardoso, como define Palmério Dória, e não investiga casos de corrupção em sua gestão nem adota medidas para rever a farra de privatizações(1997-2002) 

Em 2004, estoura o escândalo Waldomiro Diniz, cujo pedido de propina é de 2002. Uma gravação que teria sido feita pelo araponga Dadá e repassada a Policarpo Júnior, amigo de Carlinhos Cachoeira,vai parar na Veja e surta Roberto Jefferson. O cardeal do PTB diz que o PT pagava mesada aos deputados da base aliada. 

Mas nos mapeamentos das votações no Congresso não há relação entre a liberação dos recursos e os votos nas mensagens. Paulo Moreira Leite frisa que tratam-se de acertos de campanhas eleitorais. Aristides Junqueira admite Caixa 2. José Dirceu cai da Casa Civil em 16 de junho de 2005 e perde o mandato por 293 a 192.

Novo capítulo

Com a quebra dos seus sigilos bancários, telefônicos e fiscais nada é encontrado. Ao contrário do caso Demóstenes Torres. Ministro do STF, Ricardo Lewandowisk admite que a imprensa acuou o STF. O mesmo STF que extraditou Olga Benario e abençoou o golpe de 1964 fez, então, o “maior julgamento de sua história”. Nada mais falso. Novo capítulo ocorrerá quarta-feira. (Renato Dias)


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