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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 12, 2014

 Globo, Folha e Estadão “podem” acabar!



Nos primeiros dias de 2014, a mídia tucana se superou na sua aposta catastrofista contra o governo Dilma Rousseff. Está até difícil escolher quem são os principais urubólogos deste início de ano. O Estadão de terça-feira (7) estampa o título “S&P [suspeita agência de risco dos capitalistas sem risco] diz que pode cortar nota do Brasil ainda neste ano”. Já a Folha abusou na manchete: “Alta de preços pode afetar desemprego em 2014”. O jornal O Globo garante que o país “pode” entrar em recessão neste ano de eleições presidenciais. Já que todos os veículos estão fazendo as suas previsões, lanço também a minha: “Globo, Folha e Estadão ‘podem’ acabar”, para o bem do jornalismo nativo.

A “guerra psicológica” deflagrada pela imprensa – e criticada pela presidenta Dilma sem maiores consequências, já que ela insiste em tratar o tema da regulação democrática da mídia como um simples apertar no botão do controle remoto – é escancarada. Merecia estudos na academia, caso esta estivesse disposta a enfrentar temas estratégicos para a sociedade brasileira. O pessimismo midiático, com visíveis objetivos eleitorais num ano de sucessão presidencial, é mais do que evidente. O Estadão, da oligárquica e golpista famiglia Mesquita, afirma que a agência de classificação de risco Standard & Poor´s (S&P) pode rebaixar a nota do Brasil, “mas ainda não tem decisão sobre o assunto”.

O próprio diretor do antro rentista, hoje ridicularizado no mundo inteiro, relativiza o título terrorista do Estadão. “Não é um colapso. Se ocorrer um rebaixamento seria em um nível e o Brasil continuaria a ser classificado como ‘grau de investimento’, disse o diretor da S&P” ao jornalista do Estadão. Mesmo assim, o jornal preferiu estampar o seu título catastrofista. Outras agências de risco, como a Fitch e a Moody´s, informaram que o Brasil está bem posicionado na destrutiva economia capitalista mundial, que enfrenta a sua mais prolongada e grave crise das últimas décadas. Não adiantou! O Estadão insiste que o Brasil vai falir neste ano, de preferência na véspera da eleição presidencial.

Já a Folha, com maior tiragem e maior influência nos chamados formadores de opinião, tem preferido tratar de assuntos mais sensíveis. Agência de risco é algo muito distante da sociedade, a não ser dos rentistas que especulam no mercado financeiro. A sua manchete espalhafatosa desta semana mexe diretamente com os trabalhadores. O jornal da famiglia Frias garante que a inflação "pode afetar o desemprego em 2014”. A reportagem nas páginas internas é bem confusa. Mas o que fica é a leitura das manchetes nas bancas de jornal. O próprio texto adverte que “empresários e consultores preveem mercado de trabalho em baixa, mas recuperação global pode ajudar”. Ou seja: pode ser que sim, pode ser que não!

A Folha admite, mesmo a contragosto, que “os dados mais atualizados para 2013, até novembro, são de taxa de desemprego de 4,6%. Desde janeiro, o saldo de novos empregos (trabalhadores admitidos menos demitidos) foi de 1,547 milhão”. Mas ela garante que “a piora [na geração de emprego] deve ocorrer mesmo com as vagas temporárias que podem ser criadas na Copa e nas eleições”. No seu “pessimismo crônico”, como já reconheceu a própria ombudswoman do diário, Suzana Singer, a Folha ainda aposta que “enquanto o crescimento da renda real (descontada a inflação) foi de 3,4% na média de 2007 a 2012, no próximo ano deve ficar entre 0,7% a 1,5% nas projeções dos economistas”.

No caso do jornal O Globo, da bilionária famiglia Marinho, as manchetes recentes parecem indicar que o Brasil ruma inexoravelmente para o desfiladeiro. Os urubólogos de plantão do diário só fazem previsões catastrofistas, mesmo que a realidade insista em desmentir as suas apostas no aumento do desemprego, na explosão da inflação – vale recordar a cena ridícula do colar de tomates da apresentadora Ana Maria Braga –, no inevitável apagão de energia elétrica e, agora, no rebaixamento da nota do país na economia mundial. Como já ironizou o blogueiro Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada, o esporte favorito do jornal O Globo é “rebaixar a nota do Brasil”.

No texto “Tudo como no ano passado”, publicado nesta semana no Observatório da Imprensa, o jornalista Luciano Martins Costa critica as manchetes apocalípticas dos primeiros dias deste ano novo. Ele brinca que todas elas insistem no “pode”. “Aí, o leitor caprichoso, atacado por aquela doença infantil do esquerdismo, se pergunta: se pode acontecer o pior, mas pode também não acontecer, onde estaria a notícia? Ora, leitor, a notícia está apenas no desejo do editor, que, tentando bem interpretar o pensamento do dono do jornal, descumpre uma das normas básicas do bom jornalismo – aquela que diz o seguinte: uma coisa que “pode” acontecer não é manchete”.

Para ele, os jornalões estão desnorteados. “Se a economia brasileira está em crise, como gritam diariamente as manchetes, por que os indicadores registram mais de 1,5 milhão de novos postos de trabalho, com um aumento de 4% na criação de empregos com carteira assinada, no ano de 2013, em relação aos doze meses anteriores?”. O que os jornais fazem não é jornalismo, mas sim militância oposicionista. “Pode chover ou fazer sol, os preços podem subir ou cair, alguém pode vir a falecer, pode nevar no Sul no próximo inverno, o trânsito pode piorar no fim das férias, o mundo pode acabar hoje, e a imprensa ralando todos os dias para fazer crer que algum desses acontecimentos merece uma manchete”.

*comtextolivre

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