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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Por qué no te callas, rei Juan Carlos?



A decrépita família real espanhola está na berlinda. Na semana passada, ela foi forçada a divulgar, pela primeira vez na sua longa e anacrônica história, que gasta 8,4 milhões de euros (cerca de R$ 20 milhões) por ano e que a renda dos familiares do rei Juan Carlos subiu nos últimos anos. Enquanto o país afunda na grave crise econômica, com 22% de desempregados, a realeza esbanja opulência.

A divulgação dos gastos decorreu do crescente desgaste da monarquia na sociedade espanhola, indignada com as falcatruas dos ricaços num país em recessão. No início de dezembro veio a público que o genro do rei, Iñaki Urdangarin, desviou verbas públicas destinadas à entidade que dirigiu entre 2004 e 2006 e que embolsou R$ 14 milhões dos governos nacional e catalão.

Corrupção e opulência reais

O escândalo de corrupção levou a realeza a divulgar suas despesas para tentar desviar a atenção. Os milionários gastos “reais” não são auditados pelo tribunal de contas e nem incluem os altos custos com viagens. “Ficou óbvio que eles precisavam prestar contas. Achei uma vergonha alheia”, disse Duran Lleida, líder do CiU (Convergência e União), o principal partido catalão.

Mas a “transparência real” foi pura balela. A abertura das contas foi menos detalhada do que a de outras realezas. Os gastos foram enumerados em categorias genéricas, como “serviços” e “pessoal”. Mesmo assim, deu para saber que o rei Juan Carlos recebe R$ 703 mil anuais, quatro vezes mais do que o premiê espanhol. Soube-se ainda que nenhum membro da realeza paga por água, luz e gás. E que no fim de 2008, em plena eclosão da crise espanhola, os salários da realeza aumentaram em R$ 200 mil.

A mídia colonizada se cala!

No final de 2007, durante a XVII Conferência Ibero-Americana, realizada em Santiago do Chile, o petulante rei Juan Carlos ganhou os holofotes da mídia colonizada ao desrespeitar Hugo Chávez. Diante das críticas do presidente da Venezuela a ação fascista do premiê José Maria Aznar na tentativa frustrada de golpe naquele país, o rei gritou: ¿Por qué no te callas?

Seria o caso de plagiá-lo agora: Por que não te calas, rei Juan Carlos? Por que a sociedade espanhola ainda banca as luxurias da decadente monarquia? Outra pergunta poderia ser feita à mídia subserviente: por que te callas diante das graves denúncias de corrupção e de opulência da realeza espanhola?

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