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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 15, 2015

Greve dos professores estaduais completa 1 mês sem proposta de Alckmin


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Greve dos professores estaduais completa 1 mês sem proposta de Alckmin

Mesmo depois de 30 dias de paralisação e com adesão de 75% da categoria ao movimento, governador Geraldo Alckmin não apresentou nenhuma proposta aos professores da rede estadual de ensino. Confira a entrevista com a presidenta do sindicato, Bebel Noronha. “Esse governo está caminhando na linha do autoritarismo”, diz
Por Ivan Longo 
Se a greve dos professores da rede estadual de ensino de São Paulo é uma “novela”, como definiu o governador Geraldo Alckmin (PSDB), essa trama parece estar longe de acabar e deve ter ainda mais uns bons capítulos. Paralisada desde o último dia 13 de março, a categoria completa nesta segunda-feira (13) um mês de braços cruzados, passeatas e assembleias sem receber sequer um sinal positivo por parte do governo.
Passeata de professores toma a avenida Paulista após assembleia no mês passado. (Foto: Jornalistas Livres)
Passeata de professores toma a avenida Paulista após assembleia no mês passado. (Foto: Jornalistas Livres)
A última assembleia promovida pelo sindicato (Apeoesp), na sexta-feira (10), reuniu mais de 60 milpessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Uma comissão, inclusive, foi formada para fazer o diálogo com Alckmin mas, mesmo se tratando de um número tão expressivo de pessoas e de uma categoria de tanto peso, o governador não os recebeu.
“Estamos bravos!”, afirmou a presidenta do sindicato, Maria Izabel de Azevedo Noronha, diante da recorrente tentativa de Alckmin de minimizar a mobilização que, segundo ela, já paralisa 75% da categoria.
A primeira pauta na lista de reivindicações dos professores é o reajuste de 75,33% no salário (conforme prevê a meta 17 do Plano Nacional de Educação). De acordo com a professora Bebel – como é conhecida a presidenta do sindicato – a categoria vem tendo perda salarial desde 1998. 
Além da questão financeira, os professores pedem o fim das salas de aula superlotadas (a média hoje é de cem alunos por classe) e outras pautas, como o fim da violência e do assédio moral para com os trabalhadores.
Bebel conta, por exemplo, que professores são constantemente assediados por uma lógica completamente autoritária. Alguns, inclusive, já receberam represálias simplesmente por concederem entrevistas. “Esse governo está caminhando na linha do autoritarismo”, disse.
Confira na íntegra a entrevista com a professora:
SPressoSP – Passado um mês de paralisação, consegue enxergar alguma perspectiva de acordo?
Bebel - Da forma como as coisas vêm acontecendo, acho que não tem jeito. Vamos endurecer. Não voltaremos até ele apresentar uma proposta. Sem proposta, a greve continua. Não adianta apresentar proposta para professores temporários, eles são minorias. Não adianta ele tentar minimizar, tapar o sol com a peneira. Enquanto não negociar haverá greve.
SPressoSP – Alckmin alegou hoje que nos últimos quatro anos houve um reajuste de 45%, acima da inflação que teria sido de 24%. O que vocês têm a dizer em relação a isso?
Bebel - Ele sabe que não é verdade. Quando ele fala em 45% ele está se referindo a gratificações no salário. E quando é incorporada, é incorporada… E daí? É bom para a aposentadoria, mas ela não recupera meu poder de compra.
Essa categoria vem tendo perda salarial desde 1998! Acho que é lamentável o governador, depois de uma assembleia na porta de sua casa, insistir em tapar o sol com a peneira e, pior que isso, fazer conosco o que ele não faz com outras categorias. Seus próprios secretários tiveram aumento de 17% no início do ano e não precisou estudar números. Por que que nós é que temos que pagar o preço?
A professora Bebel durante assembleia no vão livre do Masp. (Foto: Apeoesp)
A professora Bebel durante assembleia no vão livre do Masp. (Foto: Apeoesp)
SPressoSP – Ele disse também que essa é uma greve só de professores temporários…
Bebel - Mentira. Ele sabe que a grande massa não é. Ele quer reduzir o que falando isso? Aí é que ele vai deixar a categoria mais brava. Estamos bravos!
Amanhã temos uma mobilização na Assembleia Legislativa, sexta-feira outra assembleia e passeata. Vamos continuar e endurecer.
SPressoSP – Como vem sendo a adesão da greve? Quantos professores há paralisados?
Bebel - Está ótima! Praticamente todo mundo está parado. Hoje trabalhamos com um índice de 75%. É natural que depois de um mês alguns venham a bater o ponto com medo de perder o mês de salário. Mas ninguém está voltando ao trabalho.
SPressoSP – Há escolas sem aulas por conta da greve?
Bebel - Tem escolas que estão fechadas e tem escolas em que o governo está arrumando professor substituto.
SPressoSP - E em relação às passeatas, vêm gerando o retorno esperado? 
Bebel - Sim, vem crescendo e o intuito é esse, pressionar. Agora, depende da postura do governo. Se é um governo de caráter democrático, ele atende. Se é um governo autoritário, não. Esse governo tá caminhando na linha do autoritarismo. E nós que estamos pagando o preço por ele ter gasto tudo nas eleições.
SPressoSP – E o diálogo com pais e alunos, como está? 
Bebel - Muito intenso. Eles nos apoiam muito. Vão nas escolas e manifestam o seu apoio, comparecem às assembleias e passeatas e dizem que vão esperar a greve acabar.
Foto: Jornalistas Livres
Foto: Jornalistas Livres
SPressoSP – Além da questão salarial, outra demanda da categoria é a questão do assédio contra os professores e da violência. Como é, na prática, esse assédio? 
Bebel - Professores são destratados na sua profissão. Nós avançamos muito na democracia,  mas a escola vive muito autoritarismo. Medidas autoritárias, regulamentos… Você vê, por exemplo, professor que não pode sequer dar uma entrevista. Já teve represália para cima de professor e escola e diretor notificados pelo governo simplesmente por conceder uma entrevista.
A vítima de tudo isso é o ambiente escolar.
SPressoSP – E em relação às condições de trabalho, de ambiente?
Bebel - Você tem que olhar o ambiente hostil que a escola é. É um ambiente que não propõe diálogo. Professor tem que entrar correndo e sair correndo, dar aula em mais de uma escola, muitas vezes em mais de uma rede, até na rede privada.
A superlotação é um dos principais fatores que não permite isso. Às vezes fica até impessoal. Imagina uma sala com cem alunos? Este ano chegamos a uma média de 80 alunos por sala de aula!
Eu, que sou professora de Português, posso ter até 400 alunos e já tenho sala superlotada. Imagina professor de Física e Química, que tem 800, até mil alunos? Como pode falar numa relação direta professor X aluno? Isso tem a ver com uma estrutura própria e a forma como as aulas são distribuídas.
SPressoSP – Quais são os próximos planos do sindicato? 
Bebel - O plano agora é: estamos em greve! Estamos de um lado e o governo está de outro. Cabe a ele apresentar uma proposta. Faremos mais uma assembleia esta semana, sexta-feira (17), às 14h no vão livre do Masp. A greve continua!
Foto de capa: Apeoesp 

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