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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 09, 2013

Roda viva x roda morta

Quadrada










A instrumentalização político-partidária do jornalismo da TV Cultura é apenas a superfície mais notável de um sucateamento progressivo que há anos atinge toda a programação do veículo. E não existe melhor evidência da contaminação ideológica da emissora pelo governo estadual demotucano do que os rumos tomados recentemente pelo programa Roda Viva.

Além das bancadas quase exclusivamente compostas por funcionários da mídia corporativa e por outros personagens do conservadorismo nacional, os mediadores são escolhidos através de critérios “misteriosos”, que não coadunam com o âmbito da excelência. Pois, dentre tantos jornalistas qualificados no país, é possível acreditar que a volta de Augusto Nunes se deve à sua competência profissional?

Basta ouvir as bobagens do cidadão para compreender o tamanho do retrocesso que ele representará na louvável história do Roda Viva. O episódio deveria provocar um escândalo na categoria, uma rápida mobilização dos conselheiros da Fundação Padre Anchieta e até alguma iniciativa judicial.

Mas ninguém nos bastidores da política ou da imprensa paulista vai se debruçar agora sobre o assunto. Como sabemos, as últimas coisas que interessam ao PSDB nesses tempos ruidosos são a independência editorial e a ética jornalística.
*GuilhermeSvalzilli

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