Irlanda traz à tona a vergonha das lavanderias católicas
Para serem "purificadas", "as caídas" (mães solteiras e suas filhas, prostitutas, etc.) eram submetidas ao trabalho análogo ao da escravidão |
As roupas eram de empresas, órgãos públicos e Forças Armadas— um negócio altamente lucrativos para as freiras.
O governo divulgou um relatório com a informação de 1922 a 1996 mais de 10.000 jovens tidas como fardo pela família, escola ou Estado trabalhavam nas chamadas Lavandeiras Madalena. Para serem “purificadas”, elas ficavam trancadas de seis meses a um ano nesses locais lavando e passando roupas, além de trabalho de costura.
No relatório, o governo reconheceu que o Estado irlandês encaminhou para essas lavandeiras 2.124 mulheres, 26,5% do total. Também informou ter descoberto que cerca de 900 mulheres morreram nesses locais de trabalho forçado — a mais nova delas tinha 15 anos.
"Caídas" trabalhavam mais de 10 horas por dia sem ganhar um tostão |
A imprensa tem publicado o testemunho de algumas sobreviventes das lavandeiras. Uma delas, por exemplo, contou que sofre até hoje de depressão por causa dos maus-tratos. “Eu me sinto em pedaços”, disse. “Já tentei o suicídio várias vezes.”
Como representante do Estado irlandês, o primeiro ministro Enda Kenny pediu desculpas pelo sofrimento das mulheres internadas nas lavanderias Madalena, por endossar o estigma de “caídas” e por ter demorado para assumir parte da responsabilidade pelas mazelas.
Para mulheres sobreviventes das lavanderias, só o pedido de desculpas não basta. Elas querem ser indenizadas.
O filme de 2001 The Magdalene Sisters ("Em Nome de Deus", na versão para o português) conta a história de quatro jovens que foram mandadas por seus familiares para uma dessas lavanderias ou, como eram chamadas, asilos católicos. As jovens são chamadas de “irmãs Madalena”. Três delas eram mães solteiras e uma tinha sido estuprada.
O cineasta Peter Mullan se baseou em histórias reais para mostrar a rotina de castigos (alguns físicos) e de humilhações que as freiras imponham às “decaídas”.
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