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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 06, 2013

Missão boliviana apresenta ao Brasil provas contra senador fugitivo

Missão boliviana apresenta ao Brasil provas contra senador fugitivo

Autoridades reúnem-se hoje com integrantes do Comitê Nacional para Refugiados, presidido pelo ministro José Eduardo Cardozo

Renata Giraldi, da Agência Brasil

Brasília – A missão de alto nível de autoridades da Bolívia, formada por três ministros e integrantes do Ministério Público, reúne-se hoje (6), às 15h, com especialistas do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) no Ministério da Justiça, em Brasília. A missão veio ao Brasil para apresentar documentos que comprovem as acusações existentes na Bolívia contra o senador Roger Pinto Molina, que busca ostatus de refugiado ou asilado político.
O comitê é presidido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mas fazem parte também integrantes dos ministérios das Relações Exteriores, do Trabalho e Emprego, da Saúde, Educação, e da Polícia Federal. A Embaixada da Bolívia em Brasília não confirmou à Agência Brasil a participação de Cardozo na reunião.
A ministra da Justiça da Bolívia, Cecilia Ayllón, disse que a missão está no Brasil para apresentar um “conjunto jurídico” sobre os processos pendentes do senador, segundo a agência pública de notícias da Bolívia, ABI.
“O mais importante dessa reunião [em Brasília] é explicar a situação jurídica de Roger Pinto, uma pessoa que fugiu do país, que tem processos pendentes com a Justiça boliviana, desde que ocupou o cargo de prefeito de Pando”, disse a ministra.
No Brasil há 13 dias, Pinto Molina ficou abrigado por 455 dias na embaixada brasileira em La Paz  e, ao deixar seu país, deflagrou uma crise diplomática entre bolivianos e brasileiros. O governo de Evo Morales classifica o parlamentar como um “delinquente comum”. O senador nega as acusações relativas a desvios de recursos públicos e corrupção. No total, são mais de 20 processos.
“As acusações contra o senador Pinto Molina surgiram a partir de 2011, quando ele passou a denunciar o envolvimento de autoridades ligadas ao presidente Evo Morales com o narcotráfico. Ele [Pinto Molina] tem 30 anos de vida pública e jamais houve uma denúncia contra ele, só agora, por que será?”, reagiu o advogado de Molina, Fernando Tibúrcio Peña.
A missão boliviana quer evitar a concessão do status de refugiado ou asilado político a Pinto Molina. Para as autoridades da Bolívia, o ideal é que ele seja enviado ao país, onde deverá responder aos processos pendentes. “Se não for concedido o refúgio a Pinto Molina, o que o Brasil deveria fazer é expulsá-lo e colocá-lo na fronteira com a Bolívia para que seja submetido à Justiça e julgado por seus delitos”, disse a ministra boliviana.
A missão de alto nível é formada pelos ministros Carlos Romero (Casa Civil),  Nardi Suxo (Transparência Institucional e Luta contra a Corrupção), Cecilia Ayllón (Justiça) e integrantes do Ministério Público.
Para o advogado do senador, a vinda da missão a Brasília demonstra que o tema é tratado de forma política, e não jurídica, pelo governo Evo Morales. “Não temos preocupação alguma com a chegada dessa missão de alto nível, pois isso só confirma que o assunto é tratado de maneira política, afinal há três ministros no grupo e mais integrantes do Ministério Público. É bom que todos venham para o Brasil e tragam os documentos que, na verdade, comprovam a inocência do parlamentar”, disse Tibúrcio.
Anteontem (4), a defesa de Pinto Molina foi surpreendida. Vásquez Villamor, que seguia de La Paz para Brasília, ficou retido por seis horas no Aeroporto de Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia). Ex-senador, o advogado conseguiu ser liberado após longa negociação com as autoridades bolivianas. Ele vem a Brasília para agregar mais documentos ao processo de Pinto Molina.
O senador foi retirado da Bolívia em uma operação organizada pelo encarregado de Negócios do Brasil em La Paz, o diplomata Eduardo Saboia, que desencadeou uma crise diplomática. O então chanceler Antonio Patriota foi substituído por Luiz Alberto Figueiredo Machado. Em junho de 2012, o Brasil concedeu asilo diplomático a Molina, mas o governo boliviano não deu o salvo-conduto para ele deixar o país.
* amoralnato

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