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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 07, 2014

Até quando vão torturar Genoino?


Que justiça é essa?

Para ver quanto é absurdo o que estão fazendo com Genoino, basta atentar para o seguinte.

A Globo deve cerca de 1 bilhão de reais – comprovadamente – por conta de uma trapaça fiscal na compra dos direitos da Copa de 2002.

E ninguém cobra – embora tudo esteja documentado.

Os três irmãos Marinhos, como mostra a revista americana de negócios Forbes, são donos, juntos, da maior fortuna do país, superior a 50 bilhões de reais.

Mesmo assim, com tanto dinheiro, a Globo não paga o que deve e ninguém cobra.

Genoino, em compensação, acaba de receber da Justiça dez dias para pagar uma dívida de 468 mil reais por ter feito alguma coisa que ninguém sabe o que é, tais e tantas as incoerências do processo do Mensalão.

A retirada mensal dos Marinhos é, certamente, bem superior aos 468 mil reais cobrados de Genoino.

Mas para Genoino é um dinheiro que ele simplesmente não tem.

Seu patrimônio, como sabe a Justiça, consiste de uma casa modesta num bairro classe média de São Paulo, o Butantã.

Contra a Globo, a Justiça é pusilânime.

Contra Genoino, é um leão.

Não bastasse tudo, Genoino convalesce de um problema cardíaco sério. Parece que a cada semana decidem atormentá-lo, como que para testar seu coração combalido.

No final do ano, Joaquim Barbosa, em seu melhor estilo natalino, negou a ele que pudesse ficar em sua casa em São Paulo para cumprir sua prisão domiciliar temporária.

Por quê? JB falou em “interesse público”, mas quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington.

Não bastasse, JB deu a entender que em fevereiro Genoino volta à cadeia. Isso significa que Genoino está enfrentando uma torturante contagem regressiva. Cada hora que passa é uma hora a menos para ele no convívio com os seus.

Insisto: tudo isso sem que haja culpa comprovada. Tudo isso enquanto ninguém dá satisfações sobre meia tonelada de cocaína encontrada num helicóptero de um amigo de Aécio.

Isto é o Brasil que a Globo ajudou tanto a construir: injusto, abjeto, sem nexo. Rigor contra quem está no chão, complacência com os verdadeiramente poderosos.

Querem minha opinião? Lula poderia fazer três ou quatro palestras — o necessário para juntar os 468 mil —   e doar o dinheiro para Genoino. Não porque Lula inventou JB, embora isso também conte, mas porque seria uma solução simples e eficaz para o problema.

Em sua histórica investida contra Catilina, um senador que conspirava para se tornar ditador de Roma, Cícero clamou: “Até quando você vai abusar da nossa paciência?”

Pois é.

Até quando este Brasil iníquo vai abusar da nossa paciência?

Paulo Nogueira No DCM 
*comtextolivre

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