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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 31, 2014

    TODOS X TODOS EM S. PAULO, A MÃE DE TODAS AS GUERRAS


Vítima do dia, pré-candidato do PT ao governo paulista se abaixou com o barulho de tiro sobre contratos entre Ministério da Saúde e ONG fundada por seu pai; após justificar, Alexandre Padilha rompeu convênio; governador tucano Geraldo Alckmin, quando atacado, não recuou; escândalo Siemens-Alstom de formação de cartel e pagamento de propinas segue sem admissão de responsabilidade; para Gilberto Kassab, do PSD, bombardeiro foi denúncia no caso Controlar; atingido por manchete do jornal Folha de S. Paulo, ex-prefeito obteve pronunciamento da Justiça a seu favor; Paulo Skaf, do PMDB, sofreu abalo com uso de dinheiro da Fiesp e do Sistema S para exposição pessoal; eleição de outubro é guerra aberta

30 DE JANEIRO DE 2014 

Marco Damiani _ 247 – O barulho de um simples tiro assustou e fez dar um passo atrás o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, mas é certo que a eleição para o Palácio dos Bandeirantes virou mesmo uma verdadeira uma guerra. Propostas para o Estado, até aqui, estão em segundo plano no campo de batalha em que todos disparam contra todos.

A eleição que pintava como propícia a acordos e composições, em razão dos interesses partidários na disputa nacional, para presidente da República, se transforma rápida e consistentemente numa blitz de todos contra todos.

Padilha, a vítima do dia, sangrou no campo de batalha em razão da ONG fundada por seu pai ter tido suas ligações com o Ministério da Saúde, dirigido pelo próprio Padilha, e outros, reveladas. Mas antes antes do ministro que deixa o cargo na segunda-feira 3, também o governador Geraldo Alckimin, que defende a própria reeleição, e os candidatos Gilberto Kassab, do PSD, e Paulo Skaf, do PMDB, foram acertados.

Sobre Alckmin caiu uma bomba que, a depender da interpretação, poderia ser chamada de atômica. O caso de formação de cartel e pagamento de propinas Siemens-Alston só não causa, até o momento, estragos permanentes na candidatura do tucano porque ele exibe uma larga blindagem entre os chamados formadores de opinião, como se dizia antigamente, instalados na mídia familiar e tradicional.

Paulo Skaf, do PMDB, tomou pela frente uma saraivada de balas disparadas nas críticas ao uso da rede estadual de televisão paga com dinheiro da Fiesp e do sistema S. Skaf foi acusado de campanha antecipada e precisa, neste momento, mais se defender do que atacar para chegar à próxima fase.

No PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab precisa ter uma forte artilharia anti-aérea para resistir aos ataques que vem do passado. Numa bomba que fez barulho mas não produziu o estrago esperado, ele sofreu a acusação pública de ter sido beneficiado pelo contrato da Prefeitura com a empresa Controlar, mas não houve comprovação legal desta ligação. Kassab, ao contrário de Padilha, não se abaixou com o barulho do tiro. No dia seguinte a uma acusação em primeira página do jornal Folha de S. Paulo, o pré-candidato do PSD se beneficiou de uma apuração judicial que o livrou de suspeitas da chamada testemunha Gama.

Padilha entrou neste terreno minado agora. Seu pronunciamento de prestação de contas do Ministério da Saúde já foi considerado uma peça de campanha pela oposição. E ele ainda saiu chamuscado do episódio da ONG de seu pai, que ainda não terminou. Assim como guerra eleitoral, que só está começando.


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