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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 21, 2014

O Teatro sob a ditadura


Via   Nos Porões da Ditadura, uma Flor
Em 11/02/68 Os teatros cariocas e paulistas suspendem a apresentação de espetáculos por 3 dias, em protesto contra a censura. Artistas fazem vigília nos teatros municipais do Rio e de São Paulo.
Foto: Em 11/02/68 Os teatros cariocas e paulistas suspendem a apresentação de espetáculos por 3 dias, em protesto contra a censura. Artistas fazem vigília nos teatros municipais do Rio e de São Paulo.



Em 1968 com AI-5, O governo encerra as atividades do Congresso Nacional, jornais são invadidos, fechados, censurados, teatros são bombardeados, inicia-se uma caçada as "bruxas" intelectuais. Artistas, estudantes, políticos de esquerda enchem as prisões enquanto o "milagre brasileiro" mostra uma economia excitante para a elite que está calada. Mas vai ter muito herói nesse história, as guerrilhas serão travadas pela classe artística em cada centímetro de palco brasileiro. Dramaturgos perguntavam-se " o que se pode dizer além do que não se pode dizer?" É a censura que os angústia. Se uma turma segue a margem do conflito com um teatro chamado digestivo, alguns resistiam apelando para metáforas que burlavam seus censores. Verdade que também burlavam muitos de seus espectadores, mas o que fazer- a vida intelectual do Brasil da época estava longe de ser perfeita. 



Esse é o caso da peça Botequim escrita por Guarnieri em 1973. 

Sob forte tempestade um grupo de pessoas fica presa num bar, sem ter como sair e sem notícias porque o rádio está mudo. A metáfora é perfeita, mas nem todo mundo entendeu. Isso não impediu Guarnieri de se manter na vanguarda da resistência.



Além de Arena conta Zumbi com Boal e Edu Lobo, montaram Arena conta Tiradentes uma análise daquele momento do momento a partir do mártir da inconfidência Mineira. O Arena seguiu com clásiico internacionais adaptados, e inúmeros autores como Chico Buarque, Millôr Fernandes, Dias Gomes, Vianninha, Boal entre outros se embatiam com os censores. E a luta era dura. Muitas vezes, se deixou morrer a palavra e se fez uso do corpo para expressar a resistência. Nasce o teatro sensorial, e o teatro da agressão (pelos palavrões, "imagens e ações físicas sobre" os espectadores). Conquistar o público passa a ser uma batalha emocional. tinha sexo, drogas e rock and roll. Antonin Artaud autor e poeta francês de textos delirantes torna-se ídolo, e devagar vem chegando o tropicalismo. Mas era muito palavrão, muito sexo e confusão, a sociedade ia chiar.E a censura não só proíbe argumentos políticos, mas tudo o que considera "maus costumes". 



Em 1974 a policia invadiu o Teatro Oficina, fechou suas portas e prendeu Zé Celso e Boal ( que depois de libertado se exilou na França).Em 1976 Sarte proíbia suas peças de serem encenadas no Brasil até que se estabelecesse "a ordem e as liberdades demoráticas".Uma das maiores forças da arte durante a Ditadura estava no teatro amador. E grupos se multiplicam pelo país de jovem frustrados. A dramaturgia que surge dai é regional, voltada para a tentativa de gerar consciência ou debate para os problemas de sobrevivência locais e por isso a margem dos censores preocupados com o que acontecia no eixo Rio-São Paulo. Ai as grandes batalhas estão sendo travadas. A tática dos censores é genial. Liberam textos quase na estréia, depois cancelam, suspendem peças em cartaz e quebram a estrutura financeira dos teatros. Prendem autores e diretores, fecham grupos, ameaçam. Não proíbem nem liberam-" congelam textos" e os cortam arbitrariamente, fazem ataques terroristas aos teatros. 



Mas nos anos de 1970, o brasil contou com o apoio do teatro internacional que visitava o país com suas peças. Estiveram aqui o Living Theatre, o Open Theatre, Ionesco, Genet, Grotowski, Lavelli, Robert Wilson, alguns trazidos pelos festivais organizados por Ruth Escobar. E essa época épica, forjou um teatro brasileiro de imensa qualidade. Nasceu o CPT de Antunes Filho que causou imenso impacto na cena nacional e internacional.



Em 1978 o AI-5 foi suspenso, mas os censores continuaram, agora como "força atenuante" e como compensação o governo começava inesperadamente a oferecer recursos ao setor cultural. Um verdadeiro morde e assopra. No entanto esse foi o período mais prolífico da dramaturgia brasileira e também dessa sopa de criatividade nasceram os maiores nomes do nosso teatro. Diretores espetaculares que absorveram a força de expressão de um arte e atores com características muito especiais que são um orgulho que poucas nações podem comemorar.



Algumas peças importantes encenadas sob a ditadura



O show Opinião- Vianninha, Paulo Pontes e Armando Costa

Liberdade, Liberdade - Millôr Fernandes e Flavio Rangel

Arena conta Zumbi

Arena conta Tiradentes

O Homem do principio ao fim - Millôr Fernandes

O assalto - José Vicente

Fala baixo senão eu grito - Leilah Assumpção

`A flor da pele -Consuelo de Castro

Um grito parado no ar -Guarnieri

O Botequim- Guarnieri

Apareceu a margarida - Roberto Athayde

Gota D'agua - Chico Buarque e Paulo Pontes

A Ópera do Malandro - Chico Buarque

A resistência - Maria Adelaide Amaral

Murro em ponta de faca - Boal

Rasga coração - Vianninha

Caminho de volta - Consuelo Castro

O Último Carro - João das Neves

A fábrica de chocolates - Mario Prata

Campeões do mundo - Dias gomes

Patética - João Ribeiro

Navalha na carne - Plínio Marques



Algumas peças proíbidas



A Invasão - Dias Gomes

Tio Patinhas e a pílula - Augusto Boal

Arena conta Tiradentes - Augusto Boal e Gian Francesco Guarnieri

Mateus e Mateusa - Qorpo-Santo

Entre quatro paredes - Sartre

A passagem da rainha - Bivar

Basta - Guarnieri

Revolução na America do Sul - Boal

O aprendiz e o feiticeiro (infantil) - Maria Clara Machado

O rei morreu, viva o rei - César Vieira

Milagre na cela - Jorge Andrade

Caixa de cimento - Carlos Henrique Escobar

Feira Brasileira - Opinião (autoria do grupo)

Trivial simples - Nelson Xavier

Rasga Coração - Vianninha

A massagem - Mauro rasi

Os fuzis da senhora Carrar - Brecht

O comportamento sexual do homem - Boal

As hienas - Bráulio Pedroso

Abajur lilás - Plínio Marcos

Delito Carnal - Eid Ribeiro



FONTE: Teatro Brasileiro, panorama do século XX
Em 1968 com AI-5, O governo encerra as atividades do Congresso Nacional, jornais são invadidos, fechados, censurados, teatros são bombardeados, inicia-se uma caçada as "bruxas" intelectuais. Artistas, estudantes, políticos de esquerda enchem as prisões enquanto o "milagre brasileiro" mostra uma economia excitante para a elite que está calada. Mas vai ter muito herói nesse história, as guerrilhas serão travadas pela classe artística em cada centímetro de palco brasileiro. Dramaturgos perguntavam-se " o que se pode dizer além do que não se pode dizer?" É a censura que os angústia. Se uma turma segue a margem do conflito com um teatro chamado digestivo, alguns resistiam apelando para metáforas que burlavam seus censores. Verdade que também burlavam muitos de seus espectadores, mas o que fazer- a vida intelectual do Brasil da época estava longe de ser perfeita.
Esse é o caso da peça Botequim escrita por Guarnieri em 1973.
Sob forte tempestade um grupo de pessoas fica presa num bar, sem ter como sair e sem notícias porque o rádio está mudo. A metáfora é perfeita, mas nem todo mundo entendeu. Isso não impediu Guarnieri de se manter na vanguarda da resistência.
Além de Arena conta Zumbi com Boal e Edu Lobo, montaram Arena conta Tiradentes uma análise daquele momento do momento a partir do mártir da inconfidência Mineira. O Arena seguiu com clásiico internacionais adaptados, e inúmeros autores como Chico Buarque, Millôr Fernandes, Dias Gomes, Vianninha, Boal entre outros se embatiam com os censores. E a luta era dura. Muitas vezes, se deixou morrer a palavra e se fez uso do corpo para expressar a resistência. Nasce o teatro sensorial, e o teatro da agressão (pelos palavrões, "imagens e ações físicas sobre" os espectadores). Conquistar o público passa a ser uma batalha emocional. tinha sexo, drogas e rock and roll. Antonin Artaud autor e poeta francês de textos delirantes torna-se ídolo, e devagar vem chegando o tropicalismo. Mas era muito palavrão, muito sexo e confusão, a sociedade ia chiar.E a censura não só proíbe argumentos políticos, mas tudo o que considera "maus costumes".
Em 1974 a policia invadiu o Teatro Oficina, fechou suas portas e prendeu Zé Celso e Boal ( que depois de libertado se exilou na França).Em 1976 Sarte proíbia suas peças de serem encenadas no Brasil até que se estabelecesse "a ordem e as liberdades demoráticas".Uma das maiores forças da arte durante a Ditadura estava no teatro amador. E grupos se multiplicam pelo país de jovem frustrados. A dramaturgia que surge dai é regional, voltada para a tentativa de gerar consciência ou debate para os problemas de sobrevivência locais e por isso a margem dos censores preocupados com o que acontecia no eixo Rio-São Paulo. Ai as grandes batalhas estão sendo travadas. A tática dos censores é genial. Liberam textos quase na estréia, depois cancelam, suspendem peças em cartaz e quebram a estrutura financeira dos teatros. Prendem autores e diretores, fecham grupos, ameaçam. Não proíbem nem liberam-" congelam textos" e os cortam arbitrariamente, fazem ataques terroristas aos teatros.
Mas nos anos de 1970, o brasil contou com o apoio do teatro internacional que visitava o país com suas peças. Estiveram aqui o Living Theatre, o Open Theatre, Ionesco, Genet, Grotowski, Lavelli, Robert Wilson, alguns trazidos pelos festivais organizados por Ruth Escobar. E essa época épica, forjou um teatro brasileiro de imensa qualidade. Nasceu o CPT de Antunes Filho que causou imenso impacto na cena nacional e internacional.
Em 1978 o AI-5 foi suspenso, mas os censores continuaram, agora como "força atenuante" e como compensação o governo começava inesperadamente a oferecer recursos ao setor cultural. Um verdadeiro morde e assopra. No entanto esse foi o período mais prolífico da dramaturgia brasileira e também dessa sopa de criatividade nasceram os maiores nomes do nosso teatro. Diretores espetaculares que absorveram a força de expressão de um arte e atores com características muito especiais que são um orgulho que poucas nações podem comemorar.
Algumas peças importantes encenadas sob a ditadura
O show Opinião- Vianninha, Paulo Pontes e Armando Costa
Liberdade, Liberdade - Millôr Fernandes e Flavio Rangel
Arena conta Zumbi
Arena conta Tiradentes
O Homem do principio ao fim - Millôr Fernandes
O assalto - José Vicente
Fala baixo senão eu grito - Leilah Assumpção
`A flor da pele -Consuelo de Castro
Um grito parado no ar -Guarnieri
O Botequim- Guarnieri
Apareceu a margarida - Roberto Athayde
Gota D'agua - Chico Buarque e Paulo Pontes
A Ópera do Malandro - Chico Buarque
A resistência - Maria Adelaide Amaral
Murro em ponta de faca - Boal
Rasga coração - Vianninha
Caminho de volta - Consuelo Castro
O Último Carro - João das Neves
A fábrica de chocolates - Mario Prata
Campeões do mundo - Dias gomes
Patética - João Ribeiro
Navalha na carne - Plínio Marques
Algumas peças proíbidas
A Invasão - Dias Gomes
Tio Patinhas e a pílula - Augusto Boal
Arena conta Tiradentes - Augusto Boal e Gian Francesco Guarnieri
Mateus e Mateusa - Qorpo-Santo
Entre quatro paredes - Sartre
A passagem da rainha - Bivar
Basta - Guarnieri
Revolução na America do Sul - Boal
O aprendiz e o feiticeiro (infantil) - Maria Clara Machado
O rei morreu, viva o rei - César Vieira
Milagre na cela - Jorge Andrade
Caixa de cimento - Carlos Henrique Escobar
Feira Brasileira - Opinião (autoria do grupo)
Trivial simples - Nelson Xavier
Rasga Coração - Vianninha
A massagem - Mauro rasi
Os fuzis da senhora Carrar - Brecht
O comportamento sexual do homem - Boal
As hienas - Bráulio Pedroso
Abajur lilás - Plínio Marcos
Delito Carnal - Eid Ribeiro
FONTE: Teatro Brasileiro, panorama do século XX
*GilsonSampaio

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