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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Ribeirão das Neves e a privatização dos presídios


O CPPP de Ribeirão das Neves (Foto: Brasil de Fato)

Por Cléber Sérgio de Seixas

O Brasil possui a 4ª maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para a Rússia, a China e os EUA. São cerca de 580 mil presos, enquanto há apenas 300 mil vagas, o que leva a uma superlotação de aproximadamente 280 mil pessoas.

Os recentes e trágicos episódios ocorridos dentro e fora do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, São Luís (MA), trouxeram novamente à baila a ineficiência do modelo prisional brasileiro. Trata-se, sem dúvida, de um sistema falido, que ao invés de recuperar o detento, devolve-o à sociedade pior do que quando ingressou no cárcere. Há quem defenda um sistema correcional o mais animalesco possível para purgar os presos de todos os seus males. Considerando isto, algumas observações se fazem necessárias.

“Marginal tem que sofrer”, “bandido bom é bandido morto”, “direitos humanos são para humanos direitos”, são frases ditas pelos mais afoitos. Uma discussão a respeito de direitos humanos também deveria por em relevo os daqueles que estão fora das grades, ou seja, o direito dos cidadãos de receber de volta ao seio societário um ser humano recuperado, não uma besta-fera disposta a cometer crimes piores do que aqueles que motivaram seu encarceramento. Em outras palavras, o desrespeito aos direitos humanos dos encarcerados redundará na devolução à sociedade de um indivíduo que não hesitará em desrespeitar os direitos humanos alheios. O ódio que for gestado no detento durante o período de “ressocialização” será levado para além dos muros da prisão quando do retorno ao convívio social. Tudo o que de ruim se aprender dentro das grades será posto em prática nas ruas. Deve-se considerar, também, que a privação de liberdade é uma das piores punições a que se pode submeter um ser humano. 

Outro aspecto a ser considerado é que a violência desmedida contra detentos pode levá-los a criar mecanismos de defesa paralelos ao arcabouço jurídico-legal, como foi a criação da organização criminosa PCC, para muitos uma resposta ao Massacre do Carandiru.

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