Como a Veja se tornou uma olavete
Os discípulos tomaram a Veja |
Bandeira de Mello fez uma das melhores definições de 2013, pela brevidade e pela acurácia: Joaquim Barbosa é um homem mau.
Poderia estar na lápide de Barbosa: “Foi um homem mau”. Seria justo.
Finalmente Joaquim Barbosa e a justiça se encontrariam, e juntos
permaneceriam per omnia seculae seculorum.
Existem coisas na mídia para as quais a definição de Bandeira de Mello sobre JB se aplicam perfeitamente.
São muitas, aliás. Mas nenhuma marca se equipara hoje, em maldade, à
revista Veja. Sua alma é má. Os defeitos são inumeráveis, e as virtudes
simplesmente desapareceram.
Se alguém acredita no céu ou no inferno das revistas, a Veja vai rumar
direto para os braços de Lúcifer. É uma revista canalha. Já que falamos
de lápides, poderia estar escrito isso na da Veja: “Foi uma revista
canalha”.
Nos dias de hoje, a canalhice se traduz em coisas como a caça impiedosa, assassina e abjeta a Dirceu.
No último almoço de final de ano da Abril em que Roberto Civita estava
vivo, um grupo de editores da Veja ria e vibrava, com o sadismo do
celerado, com a perspectiva de ver Dirceu preso.
Ninguém estava ali discutindo como esticar a vida de uma revista que
vende cada vez menos e capta cada vez menos anúncios na Era Digital,
por razões óbvias.
Não, os cérebros estavam concentrados em antecipar o sofrimento de Zé
Dirceu, e se regozijar com isso como era comum com oficiais nazistas nos
fornos dos campos de concentração: a alegria na miséria alheia.
Onde a Veja se perdeu?
Ela não foi sempre esse horror, essa escória. Trabalhei lá em boa parte
dos anos 1980, e era uma revista admirada pelos brasileiros.
Conservadora, mas digna como é, por exemplo, a Economist.
Você pode fazer jornal ou revista de direita sem descer à ignomínia abissal. Você pode ser de direita sem ser um predador.
Burke, o grande liberal inglês, é uma pequena mostra disso. Num de seus
grandes ensaios, Burke reprova a Revolução Francesa pela cavalheiresca
razão de que homem nenhum acudiu Maria Antonieta quando o povo
revoltoso a insultou em Versalhes.
Mas a Veja enveredou pelo direitismo predador. Não é Burke que a
governa em seu conservadorismo, como acontece com a Economist. É Olavo
de Carvalho, o mistificador que se autoproclamou filósofo depois de ler
os astros como astrólogo.
A Veja é hoje uma olavete.
A presença de Olavo de Carvalho é visível a 10 mil quilômetros. Basta
ver as contratações feitas nos últimos meses. Dois discípulos
entusiasmados de Olavo de Carvalho foram incorporados aos quadros da
revista: Rodrigo Constantino, o ‘reaça-econômico’, e Felipe Moura
Brasil, o ‘reaça-engraçado’.
Isso para não falar em Lobão, o ‘reaça-iconoclasta’, outra aquisição
recente da revista que repete bobagens de Olavo de Carvalho como se
estivesse citando Platão.
Olavo de Carvalho ocupou a Veja. Por que não contratá-lo diretamente, em vez de povoar a revista com seguidores pedestres?
Por covardia.
A revista não quer correr o risco de colocar Olavo de Carvalho em
pessoa em suas páginas, por ser um nome universalmente abominado e
desprezado fora de um pequeno círculo de extrema direita – aquele para o
qual a Veja fala hoje.
A Veja 2013 é uma olavete.
Repito: é uma olavete. E da pior espécie: a olavete envergonhada e covarde.
Paulo Nogueira No DCM
*comtextolivre
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