Ao insistir no projeto do Trem-Bala, o
Governo Federal está praticamente pedindo que novas manifestações sejam
convocadas, dessa vez por causa de uma obra cara, desnecessária, feita
sob medida para agradar – e repassar bilhões de dólares – para
multinacionais.
Isso, em um país em que a população está
refém de um sistema de transporte interestadual e intermunicipal de
passageiros arcaico, em que um cartel incrustado há anos nesse mercado,
impede a realização de novas licitações, obtendo, na justiça, sucessivas
liminares para manter cartórios feudais que vem desde a época do regime
militar.
Ora, numa situação dessas, o governo
deveria ver o transporte ferroviário de passageiros como uma
oportunidade para romper esse monopólio, obrigando as empresas de ônibus
a diminuir seus preços e melhorar seus serviços, deixando o trem-bala
para um momento mais favorável, do ponto de vista da opinião pública,
investindo, calmamente e sem pressa, uma fração do que se pretende
gastar no trem-bala, no estabelecimento de tecnologia própria de trens
de alta velocidade, como a que já está sendo desenvolvida na Coppe, no
sistema de levitação magnética do trem Cobra-Maglev.
No lugar disso, volta-se atrás em
exigências antes estabelecidas para o Edital, para facilitar a vida de
concorrentes como os espanhóis, sob o absurdo argumento de que o trem
que se acidentou na Galícia há duas semanas, batendo contra a amurada de
proteção de concreto a 190 quilômetros por hora “não é um trem de alta
velocidade”, livrando a cara das estatais espanholas que o operam, e que
pretendem concorrer à licitação.
Está para ser explicada essa preferência
do Governo pela concessão de serviços públicos para a Espanha, que vem
desde a época de FHC. A Espanha não dispõe hoje, como antes não
dispunha, nem de capital nem de know-how.
Sua propalada tecnologia na área de trens
de alta velocidade é canadense, francesa e alemã. A Telefónica nunca
chegou a desenvolver sequer um prosaico aparelho de celular para o
mercado brasileiro, e seus equipamentos mais recentes são da chinesa
Huawei.
Dinheiro próprio, os espanhóis também
nunca tiveram, nas décadas recentes. O país se “desenvolveu” com
recursos dos fundos da UE e à base de uma das maiores dívidas (pública e
privada) do mundo, situação compartilhada pelas suas grandes empresas,
todas altamente endividadas, como a própria Telefónica e o Santander.
O governo pode fazer o que quiser em sua
inexplicável “parceria” com os espanhóis, amplamente apoiados pelo
governo corrupto de Rajoy. Só não pode nos fazer de parvos, dizendo que
um trem que atinge 220 quilômetros por hora é de baixa velocidade, e nem
deixar que a imprensa espanhola cante aos quatro ventos, mesmo depois
do acidente fatal em que morreram 80 pessoas, que o consórcio ibérico é o
favorito para a licitação do projeto brasileiro.
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