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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 17, 2010

Capacidade






LULA DESMONTA ARMADILHA


O presidente Lula desmontou mais uma armadilha ao aprovar o reajuste de 7,7% para os aposentados. O governo tinha proposto um índice menor, de 6,14%, mas o Congresso elevou com empenho e voto da oposição. O objetivo da medida estava claro. Levar Lula a vetar o aumento e deixá-lo em má situação com os aposentados.

A oposição queria passar à Lula o ônus do veto para atacá-lo depois. Se ele viesse, os jornais contribuiriam com manchetes o acusando de frustrar os aposentados. Talvez fosse mais uma tentativa de igualá-lo a Fernando Henrique Cardoso, que chamou os aposentados de vagabundos.

Mas Lula aprovou o reajuste de 7,7% contra a vontade da área econômica do governo e desmontou o golpe armado. A oposição não poderia atacá-lo mais, já que defendeu o aumento. Sobrou para a mídia o papel de oposição, já proclamado pela presidente da Associação Nacional dos Jornais, de classificar a decisão de demagogia e fruto de interesses do ano eleitoral.

O que a oposição e a mídia parecem ainda não ter entendido é que Lula é um estrategista. Ele adiou sua decisão ao máximo para estudar a situação e ver como administrá-la. Ao aprovar o aumento, não falou em rombo na Previdência ou impacto nas contas públicas. Disse que os aposentados vão consumir mais e as contas serão reforçadas pelos impostos decorrentes deste consumo.

Outra armadilha aprontada para Lula está na questão dos royalties do petróleo. Os deputados aprovaram uma emenda irresponsável, que em nome de uma distribuição igualitária dos royalties prejudica os estados produtores e sobrecarrega a União, a quem caberia reparar as perdas desses estados.

Mais uma vez, o governo já tinha apresentado uma proposta que distribui os royalties por todos os entes da Federação sem prejudicar os estados produtores. Mas o Congresso ignorou e criou uma nova situação limite. Pior, aproveitou um debate sobre o controle do pré-sal para aprovar uma emenda que não se sustenta nem juridicamente.

Neste caso, Lula poderá até pelo veto sem temores eleitorais, pois não encerrará a questão. Pelo contrário, deverá levar o debate para depois do período eleitoral, quando os interesses imediatos nem sempre preponderam e decisões mais comprometidas com o país têm chances de serem consideradas adequadamente.



do Com texto livre

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