O Teatro sob a ditadura
Via Nos Porões da Ditadura, uma Flor
Em
11/02/68 Os teatros cariocas e paulistas suspendem a apresentação de
espetáculos por 3 dias, em protesto contra a censura. Artistas fazem
vigília nos teatros municipais do Rio e de São Paulo.
Em
1968 com AI-5, O governo encerra as atividades do Congresso Nacional,
jornais são invadidos, fechados, censurados, teatros são bombardeados,
inicia-se uma caçada as "bruxas" intelectuais. Artistas, estudantes,
políticos de esquerda enchem as prisões enquanto o "milagre brasileiro"
mostra uma economia excitante para a elite que está calada. Mas vai ter
muito herói nesse história, as guerrilhas serão travadas pela classe
artística em cada centímetro de palco brasileiro. Dramaturgos
perguntavam-se " o que se pode dizer além do que não se pode dizer?" É a
censura que os angústia. Se uma turma segue a margem do conflito com um
teatro chamado digestivo, alguns resistiam apelando para metáforas que
burlavam seus censores. Verdade que também burlavam muitos de seus
espectadores, mas o que fazer- a vida intelectual do Brasil da época
estava longe de ser perfeita.
Esse é o caso da peça Botequim escrita por Guarnieri em 1973.
Sob
forte tempestade um grupo de pessoas fica presa num bar, sem ter como
sair e sem notícias porque o rádio está mudo. A metáfora é perfeita, mas
nem todo mundo entendeu. Isso não impediu Guarnieri de se manter na
vanguarda da resistência.
Além de Arena conta
Zumbi com Boal e Edu Lobo, montaram Arena conta Tiradentes uma análise
daquele momento do momento a partir do mártir da inconfidência Mineira. O
Arena seguiu com clásiico internacionais adaptados, e inúmeros autores
como Chico Buarque, Millôr Fernandes, Dias Gomes, Vianninha, Boal entre
outros se embatiam com os censores. E a luta era dura. Muitas vezes, se
deixou morrer a palavra e se fez uso do corpo para expressar a
resistência. Nasce o teatro sensorial, e o teatro da agressão (pelos
palavrões, "imagens e ações físicas sobre" os espectadores). Conquistar o
público passa a ser uma batalha emocional. tinha sexo, drogas e rock
and roll. Antonin Artaud autor e poeta francês de textos delirantes
torna-se ídolo, e devagar vem chegando o tropicalismo. Mas era muito
palavrão, muito sexo e confusão, a sociedade ia chiar.E a censura não só
proíbe argumentos políticos, mas tudo o que considera "maus costumes".
Em
1974 a policia invadiu o Teatro Oficina, fechou suas portas e prendeu
Zé Celso e Boal ( que depois de libertado se exilou na França).Em 1976
Sarte proíbia suas peças de serem encenadas no Brasil até que se
estabelecesse "a ordem e as liberdades demoráticas".Uma das maiores
forças da arte durante a Ditadura estava no teatro amador. E grupos se
multiplicam pelo país de jovem frustrados. A dramaturgia que surge dai é
regional, voltada para a tentativa de gerar consciência ou debate para
os problemas de sobrevivência locais e por isso a margem dos censores
preocupados com o que acontecia no eixo Rio-São Paulo. Ai as grandes
batalhas estão sendo travadas. A tática dos censores é genial. Liberam
textos quase na estréia, depois cancelam, suspendem peças em cartaz e
quebram a estrutura financeira dos teatros. Prendem autores e diretores,
fecham grupos, ameaçam. Não proíbem nem liberam-" congelam textos" e os
cortam arbitrariamente, fazem ataques terroristas aos teatros.
Mas
nos anos de 1970, o brasil contou com o apoio do teatro internacional
que visitava o país com suas peças. Estiveram aqui o Living Theatre, o
Open Theatre, Ionesco, Genet, Grotowski, Lavelli, Robert Wilson, alguns
trazidos pelos festivais organizados por Ruth Escobar. E essa época
épica, forjou um teatro brasileiro de imensa qualidade. Nasceu o CPT de
Antunes Filho que causou imenso impacto na cena nacional e
internacional.
Em 1978 o AI-5 foi suspenso, mas
os censores continuaram, agora como "força atenuante" e como compensação
o governo começava inesperadamente a oferecer recursos ao setor
cultural. Um verdadeiro morde e assopra. No entanto esse foi o período
mais prolífico da dramaturgia brasileira e também dessa sopa de
criatividade nasceram os maiores nomes do nosso teatro. Diretores
espetaculares que absorveram a força de expressão de um arte e atores
com características muito especiais que são um orgulho que poucas nações
podem comemorar.
Algumas peças importantes encenadas sob a ditadura
O show Opinião- Vianninha, Paulo Pontes e Armando Costa
Liberdade, Liberdade - Millôr Fernandes e Flavio Rangel
Arena conta Zumbi
Arena conta Tiradentes
O Homem do principio ao fim - Millôr Fernandes
O assalto - José Vicente
Fala baixo senão eu grito - Leilah Assumpção
`A flor da pele -Consuelo de Castro
Um grito parado no ar -Guarnieri
O Botequim- Guarnieri
Apareceu a margarida - Roberto Athayde
Gota D'agua - Chico Buarque e Paulo Pontes
A Ópera do Malandro - Chico Buarque
A resistência - Maria Adelaide Amaral
Murro em ponta de faca - Boal
Rasga coração - Vianninha
Caminho de volta - Consuelo Castro
O Último Carro - João das Neves
A fábrica de chocolates - Mario Prata
Campeões do mundo - Dias gomes
Patética - João Ribeiro
Navalha na carne - Plínio Marques
Algumas peças proíbidas
A Invasão - Dias Gomes
Tio Patinhas e a pílula - Augusto Boal
Arena conta Tiradentes - Augusto Boal e Gian Francesco Guarnieri
Mateus e Mateusa - Qorpo-Santo
Entre quatro paredes - Sartre
A passagem da rainha - Bivar
Basta - Guarnieri
Revolução na America do Sul - Boal
O aprendiz e o feiticeiro (infantil) - Maria Clara Machado
O rei morreu, viva o rei - César Vieira
Milagre na cela - Jorge Andrade
Caixa de cimento - Carlos Henrique Escobar
Feira Brasileira - Opinião (autoria do grupo)
Trivial simples - Nelson Xavier
Rasga Coração - Vianninha
A massagem - Mauro rasi
Os fuzis da senhora Carrar - Brecht
O comportamento sexual do homem - Boal
As hienas - Bráulio Pedroso
Abajur lilás - Plínio Marcos
Delito Carnal - Eid Ribeiro
FONTE: Teatro Brasileiro, panorama do século XX
*GilsonSampaio
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