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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 08, 2014

Cubana Ramona é arma tucana para não perder SP


 


 

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A deserção da médica Ramona Rodríguez é bem mais complexa do que a história de uma cubana que gostaria de visitar um namorado em Miami; nos próximos meses, ela será peça central de uma estratégia para questionar o programa Mais Médicos e até inviabilizá-lo, o que pode minar as chances de Alexandre Padilha contra Geraldo Alckmin em São Paulo e também atingir um dos principais programas do governo federal; Merval Pereira e Eliane Cantanhêde já demonstram estar prontos para a batalha
247 - Ramona Rodríguez é hoje apenas uma desertora entre mais de 6 mil médicos que atuam no âmbito do Programa Mais Médicos. Mas será uma das principais armas da oposição ao governo federal para preservar sua maior trincheira: o governo do estado de São Paulo, comandado por Geraldo Alckmin, do PSDB.

Lida inicialmente como a história de uma médica que pretendia visitar seu namorado em Miami, a história de Ramona Rodríguez é mais complexa. Instrumentalizada por grupos políticos, ela deverá se converter na principal peça de uma estratégia que poderá até inviabilizar o programa Mais Médicos.
O resultado prático disso seria o enfraquecimento da candidatura de Alexandre Padilha, do PT, em São Paulo, e abalos até na imagem da presidente Dilma Rousseff.

A senha foi dada por dois dos principais colunistas da mídia familiar, nesta sexta-feira. Em artigo no Globo, chamado "Mais Médicos na berlinda", Merval Pereira chega a levantar a suspeita de que parte dos salários dos profissionais de Cuba seria desviada para o caixa dois do PT nas eleições de 2014 e defende a investigação dos contratos de trabalho. Eis um trecho:



"O contrato dos médicos cubanos, sabe-se agora, é intermediado por uma tal de "Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Cubanos", o que deveria ser investigado, pois não se sabe para onde vai o dinheiro arrecadado.
Há desconfiança na oposição de que parte desse dinheiro volta para os cofres petistas, o que seria uma maneira de financiar um caixa dois para as eleições.
O Ministério Público do Trabalho, que não tivera até o momento acesso aos contratos firmados pelo governo brasileiro e a tal "Sociedade Mercantil", o que é espantoso, a partir do depoimento da médica cubana decidiu cobrar do governo que mude a relação de trabalho com os médicos cubanos, obrigando a que seja igual à de outros médicos estrangeiros, que ficam integralmente com os R$ 10 mil pagos pelo governo brasileiro."

Na Folha de S. Paulo, quem se apresentou para a batalha foi Eliane Cantanhêde, na coluna "Era questão de tempo". Embora reconheça a instrumentalização de Ramona pela oposição, ela defende a investigação dos contratos de trabalho:

"Não deu outra. É óbvio que a médica Ramona Rodriguez está se usando e sendo usada politicamente: foi acolhida pelo oposicionista DEM e está sendo contratada por associação radicalmente contrária ao Mais Médicos. Mas ainda não é óbvio é se ela é um caso isolado ou se vai gerar uma enxurrada de processos na Justiça.
Elementos para isso não faltam, como juristas ilustres já alertavam desde o início. Como um médico cubano pode embolsar dez vezes menos que colegas venezuelanos, colombianos ou portugueses, ali nos municípios vizinhos, pelo mesmo trabalho, as mesmas horas e o mesmo contratante? Se não for ilegal, é no mínimo imoral."


O alarme disparado por Merval e Eliane já foi ouvido pelo Ministério Público do Trabalho, onde o procurador Sebastião Caixeta deu razão aos argumentos de Ramona e passou a defender que os médicos cubanos recebam o valor integral de R$ 10 mil. “Estamos concluindo no inquérito que há, de fato, problemas no programa Mais Médicos. Há um desvirtuamento na relação de trabalho dos profissionais. Todos foram recrutados para o que seria um curso de pós-graduação e especialização nas modalidades ensino, pesquisa e extensão. E não é isso que nós vimos. Há uma relação de trabalho e o que eles recebem é salário e não uma bolsa”, disse ele.
Se a tese de Caixeta vingar, o programa irá por água abaixo. Especialmente porque Cuba é o único país do mundo em condições de oferecer profissionais de saúde em grande quantidade, mas em contratos de trabalho submetidos a uma outra lógica. Para entender o caso, leia o artigo "O que você precisa saber sobre médicos cubanos", de Hélio Doyle.
*saraiva

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