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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Mujica sugere que o mundo siga o Uruguai

Por Malena Castaldi e Felipe Llambías

MONTEVIDÉU, 13 Fev (Reuters) - Os Estados Unidos e Europa deveriam mudar o enfoque de sua luta contra as drogas e estudar novas alternativas, como a do Uruguai, que regulamentou a produção e venda de maconha para combater o narcotráfico, disse nesta quinta-feira o presidente uruguaio, José Mujica, em entrevista à Reuters.
Mujica garantiu ser necessário que os países centrais, que dispõem de mais recursos, enfrentem o problema com ferramentas diferentes da repressão.
"Nós tratamos de inventar um caminho, recolhendo algumas experiências", disse Mujica em sua casa nos arredores de Montevidéu. "Para um país pequeno é possível testar isto, mas também é muito possível para um país desenvolvido, pelos recursos que tem."
O Uruguai aprovou em dezembro uma lei que permite ao Estado regulamentar a produção e o comércio de maconha, em um novo enfoque para enfrentar o narcotráfico e a insegurança.
"Se analisamos com objetividade o que está acontecendo em alguns Estados norte-americanos, nos damos conta que há uma certa evolução nesse sentido. É inegável", disse o presidente.
"As sociedades industriais são as que têm de mudar... A Europa também, acredito, tem de mudar", acrescentou.
Mas apesar dos esforços que muitos países fazem, se os grandes consumidores de drogas ilícitas não adotarem uma mudança de estratégia será muito complicado obter avanços, disse o presidente, de esquerda.
"Aqui, os grandes mercados são os mercados centrais, os que têm grande poder aquisitivo e são, no fundo, o grande atrativo econômico. Até que as coisas não mudem lá, vai ser muito difícil que mudem no restante", afirmou o presidente ex-guerrilheiro, de 78 anos.
Apesar de tudo, Mujica disse que ainda falta maturidade para se chegar a um consenso global sobre uma mudança de política para as drogas.
O presidente uruguaio se mostrou convencido de que as Forças Armadas devem ficar à margem do combate às drogas para evitar expô-las à corrupção do milionário negócio ilegal.

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