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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 14, 2013

Novo secretário do Vaticano coloca celibato em discussão



por  Sébastien Maillard
para o jornal La Croix
Pietro Parolin
Dom Pietro Parolim: "Pode-se falar, refletir se
aprofundar essa tema, que não é um dogma"
Lembrando a um jornal venezuelano que o celibato dos padres "não é um dogma da Igreja", dom Pietro Parolin (foto), que se tornará no dia 15 de outubro o primeiro colaborador do papa Francisco, enquadra o celibato presbiteral na "tradição eclesiástica".
O que dom Parolin quis dizer exatamente? Nomeado no dia 31 de agosto passado secretário de Estado da Santa Sépelo Papa Francisco, dom Pietro Parolin, atualmente núncio apostólico na Venezuela, concedeu uma entrevista ao jornal venezuelano El Universal.

Nessa entrevista em espanhol, publicada on-line no último domingo, ele responde à pergunta se o celibato é um dogma intocável.

"Não, não é um dogma da Igreja e pode ser discutido, porque é uma tradição da Igreja".

"O esforço que a Igreja fez para instituir o celibato eclesiástico deve ser considerado", lembra ele. "Pode-se falar, refletir e aprofundar sobre esses temas que não são de fé definida e pensar em algumas modificações, mas sempre a serviço da unidade e tudo segundo a vontade de Deus", acrescenta.

Citando o exemplo da "escassez do clero", dom Parolin enumera os critérios a serem levados em consideração para uma decisão a respeito: "A vontade de Deus, a história da Igreja, assim como a abertura aos sinais dos tempos".

O que disseram os papas anteriores? Retomando uma tradição da Igreja do Ocidente que remonta ao século IV, o Concílio de Trento (século XVI) estabeleceu solenemente a obrigação do celibato para os padres, inscrito na direito canônico. Essa obrigação, que não se aplica às Igrejas do Oriente, foi reafirmada pelo Papa Paulo VI na sua encíclica Sacerdotalis caelibatus, de 1967.

De uma coisa oportuna, a Igreja fez uma necessidade, argumentada teologicamente, particularmente sob João Paulo II, em vários textos. Bento 16 também confirmou o seu apego ao celibato, particularmente em um discurso aos cardeais no fim de 2006: "A fé em Deus se torna concreta nessa forma de vida que tem sentido unicamente a partir de Deus".

O que o papa Francisco pensa a respeito? Desde a sua eleição, há cerca de seis meses, o papa não se pronunciou sobre esse assunto. Em um livro-entrevista publicado em 2010, quando ele era arcebispo de Buenos Aires (Sobre o céu e a terra), o ainda cardeal Bergoglio lembrava que era, "por enquanto (...) sou a favor de que se mantenha o celibato, com os prós e os contras que tem, porque são dez séculos de boas experiências mais do que falhas" . "É uma questão de disciplina, não de fé. Pode mudar", concluiu, condenando qualquer "vida dupla".

Alguns cardeais convidaram, às vezes em voz alta, a uma evolução dessa disciplina .


*Paulopes

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