ARROGÂNCIA IMPERIAL, TIRO PELA CULATRA E OCASO MELANCÓLICO
Os
Estados Unidos, com extrema arrogância, recusam-se a encarar a
arapongagem que praticam sob a ótica das leis internacionais. Mesmo
agora, ao serem flagrados espionando ninguém menos do que a presidenta
do Brasil, deixam claro que continuarão agindo de acordo com as próprias
leis e o resto do mundo que se dane.
Da mesma forma, o presidente Barack Obama considera que só precisa do aval do seu Congresso para ordenar bombardeios à Síria. Com isto, a ONU perde a razão de existir.
Se tivessem um pingo de dignidade, as demais nações dela se retirariam,
já que seu papel é apenas de figurantes, enquanto o protagonista aplica a
seu bel prazer a lei do mais forte.
* * *
Se
dúvida havia sobre a perda de mandato de João Paulo Cunha, Valdemar
Costa Neto, Pedro Henry e José Genoíno, condenados à prisão como mensaleiros,
não há mais nenhuma. A péssima repercussão da lambança perpetrada pela
Câmara Federal, ao permitir que o presidiário Natan Donadon continuasse
deputado, selou-lhes o destino e fechou o caixão.
Então, se houve quem tenha livrado a cara de Donadon para abrir um
precedente favorável ao quarteto, deu um formidável tiro pela culatra.
Certos aprendizes de feiticeiro de Brasília continuam ignorando os
humores do cidadão comum e a capacidade da indústria cultural, de
amplificar rejeições ao máximo.
Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue...
* * *
A imprensa dá destaque excessivo ao julgamento do mensalão, como se ainda existisse algum coelho para ser tirado da cartola.
Não há. As condenações serão confirmadas e as penas, cumpridas. A esta
altura do campeonato, qualquer outra decisão deixaria a imagem do STF em
frangalhos. E os ministros estão bem cientes disto.
Os advogados deram o seu showzinho, mas de antemão sabiam que nada
mudaria. Os acusados jogaram fora o dinheiro que melhor fariam se
tivessem guardado para pagar as multas.
É comum os revolucionários, tendo meios para escapar, não cumprirem
decisões judiciais que consideram injustas. A questão é: o Zé Dirceu e o
Genoíno ainda se veem como tais?
E há outro aspecto, o da própria injustiça. Pois a opção pela fuga só se
justificaria na hipótese de inocência, não na de terem sido condenados
por práticas nas quais quase todos os políticos incidem sem ser
punidos.
Incomoda-me muito, admito, a perspectiva de ver o Dirceu e o Genoíno
presos. O simbolismo será deprimente ao extremo. Por mais que eles
tenham se distanciado dos ideais de 1968, a direita vai celebrar como
uma vitória sobre os revolucionários da nossa geração. Posso imaginar o
triunfalismo estampado na capa da Veja, que tanto fez para colocar o Dirceu no pelourinho, chegando até a espioná-lo da forma mais abjeta.
Sem afirmá-lo taxativamente, o Cesare Battisti várias vezes deu a
entender que, caso se tornasse inexorável sua extradição, preferiria a
morte do que oferecer a cabeça para ser exibida na sala de troféus do
Berlusconi.
Mas, claro, tudo depende da convicção íntima de cada um.
Melhor teria sido se os ex companheiros jamais houvessem superestimado
seu poder e exposto o flanco de forma tão temerária. Deram sopa pro azar
e estão pagando caro por isso.
*naufragodautopia
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