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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Mujica: Política abandonou filosofia; virou receituário econômico


Via Vermelho
Vanessa Martina Silva

“Eu tenho uma preocupação permanente. Temos que semear uma cultura de transformação porque dirigentes não mudam a história da humanidade; a história da humanidade é mudada somente pelos povos. Ainda assim, temos responsabilidades”, afirmou o presidente o Uruguai, José Pepe Mujica durante o encerramento da 2ª Cúpula da Celac ao pedir uma mudança na mentalidade dos atuais governos: “não se muda a história por decreto”.

“A globalização é um fato que vai a caminho do desastre e não formos capazes de fazer aflorar uma consciência”| Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate
“Temos que defender a vida o que significa deixar pelo caminho as arestas do desperdício, da contaminação e da escravidão do tempo humano. (…) A mudança climática é uma obrigação humana. (…) Todos vamos pagar o custo com a vida humana. Por isso temos que nos integrar. Nenhum país tem peso para enfrentar sozinho esta incerteza”, refletiu
“Será longa esta marcha. Temos uma velha dívida. Vivemos mais de um século olhando para a Europa e os Estados Unidos. [Com a Celac] demos um passo fantástico, mas temos que construir uma inteligência a favor da integração. Integrar fronteiras, comunicação, saúde, segurança, cultura, universidades, pesquisas dos povos latinos”, pontuou.
“A globalização é um fato que vai a caminho do desastre e não formos capazes de fazer aflorar uma consciência”. O mandatário questionou ainda a veracidade de que a região da Celac é uma área livre de armas nucleares: “como pode estar livre de armas nucleares nossas terras quando submarinos nucleares passeiam por nossas águas?”.
Mujica também opinou que “uma das desgraças da política é ter abandonado o campo da filosofia e ter se transformado em um receituário econômico. (…) Se seguirmos pensando somente no nosso, a civilização está condenada”, concluiu o presidente uruguaio.
*GilsonSampaio    

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