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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

    'O QUE APRENDI COM MEU PAI: JOANA SARAGOÇA & DIRCEU' - #ApoioZéDirceu no facebook e twitter.



Em perfil publicado no Diário do Centro do Mundo, jornalista Paulo Nogueira conta que a jovem de 24 anos visita o pai semanalmente na Papuda e virou notícia ao repetir o gesto de José Dirceu – que cerrou o punho quando se entregou à PF – na formatura; "Não tenho nenhuma intenção de entrar na política", diz Joana Saragoça

13 DE FEVEREIRO DE 2014 

247 - A jovem de 24 anos Joana Saragoça, recém-formada em Relações Internacionais, visita o pai semanalmente na Papuda, em Brasília, onde ela diz que ele está razoavelmente bem instalado. José Dirceu é o homem que ela mais ama no mundo, conforme escreveu em sua página no Facebook. A moça que ficou conhecida por cerrar os punhos, como fez o pai ao se entregar, na formatura, diz não ter planos de carreira política. Leia abaixo o perfil escrito pelo jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, nesta quinta-feira 13:

O que aprendi com meu pai: Joana Saragoça & Dirceu

Quase todas as quartas, uma mulher jovem, alta e loira se coloca na fila do presídio de Papuda, em Brasília, às nove da manhã para fazer uma visita.

A espera, num dia bom, dura uns 30 ou 40 minutos. Depois, ela fica ali até o final das visitas, por volta de 14h30.

O homem que ela visita tem aproveitado seu tempo livre, se assim podemos chamá-lo, para fazer algo que no dia a dia corrido é difícil: ler.

"Meu pai já leu 25 livros desde que foi preso", diz ela.

Joana Saragoça é seu nome, e o de seu pai é Dirceu. José Dirceu. "O homem que mais amo no mundo", como se pode ver em sua página no Facebook.

Na foto de perfil que escolheu no Facebook, Joana, 24 anos, aparece como bebê nos braços do pai barbudo, no final da década de 1980.

Joana diz que nas visitas chega com a intenção de confortar o pai, mas depois é ele que a conforta. "Acho que a coisa mais importante que aprendi com ele é manter a calma, e continuar a luta sempre", diz.

Uma colunista escreveu que Dirceu está "visivelmente mais magro". Joana confirma que o pai emagreceu, mas acrescenta que não está "abatido".

Joana, na descrição de amigos, é uma mulher excepcionalmente bonita. As fotos reforçam essa opinião.

Alta (1m77) a ponto de postar no Facebook um texto sobre as dificuldades das mulheres de exuberante estatura, loira, olhos verdes, traços delicados, você vê Joana e vê o pai, tamanha a semelhança. Mas ela diz que é uma mistura entre o pai e a mãe, Ângela Saragoça.

Joana se formou em Relações Internacionais pela Faap, no final de 2013. Pretendia passar um ano em Londres, mas as circunstâncias – a prisão do pai — a levaram a ficar no Brasil. Agora, ela vai fazer mestrado.

Na formatura, ela virou notícia ao replicar o gesto do pai de erguer o braço esquerdo em sinal de resistência ao receber "o canudo", como ela chama o diploma.

"Não tinha planejado nada ", diz ela. "Simplesmente me ocorreu. Meu pai não estava ali, mas era como se estivesse."

Joana diz que seu pai está razoavelmente bem instalado na cena da Papuda. Em alguns momentos, eram oito os detentos que dividiam a cela. "Mas todos tinham a sua cama", diz.

Agora são três, entre eles o recém-chegado João Paulo Cunha. Seu pai faz a limpeza da cela. Com uma pequena tevê, conta ela, Dirceu acompanha as notícias no Brasil e no mundo na Papuda.

Muitas pessoas torcem para que Joana ingresse na política. Com sua graça e coragem, ela e Miruna, a filha de Genoino, conquistaram corações e mentes de muitos simpatizantes do PT ao lutarem tenazmente pelos pais.

"Não tenho nenhuma intenção de entrar na política", ela diz.

Seus planos são mais simples. Na virada de 2013, por exemplo, uma de suas resoluções expostas no Facebook era aprender a andar de bicicleta. Aprendeu, mas não a ponto de andar nas ruas da cidade. "Mas andar no parque eu já consigo", diz.

Em sua página, ela expõe situações com leveza situações do cotidiano de uma mulher destes tempos. Uma vez perguntou o que fazer quando você coloca um cigarro aceso na bolsa, por exemplo.

Joana fala com gratidão vibrante da "militância petista". "Vi que o pessoal quer arrecadar 1 milhão em um dia na vaquinha do meu pai", diz ela. "Não sei, é muito dinheiro."

Da direção do PT fala com menos entusiasmo. "O Lula tem as coisas dele para cuidar", diz.

Até as 10 horas da manhã desta quinta, 300 pessoas tinham contribuído, e a soma arrecadada chegava a 60 000 reais. Serão feitas duas atualizações diárias no site da arrecadação.

"Cada pergunta difícil que você me faz" é a resposta quando lhe pergunto sobre o cerco movido a seu pai por Joaquim Barbosa.

"Meu pai é combatido por causa da sua luta por justiça social", ela diz.

Joana acha que vai demorar algum tempo para seu pai conseguir trabalhar e assim desfrutar o regime semiaberto que fora previsto para ele.

Quanto a ela, uma frase que ela postou de Florence and The Machine conta muito.

"And I am ready to suffer, and I am ready to hope."

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