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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 04, 2013

O tamanho que Dilma precisa ter


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Hoje é um dia de agenda reservada para a Presidenta Dilma Rousseff e os jornais especulam que ela poderia ter um encontro privado com o Presidente Barack Obama.
Não é crível.
Só poderia acontecer se os canais diplomáticos americanos fizessem chegar antecipadamente a intenção norte-americana de uma retratação – e pública – pelo episódio do grampo sobre as comunicações do governo brasileiro.
Fora disso, seria um constrangimento para a mandatária brasileira ver-se obrigada – exceto pelo protocolo público da reunião do G-20 – a atos de amabilidade com um chefe de Estado que não apenas violou a soberania brasileira como se recusa sequer ao compromisso de não mais fazê-lo.
Para nada, para que um encontro? Para uma exibição hipócrita de sorrisos ou, inútil, de carrancas?
Diplomacia se faz buscando efeitos objetivos, não convescotes de amabilidades ou arreganhos de valentia.
O dia tem tarefas muito mais produtivas para Dilma:  a articulação de uma “resposta” econômica à desestabilização das economias emergentes pelo provável fim do “quantitative easing” – a política de expansão monetária em vias de revogar-se nos EUA – com a criação de um fundo de reservas entre os Brics, bem como um banco de fomento multilateral entre Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.
E, ao lado destas conversações econômicas, a busca de uma articulação para que os Brics se tornem não apenas um conjunto de interesses econômicos mas, também, um bloco de poder político mundial, como o seu tamanho na economia, na população e na geografia mundial torna inadiável.
Não importa que seja da índole de Barack Obama ter gestos simpáticos com a presidenta brasileira, ou que esta, pessoalmente, seja capaz de dialogar com o mandatário americano sobre qualquer assunto, em termos civilizados.
Um encontro entre ambos, privado ou semiprivado, sem um reconhecimento de erro e o compromisso de evita-lo, de agora por diante, representaria o conformismo brasileiro com a violação de fato e de direito de nossa soberania.
O Brasil apresentou seu pedido de explicações, e as quer escritas, no papel.
Não em sorrisos.
Por: Fernando Brito
*Tijolaço 

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