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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 01, 2014

A vitória da vaquinha

: Miguel do Rosário
amanha
O sucesso das vaquinhas para arrecadar fundos para os “mensaleiros” questiona, seriamente, a teoria ventilada pela mídia de que havia uma grande pressão “pública” para condenar e prender os réus da Ação Penal 470. Podia até haver pressão de um lado, mas havia pressão de outro também para não deixar a corte suprema fazer um julgamento contaminado de ódio político.
Merval Pereira chegou a brandir, várias vezes, uma suposta ameaça das “ruas” ao STF – que jamais se concretizou, aliás. Apesar da oposição e mídia terem tentado enfiar, à fórceps, a pauta da prisão dos “mensaleiros” nas manifestações de junho, esta nunca foi uma bandeira popular nos movimentos. Quando a mídia – em especial a Rede Globo – começou a forçar muito a barra para manipular os protestos e direcioná-los contra o “mensalão”, os jovens logo identificaramo a tentativa de enganá-los e passaram a focar sua energia em protestos contra a Globo.
O povo, influenciado ou não pela mídia, pode até querer prender os “mensaleiros”, e é justo que o queira, pois tem confiança no trabalho e na seridade de nossos juízes. Mas nunca fez disso um cavalo de batalha, como quiseram fazer crer alguns próceres da mídia.
O Brasil está sim impaciente para acabar com a impunidade e combater severamente a corrupção. Mas os brasileiros com um mínimo de ilustração sabem que nada justifica flexibilizar direitos dos réus, condenando-os com base em teorias e não em provas. Ou mesmo contra as provas.
As doações à Delúbio superaram em R$ 600 mil o valor da multa que precisava pagar. Esse montante será repassado à Dirceu, cuja multa agora foi calculada em quase 1 milhão. Mas que ele não terá problema em pagar, também com a ajuda de internautas que viram excessos no julgamento.
O sucesso das vaquinhas para arrecadar fundos para os “mensaleiros” petistas pagarem suas dívidas demonstra não só a emergência do sentimento de solidariedade de internautas comprometidos com determinadas bandeiras políticas.
Revela também disposição para o enfrentamento. 
*Tijolaço

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