Cordão da Mentira desfila pelas ruas de São Paulo
Abaixo a ditadura, ontem, hoje e sempre!
Composto
por coletivos políticos, grupos de teatro e sambistas, Cordão da
Mentira questionará quem e quais são os interesses que bloqueiam uma
real transformação da sociedade brasileira
Será
realizado neste domingo (1º), em São Paulo, o desfile do Cordão da
Mentira. Composto por coletivos políticos, grupos de teatro e sambistas
de diversos grupos e escolas da capital paulista, o Cordão da Mentira
questionará quem e quais são os interesses que bloqueiam uma real
transformação da sociedade brasileira.
O
desfile ocorrerá no Dia da Mentira e do Golpe Militar de 1964. A
concentração será às 11h30, na frente do Cemitério da Consolação.
Leia, a seguir, o manifesto das entidades que compõem o Cordão da Mentira:
MANIFESTO
“Quando vai acabar a ditadura civil-militar?”
Dizem
que quando uma mentira é repetida exaustivamente, ela se torna
verdade. Dizem também, que é como farsa que o presente repete o
passado. Por isso, vamos "celebrar" a farsa, a mentira e sua repetição
exaustiva.
No
dia da mentira de 1964, ocorreu o golpe que instituiu a ditadura
civil-militar. Dizem que ela acabou. Porém, a maior ilusão da história
brasileira repete-se. A ditadura civil-militar se fortalece no golpe de
Primeiro de abril 1964 e, até hoje, ninguém sabe quando vai acabar! Nós
vamos celebrar.
No dia primeiro de abril, abram alas para o Cordão da Mentira!
Quando
admitimos que os crimes do passado permaneçam impunes, abrimos
precedentes para que eles sejam repetidos no presente. Com a roupagem
indefectível da democracia, da constituição, do direito à livre
manifestação, o Estado continua executando os seus inimigos e calando de
uma forma ou de outra aqueles que pensam e atuam em favor da
tolerância, em favor da utilização dos espaços públicos de maneira
respeitosa e saudável. Em nome da manutenção da produção e do consumo
ostensivo vivemos o estado de exceção como regra e o direito conquistado
de ir às urnas acaba apenas legitimando o que é uma verdadeira licença
para calar, reprimir, matar.
Afinal:
Quando vai acabar o massacre de pobres nas periferias?
Quando os corpos do passado serão encontrados e dignamente reconhecidos em suas lutas?
Quando as armas dos militares deixarão de ser o signo do extermínio?
Até quando o dinheiro de poucos financiará o silêncio de muitos?
Até quando ouviremos o ronco dos Caveirões, Fumanchús e das Kombis genocidas?
Lembremos
Pinheirinho, Eldorado do Carajás, Araguaia e as Ligas Camponesas!
Casos que podem ser vistos como exemplos históricos do nosso tempo para
a compreensão do processo pelo qual o Estado colocou a especulação
imobiliária, a propriedade privada e a lucratividade acima da vida. Nada
pode ser mais valorizado do que a vida. Somente um Estado calcado em
mentiras pode favorecer essa inversão de valores.
Lembremos
Mariguela, Pato N´Água, Herzog e os 492 executados em São Paulo em
Maio de 2006! Personlidades anônimas ou conhecidas exterminadas pelas
práticas autoritárias que resolvem suas contradições à bala.
Hoje,
uma simples Comissão da Verdade - que apenas pretende investigar a
história - levanta os fantasmas do passado, ocultos nas sombras da Lei
de Anistia. Façamos então um Cordão da Mentira! Celebremos com a força
dos batuques a farsa que une presente, passado e futuro.
Vivamos
nossa balela! Enquanto isso, ditadores são julgados e condenados por
seus crimes em terras argentinas, chilenas e uruguaias. Falemos outra
língua: a gramática do engodo com o sotaque do esquecimento. Entremos na
contramão da História!
Risquemos
da memória que alguém pagou pra ver até o bico espumar no choque agudo
das genitálias! Exaltemos os gozos pervertidos de empresas e seus
braços armados, irmãos de sangue do torturado. Lembremos as mãos limpas
que aplaudem as sessões de sofrimento. Pois o que vale é a fábula da
tradição, assassina de famílias, com a maior propriedade!
Povoemos
os porões do imaginário, com tudo aquilo que a ditadura encarcerou na
sua cultura! Levemos pra lá o samba dos cordões, as imagens censuradas,
as bocas amordaçadas. Fantasiemos as ruas com seus símbolos de
opressão! Enganemos a todos com as farsas de nossa História!
Neste Primeiro de Abril, façamos a Mentira responder: Quando vai acabar a ditadura civil-militar?
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Grupos que apoiam o Cordão:
- Bloco Carnavalesco João Capota Na Alves
- Buraco d'Oráculo
- Cia. Estável de Teatro
- Coletivo Dolores Boca Aberta
- Coletivo Merlino
- Coletivo Os Aparecidos Políticos
- Coletivo Político Quem
- Coletivo Zagaia
- Comboio
- Comitê Paulista de Verdade Memória e Justiça
- Engenho Teatral
- Estudo de Cena
- Grupo Folias
- Grupo Tortura Nunca Mais/SP
- Kiwi Companhia de Teatro
- Luta Popular
- Mães de Maio
- Ocupa Sampa
- Projeto Nosso Samba de Osasco
- Rua do Samba Paulista
- Samba Autêntico
- Sarau do Binho
- Sarau da Vila Fundão
- Tanq_ ROSA Choq_
- Tribunal Popular
*Cappacete
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