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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Snowden confirma entrevista a blogueiros


Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

O homem-bomba do serviço secreto norte-americano, o homem que revelou ao mundo que os EUA espionam até celulares pessoais de presidentes de nações amigas, que devassava os computadores da nossa Petrobrás à procura de informações vitais à economia brasileira, aceitou dar uma entrevista a blogueiros, tuiteiros e ativistas digitais do Brasil.


E não é para qualquer blogueiro (o que incluiria Noblat e Reinaldo Azevedo), mas para o campo de esquerda, progressista, que foi quem construiu a entrevista. A abordagem foi feita através do jornalista Glenn Greenwald, que vive no Rio de Janeiro, que encaminhará as nossas perguntas.

Você também pode participar, comentando no seguinte espaço, criado por um amigo, Adriano Ribeiro, um baiano residente em Porto Alegre:http://www.noticiasdablogosfera.com.br/

A decisão de Snowden e Glenn Greenwald nasceu da constatação de que um indivíduo como Snowden não pode se comunicar com a sociedade brasileira apenas via Rede Globo, uma empresa que é praticamente um braço dos interesses norte-americanos no país, que se consolidou aqui com dinheiro norte-americano e que recebeu milhões de dólares para dar o golpe de Estado pró-americano de 1964.

Snowden está hoje asilado na Rússia. Recentemente ele deu declarações de que gostaria de receber asilo permanente na Alemanha ou no Brasil. Por se tratar de uma operação diplomática de alto risco político, é importante que o assunto seja discutido de forma ampla e transparente pela sociedade brasileira. Há o risco ainda, natural, de que uma ação desse tipo, por causa de suas fortes implicações políticas, possa ser usada eleitoralmente pela oposição, com vistas a desgastar a presidente. O que seria irônico e cínico ao mesmo tempo, visto que seus adversários estão posicionados à direita do espectro ideológico e, portanto, mais próximos dos Estados Unidos.

Em caso de vitória da oposição, Snowden, se estivesse no Brasil, sofreria risco de ser deportado para os EUA, com a colaboração – covarde, como sempre – do Supremo Tribunal Federal. Nosso STF, se pensarmos bem, é historicamente covarde. Aceitou a deportação de Olga Prestes, aceitou o golpe de Estado, e agora aceitou o golpe midiático do mensalão.

De qualquer forma, é sempre um prazer falar com alguém tão corajoso e idealista como Edward Snowden, um homem à frente de seu tempo porque pensou antes na humanidade do que em sua segurança pessoal. Vamos ouvir o que ele tem a dizer!

***

Esta semana, eu me encontrei com David Miranda, parceiro de Greenwald, num café do Leblon, e trocamos ideias sobre a sua campanha para dar asilo a Snowden no país. Procurei lhe dar um panorama político da situação e alguns conselhos. Miranda vem construindo uma rede de articulações, inclusive internacionais, para ajudar Snowden não apenas a se manter em segurança, mas para ganhar mais liberdade para participar dos debates sobre privacidade, vigilância e a suposta guerra contra o terrorismo.

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