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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, fevereiro 16, 2014

Continua grave o estado da menina Democracia


por Denise Queiroz

Vítima de uma tentativa de assassinato bárbaro e com requintes de crueldade, a menina Democracia está internada desde novembro do ano passado. Respira por aparelhos, em estado grave, o que inspira cuidados constantes. Especialistas de alto-nível, cada vez mais escassos no tratamento de pacientes com esse grau de fragilidade, foram convocados para tentar mantê-la viva. Em esforço conjunto, investigadores tentam apurar os autores do crime, mas a grande quantidade de indícios de que são muitos os envolvidos dificulta a operação.

A menina foi encontrada, numa madrugada do final de novembro, agonizante, numa ruela que não consta nos mapas, por cidadãos que passavam, por volta das 4 da manhã, em direção ao trabalho. Depois de insistentes chamados aos serviços de emergência, por volta das 7:30 uma ambulância chegou. Um dos paramédicos sussurrou que não havia esperanças e que, sem equipamento adequado, as chances eram mínimas. Lembrou também que as emergências de todos os hospitais estavam lotadas e, até que a internação pudesse ser feita, o óbito ocorreria. Uma senhora de meia-idade que passava nesse momento reconheceu a menina, que havia visto sair de longo coma em 1979, e insistiu para que todos os recursos fossem empregados na tentativa de salvá-la.

Diante da identificação e insistência, os atendentes se comunicaram por rádio com um hospital de referência, local mais certo para atendimento desse tipo de figurões. Embora o descrédito inicial, quando a vítima deu entrada na emergência, imediatamente todos a reconheceram, as fichas do atendimento foram apagadas e o fato passou a ser tratado com sigilo. Boatos começaram a correr pelas redes sociais, mas até a última semana não havia confirmação oficial, o que só veio a ocorrer diante da definição de data limite para desligar os aparelhos, caso não houvesse reação.

As investigações prosseguem. Acusações sobre os autores e seus interesses pipocam tanto na internet quando nos meios tradicionais de informação. Com isso, cada dia surgem mais pistas de quem estaria por trás desse crime bárbaro. As informações oficiais continuam escassas. Segundo fontes, que preferem manter o anonimato, há tentativa de bloquear qualquer o acesso aos boletins e às equipes encarregadas, tanto do tratamento quanto das investigações. Devido à importância da paciente, vários membros da sociedade organizada e através da web estão se revezando em plantão permanente, e acreditam que, embora as dificuldades sejam evidentes, ela sobreviva mais uma vez.



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