Uma mulher verdadeiramente mulher na luta pela justiça
Querida aluna Lázara Polyane
Solidarizo-me profundamente contigo, minha querida amiga, em face de teu
sofrimento. Certamente não fraquejarás e continuarás teu sonho de ser
mãe, estudante, trabalhadora e mulher de fibra.
Compartilho contigo abaixo a entrevista da Deputada Manuela D’Ávila. Vale a pena conferir.
Tenho a honra de conhecer pessoalmente a Manuela e tê-la como minha amiga no Facebook e no Twitter.
Testemunho-te que se trata de uma mulher maravilhosa em todos os
sentidos. É uma jovem política extremamente apaixonada pelo povo e pela
luta pelos direitos das mulheres. Tudo o que ela diz na entrevista
abaixo é pura verdade. Sem nenhuma demagogia.
Como deputada mais votada no Rio Grande do Sul e como candidata a
prefeita em segundo lugar nas últimas eleições de Porto Alegre a Manuela
é pessoa extremamente simples e humilde.
Conversei com ela algumas vezes, na última vez que nos vimos foi em 2009
na Câmara de Vereadores em Caxias do Sul quando compareci para
prestigiar o congresso municipal de seu partido. Fiz parte da mesa dos
trabalhos e estive ao seu lado. Contou-me que estava extremamente
cansada e sem dormir há várias noites. Iria para o hotel onde se
hospedava para tirar uma soneca, disse rindo. Estava extenuada por sua
dedicação ao povo, aos jovens e às mulheres.
Sei, Lázara, que o campo partidário e parlamentar é lugar onde muitos
canalhas atuam. Porém, não é justo fazermos confusão: há muita gente
digna e apaixonada pelo povo. A Manuela é uma dessas parlamentares e
militantes.
Ela voltará para o RS e lá disputará uma vaga para a Assembleia
Legislativa. Certamente rebentará eleitoralmente. Torço por isso. O povo
precisa de pessoas como a deputada Manuela, digna e comprometida em
qualquer cargo que exercer.
Torço também para que a jovem e bela mulher Manuela nunca se canse de
ser militante justa e aguerrida. Não se canse da ingratidão e da
ignorância do senso comum que não reconhece a vida e o serviço
consagrado de quem se dedica à missão pública.
A indignação da deputada contra o machismo e achincalhamento das
mulheres é convidativa à reflexão de tod@s, de homens e mulheres.
Peço-te que leias a entrevista e a compartilhes juntamente com o link
deste blog, que é parte de uma luta que fazemos por relações justas
entre as pessoas. Sei que essa entrevista te confortará e esclarecerá.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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“Não quero ser um novo homem. Não foi pra isso que lutei”, diz Manuela
ÚNICA MULHER A LIDERAR A BANCADA DE UM PARTIDO EM BRASÍLIA, ELA FOI A
VEREADORA MAIS JOVEM DA HISTÓRIA DE PORTO ALEGRE E A DEPUTADA FEDERAL
MAIS VOTADA DO RIO GRANDE DO SUL. ÀS VÉSPERAS DE COMPLETAR UMA DÉCADA DE
VIDA PÚBLICA E DE SE DESPEDIR DO CONGRESSO, MANUELA D'ÁVILA AINDA SOFRE
COM O PRECONCEITO.
No mês passado, um deles a acusou de não pensar com a cabeça, mas com o
coração, numa tentativa de constrangê-la pelo antigo namoro com o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Aqui, ela fala porque não
aceita esse tipo de machismo, da paixão pelo novo marido e da decisão de
deixar a capital federal
Em entrevista num café de Porto Alegre, ela relembrou a infância meio
nômade, quando a mãe, juíza, tinha que se mudar com frequência. Falou da
força que tirou dessa casa matriarcal, com três irmãs e um irmão, e
relembrou o embate na Câmara de que se despede agora.
Marie Claire: Por que a reação tão inflamada ao comentário do deputado Duarte Nogueira?
Manuela D`Ávila: Aquilo acionou meu dispositivo da defesa mais profundo,
que tem a ver com minha trajetória [de luta contra o machismo]. Não
posso deixar que coloquem em xeque meus nove anos de vida pública ou
meus quinze de militância política. Fiquei indignada de ouvir aquilo,
como se eu tivesse que provar alguma coisa para alguém. Os homens não
têm que provar o que eles são. Já nós, mulheres, temos que fazer isso o
tempo todo, mesmo quando não estamos a fim. É cansativo. Dá vontade de
ir embora. Mas estou na política porque quero mudar o mundo. Tem
mulheres que apanham por causa desse tipo de pensamento. O filho escuta e
acha que as mulheres não valem nada. Temos uma sociedade doente, que
ainda extermina mulheres. O que meu colega fez comigo não foi bater numa
mulher, é evidente. Mas também não foi só uma piadinha infeliz. Foi o
máximo de machismo que alguém pode cometer com uma igual num ambiente de
trabalho.
MC: O machismo em Brasília diminuiu desde que você chegou ao Congresso?
MD: A gente tem uma presidenta da república e várias ministras mulheres.
Na prática e na marra, as coisas melhoraram. Mas eu ainda sou a única
líder mulher de um partido. Brasília é um espaço de homem.
MC: Isso dificultou sua vida?
MD: Semana passada [a do debate com o deputado Duarte Nogueira] foi
muito difícil. Ouvi de algumas pessoas: “Ah, mas o vídeo tem mais de 100
mil views”. Preferia que ele não existisse! Aquilo não é uma novela.
Sou eu quem estava lá! Não estou em Brasília para ser vítima de
machismo. Deletaria todos aqueles views para não sentir aquilo de novo.
Já me emocionei por coisas boas como a devolução dos mandatos comunistas
que foram cassados pela ditadura de 1948. Mas não me lembro de ter
ficado tão emocionada por uma coisa ruim como essa.
MC: O episódio do Duarte Nogueira foi o pior insulto que já recebeu no trabalho?
MD: Não sei... Já fizeram muitas matérias me chamando de musa da Câmara.
Era uma forma de me menosprezar. Essa é a mais recente, apenas.
MC: Por que o namoro com o Zé Eduardo sempre volta à tona?
MD: Porque ele era o protagonista do episódio [Cardozo foi à Câmara
falar sobre sua conduta na investigação do cartel da Siemens. Ele é
acusado de iniciar uma investigação tendenciosa e vazar informações à
imprensa para prejudicar o PSDB]. Todo o tempo em que eu estava
discutindo política, ele [o deputado Duarte Nogueira (PSDB/SP)] pensava:
“Ah, ela está discutindo política aqui porque namorou o ministro”. Na
cabeça dele, só posso fazer política porque namorei um ministro.
MC: Algumas feministas confundem gentileza com machismo, proibindo, por exemplo, que lhe abram a porta do carro. Você é assim?
MD: Não gosto de dogmas, eles são burros. Deixo que abram a porta, sim.
Eu também abro a porta pra uma galera. Mas sou meio militante da divisão
de despesas. Isso é típico da mulher independente da minha geração:
divido 100% das despesas, faço tudo na ponta do lápis. Divido tudo no
casamento, com amigos, irmãos...
MC: Acha que o aplicativo Lulu, no qual as mulheres dão notas aos homens, é revanchismo?
MD: Não revanchismo, mas sinal de uma liberação que gera um igual no que
há de pior. Eu não lutei pra sentar na mesa do bar e me orgulhar de que
eu tenho outros quatro homens. Sempre achei horroroso ver um cara se
gabar porque coleciona ou engana mulheres.
MC: Estamos perto de ter um deputado homem que coloque o aborto na pauta?
MD: O Jean [Wyllys] põe. Os homens da nossa bancada colocam.Mas não, não estamos perto.
MC: Então ainda é um papel das mulheres. Na sua opinião, por que o aborto tem que deixar de ser crime?
MD: Porque a ilegalidade do aborto mata milhares de mulheres no Brasil e
as coloca na ilegalidade. Coloca as mulheres como criminosas.
MC: Por que não quer mais ficar em Brasília?
MD: Passei por uma reflexão pessoal: quero voltar a viver na minha
cidade, que é Porto Alegre. Quero estar mais próxima dos movimentos
sociais. Alguns dizem ‘Ah, boba, tu é a mais votada’. Mas não quero
acumular poder, poder, poder. Posso morar na minha cidade? Posso ser
mais feliz com meu marido? Há 10 anos eu viajo um monte e agora não
quero mais. É crime eu querer ser mais feliz e também fazer política?
Acho que dá pra conciliar.
MC: Qual foi o momento mais difícil da sua vida pública?
MD: É difícil fazer campanha doente, estar na rua sem dormir, triste,
sem vontade. Mas o dia mais difícil da minha vida pública foi quando um
cara disse que não votaria em mim porque eu estava em Porto Alegre num
dia de semana. Eu tinha viajado para enterrar a minha avó, que tinha
acabado de morrer. Isso me quebrou por dentro. Foi quando vi que as
pessoas não estão nem aí pra ti na vida pública.
Fonte: Marie Claire
* Blog Justiceira de Esquerda
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