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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 19, 2013

Feliz aniversário Paulo Freire!






Hoje , dia 19/09/2013 , Paulo Freire  completaria 92 anos.

Lembro-me como se fosse hoje o meu encontro com Paulo Freire: minha mãe professora primária convidou-me para participar de uma reunião pedagógica na escola pública estadual que lecionava porque um grande educador e crítico do ensino vigente iria palestrar.

Eu já havia ouvido falar a respeito de Paulo Freire que no início da década de 80, no século XX, era bem conhecido, mas não havia lido nenhum de seus livros, porque eu era uma jovem, recém formada no colegial que sequer  imaginava , naquela época, embarcar na área educacional.

Mas fui ao encontro de Paulo Freire com minha mãe.

Homem simples , muito informal , sentou-se em círculo junto às professoras e disse que não se tratava de palestra, mas sim de um bate-papo, uma troca de experiências entre educadores.
Não me lembro do que foi dito especificamente,  porque além dos 30 anos que separam-me do episódio, minha memória já dá indícios de estar superlotada, de modo que anda deletando muitas coisas para abrir novos espaços. No entanto, lembro-me de ter ficado orgulhosa da profissão da minha mãe tamanha ênfase Paulo Freire deu a ela,sobretudo, da importância política, afinal estávamos ainda em plena ditadura militar e civil e a educação era uma forma de alcançar a tão sonhada democracia.

Saudades do Paulo Freire, saudades da minha mãe. Educadores que acreditaram que o processo de ensinar/aprender é transformador e emancipador, sobretudo, aquele voltado para as classes trabalhadoras.

Utópicos, sonhavam com um país que garantisse o direito para todos, apostando positivamente na  diversidade das ideias, dos credos, das raças e dos gêneros.

Deixaram sementes que brotaram, os brotos cresceram,floresceram e frutificaram e produziram novas sementes que estão a brotar.






Feliz aniversário Paulo Freire!

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