A oposição brasileira é rústica como oposição, não está preparada para governar.
Wanderley: Apresentadores e suas caras de fralda de bebê
Pelo
andar da carruagem é de se esperar escândalos informando que o
desemprego na tarde de quarta feira passada foi o maior já registrado em
tardes de quartas-feiras de anos bissextos. Ao anunciá-los os
apresentadores de noticiários televisivos farão cara de fralda de bebê,
suja.
Oposição: procura-se
A
crítica competente é fundamental para o desempenho de qualquer governo.
Quanto a isso, estamos à míngua. A oposição brasileira é rústica como
oposição.
Por Wanderley Guilherme dos Santos, na Carta Maior.
Se depender da oposição o País não vai andar. A infantilidade de seus
protestos explica o agônico socorro que está pedindo à descabelada
desordem urbana. De seu próprio ventre, nada. Criticar a autoridade
fiscal, por exemplo, por ter usado tributos e dotações dos leilões para
fechar as contas equivale a desancar o quitandeiro porque equilibra o
livro-caixa recebendo o que lhe devem. É curial que o governo troca
tributação por serviços, administração e projetos. Lá uma vez ou outra
parte dos impostos se transforma em subsídios diretos e indiretos ao
consumo e às despesas dos grupos vulneráveis. Chama-se redistribuição de
renda e vem ocorrendo há pouco mais de dez anos no Brasil. É isso que
provoca espuma na garganta oposicionista e a faz perder o senso de
ridículo.
Nenhuma oposição que se preze tenta condenar um governo por fazer uma
parada técnica voltando de longa viagem. Aliás, nem mesmo se fosse para
simples recuperação física, independente de considerações meteorológicas
ou de segurança de vôo. Pois este foi um dos brados de guerra, sem eco,
da semana oposicionista.
Desdobrar desembolsos no tempo é uma espécie de versão macroeconômica da
compra a crédito, o uso calculado da renda e do gasto futuros. A dívida
das pessoas deve ser compatível com a proporção comprometida da renda
esperada face ao dispêndio incompressível que virá a ter. Trata-se de
uma questão de ser ou não leviano em relação à própria economia. E é
preciso muita leviandade para que eventuais desmandos, ou desvairada
presunção, conduzam à falência. Desde a redemocratização de 1945 foram
necessárias décadas dos mais variados governos, inclusive ditatoriais,
até que os livrescos sábios do PSDB conseguissem a proeza de quebrar a
economia brasileira três vezes em não mais do que oito anos.
Quando as mesmas vozes do passado esgoelam-se em advertências sobre a
dívida pública, bruta ou como proporção do produto interno, com que
diabos de autoridade pensam estar falando? Não possuem nenhuma
imaginação ou criatividade e o bolor das receitas sugeridas tem um só
resultado, se aviadas: desemprego. Existe uma crônica morbidez no
pensamento conservador que o faz recuar diante da saúde e saudar os
sintomas patológicos de vida social. Talvez por isso aplauda a
proliferação dos micróbios (pequenos grupos de desordeiros, em geral),
sem se dar conta de que estes são a hiperbólica evidência do fracasso
oposicionista, ele mesmo.
Mas a pantomima máxima revela-se na busca de recordes. Os furos pelos
quais compete a grande imprensa foram transferidos das páginas de
esportes e da previsão do tempo para as manchetes, mas com significados
distintos.
Excepcionais desempenhos em natação, maratona e salto a distância
refletem o aprimoramento físico da espécie, o apuro no treino e a
perseverança nos treinos. Já os indicadores de temperatura nos explicam o
bem estar ou seu contrário em condições de exacerbado calor ou frio.
Por isso comparam números de hoje com os de ontem ou de há dez anos
conforme o caso. Mas as manchetes das primeiras páginas são pândegas.
Títulos chamativos advertem que aumentou a ameaça inflacionária enquanto
o texto explica que houve uma variação para mais no quarto dígito
depois da vírgula, algo que não acontecia há dezoito, vinte e três ou
não sei lá quantas semanas. Ou seja, o furo jornalístico não quer dizer
absolutamente nada.
Pelo andar da carruagem é de se esperar escândalos informando que o
desemprego na tarde de quarta feira passada foi o maior já registrado em
tardes de quartas-feiras de anos bissextos. Ao anunciá-los os
apresentadores de noticiários televisivos farão cara de fralda de bebê,
suja.
Enquanto o País muda a pele, subverte rotinas, enfrenta e experimenta
uma realidade inédita – a liquidação da miséria extrema – e veloz
reestruturação de seus contingentes sociais, o reduto oposicionista
balbucia indignações esfarrapadas. E a crítica competente é fundamental
para o desempenho de qualquer governo. Quanto a isso, estamos à míngua. A
oposição brasileira é rústica como oposição, não está preparada para
governar.
*GrupoBeatrice
Nenhum comentário:
Postar um comentário