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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 05, 2013

ASSASSINO CONFESSO, PIMENTA NEVES NÃO PASSOU NEM 3 ANOS TRANCAFIADO


O jornalista homicida Antonio Marcos Pimenta Neves acabou não ficando sob prisão fechada nem três anos, dos 19 a que foi condenado: tendo a pena sido reduzida para 14 anos e 10 meses, bastou ele cumprir a sexta parte para que lhe concedessem o direito de passar o dia fora e só dormir no presídio (regime semiaberto). 

A jornalista Sandra Gomides tinha 32 anos quando ele a assassinou. 

É razoável supor-se que ela pudesse viver, digamos, mais uns 45. A conta não fecha. 

A Justiça é que deveria fechar suas portas... por estuprar a democracia, ao conceder tratamento tão diferenciado aos ricos. 

Todos sabem que sou muito compassivo e detesto ver seres humanos enjaulados. 

Nem animais merecem o cativeiro. 

Mas, nunca engoli os detalhes deste crime, começando pelo fato de que Pimenta Neves muniu-se de uma arma para ir ao encontro da antiga amante. 

Queria convencê-la a reatar a relação. 

E, antecipadamente, sentenciou-a à morte, caso não cedesse. 

Não consigo nem imaginar um homem com estômago para balear uma mulher pelas costas, abaixar-se e, indiferente à sua agonia, encostar-lhe o revólver no ouvido e disparar de novo. É covardia demais. É frieza demais. É arrogância demais. 

Como os monarcas medievais, encarou uma rejeição amorosa como um crime de lesa-majestade. 

E, pior até que a rainha de copas da obra-prima de Lewis Carroll, não ordenou "cortem-lhe a cabeça!". Incumbiu-se ele mesmo de a cortar. 

Sou de um tempo no qual homem de verdade, quando traído, não acertava as contas com a mulher, mas sim com o rival. 

Ia decidido a matar e disposto a morrer. Como nas touradas, por mais que repudiássemos a violência primitiva, tínhamos de admitir que seu praticante assumia considerável risco. 

Nem isto se pode ressalvar no ato de Pimenta Neves. 

A coitada da Sandra Gomide não tinha como revidar, nem mesmo como se defender. 

Foi abatida qual animal no matadouro.

Torço para que a justiça divina exista mesmo e essa regalia imerecida nada lhe traga de bom.

do Blog Náufrago da Utopia

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