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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, janeiro 25, 2014

 Padre Júlio Lancellotti diz que ação do Denarc desmoraliza resgate de usuários de droga na Cracolândia

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Ao centro, o padre Júlio Lancellotti participa em SP de ato em apoio a moradores de rua presos e pessoas em situação de risco social.

Por Rodrigo Rodrigues, Terra Magazine

"Referência no trabalho com moradores de rua e pessoas em situação de risco social, o Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral dos Moradores de Rua da Igreja Católica, criticou nesta quinta-feira (23) a atuação da Polícia Civil de São Paulo e do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) na Cracolândia.
 
Em operação surpresa na região, os policiais civis prenderam vários usuários de drogas e utilizaram balas de borracha e spray de pimenta contra eles, numa ação que surpreendeu até agentes da Guarda Civil Metropolitana e o secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, que estavam no local no momento que os policiais do Denarc invadiram o espaço com truculência.
Por conta da ação, o Padre Júlio Lancellotti se diz mais uma vez “decepcionado” com a atuação da polícia paulista e afirma que a operação surpresa do Denarc mostra “a falta real de articulação entre a Prefeitura, Estado e o Ministério da Saúde na tentativa de resgatar os usuários de crack”.
“É muito estranho que essa operação tenha acontecido justo hoje. De manhã representantes do Ministério da Saúde, da Prefeitura e do Governo de São Paulo estavam todos reunidos e falando bem do programa ‘Braços abertos’. 
 
Com essa operação desastrosa, me parece que algum acordo de bastidores foi rompido e evidencia que a cooperação era bonita só no papel”, avaliou Júlio Lancellotti.
 
O representante da Pastoral dos Moradores de Rua também avalia que a operação desta quinta-feira na Cracolândia compromete todos os esforços feitos até agora para humanizar a questão dos usuários de crack e realmente acolhe-los em programa sociais.
 
“Toda a articulação que o prefeito e o governador pregaram até agora na operação ‘Braços abertos’ foi por água abaixo, tudo desmoralizado. Pra mim já era estranho ouvir falar dessa ajuda assistencial, sem comentários sobre o combate ao tráfico. Quando se fala de tráfico, se fala em corrupção policial também. E isso em nenhum momento foi tratado. É prova de que o esforço que se pretendia fazer era cosmético”, argumenta.
 
A chamada ‘Operação Braços Abertos’ é um projeto lançado há menos de quinze dias pela Prefeitura de São Paulo que pretendia resgatar os usuários de crack através de ajuda assistencial para tirá-los da rua..
Na visão do prefeito Prefeito da cidade, Fernando Haddad ( à esquerda na imagem), o problema tem que ser tratado como complexa questão social: acredita que a reabilitação de boa parte desta massa marginalizada, passa necessariamente pela devolução da dignidade humana, através tratamento multidisciplinar e transversal do usuário, somado à um conjunto de ocupações voluntárias e institucionais, visando oportunidade de trabalho, capacitação, reeducação, além de novas oportunidades de geração de renda. Ao autorizar este tipo de ação meramente repressora e burra, fica patente que, para  o governador do Estado Geraldo Alckimim,  a questão é simploriamente policial. Alguém se beneficia muito com a existência das legiões de mortos vivos da Cracolãndia, e não é a sociedade, sobre a qual, recai o maior preço à pagar..(Mviva)

 
A proposta do prefeito Fernando Haddad era oferecer moradia, emprego e tratamento de saúde aos usuários de crack da região da chamada “Nova Luz”, centro do perímetro apelidado de Cracolândia.
 
O programa arrumava um emprego para esses usuários em frentes de trabalho da Prefeitura e vagas de moradia em hotéis da região, até que esses usuários conseguissem sobreviver sozinhos. 
Os hotéis também oferecem três refeições por dia para os inscritos no programa, que nos primeiros dias chegaram a 300 pessoas.
 
A ideia do projeto era integrar as ações da Prefeitura, do Estado e do Ministério da Saúde, na tentativa de tirar os usuários de crack da marginalidade.
 

 
NA CONTRAMÃO
 
Segundo o Padre Júlio Lancellotti, o discurso do governador Geraldo Alckmin em torno do projeto mascara uma falta de articulação do governo estadual para lidar com o problema.
 
“Não existe solução para a Cracolândia sem envolvimento da polícia, que é origem de grande parte do mal que lá existe. Agentes de saúde sozinhos não conseguem acabar com o tráfico. 
Só um louco não será capaz de ver a gigantesca diferença entre a gestão de Haddad e de Serra-Kassab-Alckmin.
 
Por outro lado também não conseguem mudar a mentalidade do policial que ainda acha o usuário de crack cidadão de terceira classe e gente marginalizada. 

 É decepcionante que a Polícia mais uma vez tenha optado pelo lado da dor e não do amor e da acolhida para lidar com esses necessitados”, avalia Júlio Lancellotti.".

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